
Sem perspectiva de reaquecimento no curto prazo, comerciantes tentam sobreviver em meio à depressão econômica que assola o país
Daniela Martins
Sobreviver à crise econômica não tem sido tarefa fácil para o brasileiro. Todo dia é uma nova notícia desanimadora. Valor do dólar nas alturas, índice de desemprego batendo recordes, gasolina com aumentos contínuos, o fantasma da volta da CPMF e a crise política servindo como combustível interminável para tudo isso.
“A situação econômica de 2015 foi de recessão forte e 2016 será de continuidade”, sentencia o economista e professor universitário Jeferson de Castro Vieira. Serão ao menos dois anos consecutivos de recessão, com aumento de desemprego, o que leva, reforça o economista, à chamada depressão econômica.
“É uma terra arrasada”, simplifica o empresário Camilo Crisóstomo de Castro, que há 40 anos está no setor de máquinas agrícolas e afirma nunca antes ter vivenciado uma crise tão intensa como a que o país atravessa atualmente.
“2015 foi um ano diferente, tivemos de 35% a 40% de queda nas nossas vendas e estamos procurando sobreviver até a coisa melhorar”, explica o empresário.
E olha que, conforme o presidente da Associação Comercial e Industrial do Estado de Goiás (Acieg), Euclides Barbo Siqueira, o setor de agronegócio é o que tem “segurado Goiás”, quer dizer, teria sido o setor que menos sentiu os efeitos devastadores da crise econômica nacional.
Todavia, como todo bom brasileiro, Camilo mantém a esperança. A tendência para a economia em 2016, segundo sua opinião, “é estacionar e começar a melhorar a partir da ‘terra arrasada’”.
Se a economia vai mal, o comércio não tem como prosperar. Nesse diapasão, o comércio de produtos e serviços foi amplamente atingido pela crise. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam para uma queda de 4,3% nas vendas do varejo no acumulado de 2015. A prática desses números é facilmente percebida pelo goianiense. Por toda cidade, há placas e mais placas de lojas fechadas e imóveis para alugar. Até mesmo em regiões de comércio forte e tradicional, como o bairro de Campinas, e a Avenida Bernardo Sayão, antigos polos atacadistas da Capital.
Quem não fecha as portas, luta para manter o negócio de pé.
“Tenho procurado gastar menos, cortar meu custo operacional e continuar oferecendo um bom serviço”, comenta o empresário Camilo. Na sua loja não houve demissões, mas aquelas vagas abertas com a saída de alguns funcionários por conta própria também não foram preenchidas.

Crise política empurra economia para baixo
O grande problema que está por trás de toda essa crise é a falta de credibilidade do governo. É o que aponta Euclides Barbo Siqueira, presidente da Acieg.
“Enquanto você não conseguir estruturar uma credibilidade no governo, há uma retração natural dos empresários, que não investem. O medo faz isso”, avalia.
Como consequência, há uma retração generalizada. Com as retrações, esclarece, há demissões; e com as demissões, a crise só vai aumentando, por conta da diminuição do consumo.
“E só vai retroalimentando a crise”, assinala.
É exatamente o que tem ocorrido agora, uma redução no comércio em razão do medo de ambos os lados, tanto do empresário quanto do consumidor.
“Uma coisa que sempre falo: o brasileiro é consumo puro. Se você der um salário pra ele, uma estrutura, ele gosta de consumir. Prova disso é que nos anos de 2004 até 2012, 2013, nós estávamos no auge, o Brasil era a bola da vez, o celeiro do mundo”, defende o presidente da Acieg.
Jeferson Vieira segue uma linha de pensamento semelhante. Para ele, a crise é uma conjuntura de vários fatores.
“O país vinha com crescimento forte, estados e União se endividaram. Veio a crise, e houve baixa na arrecadação de impostos e os governos foram obrigados a fazer ajustes”, pondera o economista. Ao passo que, continua ele, houve a queda na credibilidade política, “um descrédito total nos parlamentares”.
Os especialistas reforçam que há uma série de medidas necessárias à retomada do crescimento econômico do país, mas cuja tramitação não anda no Congresso Nacional. Na lista estão as reformas política e tributária.
UNIÃO
União tem sido a palavra-chave empregada por José Carlos Palma Ribeiro, presidente do Sindicato do Comércio Varejista no Estado de Goiás (Sindilojas-GO), na luta pela retomada do crescimento.
“É hora de nos unirmos e procurar nossas lideranças para pressionar a classe política. Nossos representantes devem nos representar, mas a política hoje virou balcão de negócios”, critica.
Ele reforça que todas as atitiudes que deveriam ser tomadas, os empresários já fizeram: quem tinha de cortar custos, cortou; fez economia de energia; otimizou gastos…
“Aí vieram os aumentos de gasolina, energia e cortaram o fôlego que havíamos ganhado”, protesta.
“Em jogo de futebol, se seu time não está ganhando, você troca o time. Agora, não estamos perdendo uma partida. Estamos perdendo o campeonato”, enfatiza José Carlos.
“Nós temos que mostrar para o governo que nós somos fortes”, reforça Euclides Barbo, da Acieg.

Até julho, momento é de cautela
O presidente da Acieg, Euclides Barbo, acredita que 2016 será um ano de retomada.
“A gente tem que começar a pensar que não podemos ficar desta forma por muito tempo”, considera.
Porém, para ter uma confirmação dessa melhoria só em meados do mês de julho.
“2016 é um ano que vai ser marca, ou positiva ou negativa. Só em julho para sabermos, mas tenho esperança de ser a reviravolta”.
Ele aponta o crescimento dos microempreendedores como algo positivo nascido desse momento de crise. “Esses empreendedores forçados estão tentando sair da crise”, sugere. Segundo o presidente da Acieg, tem diminuído o número de empregos formais, com carteira assinada, por outro lado, muitos brasileiros estão tentando sobreviver. “E estão sobrevivendo. É só ir na Rua 44 (novo centro popular de Goiânia), que você vai ver que o comércio de quarta a domingo é uma loucura. Cada vez estoura mais e mais”, destaca.
No entanto, é preciso ficar de olho na chamada concorrência desleal, gerada pelos informais que não pagam impostos e conseguem vender a preços bem menores que o comércio formal. “É claro que lá existe uma informalidade que precisa ser combatidaa, é aí que o governo tem que atuar”, pondera.
Assim, tudo começa e termina nas mãos dos parlamentares. Mas Euclides também é otimista. Segundo ele, o Congresso já começou a perceber que do jeito que está não pode ficar, “já está tendo um borburinho pra gente tentar fazer algumas mudanças”, considera.