Daniela Martins
A exemplo da trajetória de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), que ganhou fôlego enquanto ministro da Fazenda do governo Itamar Franco (PMDB) e lançou-se nas eleições presidenciais logo em seguida, o goiano Henrique Meirelles pode imprimir seu nome nas urnas no ano que vem.
Antes, o ministro de Michel Temer (PMDB) desconversava quando o assunto entrava em pauta. O máximo de avanço na especulação ocorreu há alguns dias. O PSD, seu partido, lançou-o informalmente como candidato a presidente. Meirelles, porém, evitou admitir qualquer pretensão política.
Agora, em entrevista exclusiva à revista Veja, o goiano da cidade de Anápolis, de 72 anos, que fez carreira internacional como executivo na área bancária, admite que pode, sim, ser candidato à Presidência de República em 2018. E com todas as letras: “Sim, sou presidenciável.”
A confirmação vem uma semana após a Câmara dos Deputados derrubar a segunda denúncia contra Temer. Na entrevista, realizada nesta quarta-feira, 1º, Meirelles recorda 2010, quando era presidente do Banco Central e viu seu nome ser ventilado para a vice-presidência na chapa de Dilma Rousseff (PT). À época, ele dizia, como relembrou à Veja, que “a Presidência era uma questão de oportunidade e destino”.
Em março de 2010, ele teve de decidir e optou por continuar na equipe econômica de Lula. “Agora, terei que tomar uma decisão desse tipo novamente”, avalia, referindo-se a março próximo, quando terá de optar por seguir com Temer ou lançar-se em voo solo.
Ao que parece, sua decisão desta vez pode ser outra. “Acredito que o país vai, de fato, estar bem na situação econômica, mas existem condições políticas e condições eleitorais que precisam ser analisadas. Eleição majoritária no Brasil não é uma questão tão simples”, diz na entrevista à Veja.
Sobre ser considerado ‘peça fundamental no processo eleitoral de 2018’, o ministro é objetivo: “Vejo como um reconhecimento do trabalho que estou fazendo e dos resultados econômicos que estamos colhendo”.
E reforça: “Dificilmente vou fazer alguma coisa baseado no entusiasmo. Tenho consciência de que o importante agora é fazer meu trabalho aqui no Ministério da Fazenda. Fazer um trabalho sério e entregar resultados. O futuro é outra coisa. Vamos aguardar.”
As perspectivas, na visão de Meirelles, são boas. O ministro acredita que, dentro de três a seis meses, a população perceberá a melhora da economia, o que ele chama de “sensação de bem-estar”.
Explica: “Demanda um certo tempo para criar esse clima de entusiasmo. A economia real está crescendo muito mais do que estamos vendo nos jornais. Como a recessão foi muito profunda e a retomada saiu de um ponto muito negativo, apesar de a economia ter começado a reagir de maneira muito forte, a impressão é de que a recuperação da economia é lenta. Mas não é lenta. É rápida.”
Campo favorável. Ponto para Meirelles.
Mas, como em 2018 nomes muito populares estarão na disputa, entre eles o de Lula, a pergunta é inevitável: o maior desafio está no fato de ser pouco conhecido entre o eleitorado?
A resposta à pergunta, feita pelo repórter da revista, é cirúrgica: “O fato de que algumas pessoas já disputaram ou têm, por alguma razão, alta exposição, torna a situação um pouco mais definida. Então, tenho que analisar tudo isso: a situação econômica, que é o ativo, as condições políticas do momento e a minha própria disposição. Afinal, ser candidato a presidente é uma decisão que tem grandes custos – e grandes benefícios – para todos, não só para mim.”
Confira outros pontos do que disse Henrique Meirelles à Veja:
Sobre o PT
“A campanha será pautada na política social. Estou preparado para enfrentar esse discurso populista do PT. Diria até que estou acostumado, pois já tive embates com o PT que eram exatamente iguais quando era presidente do Banco Central no governo Lula.”
“O que resolve a questão social é a criação de emprego. Desemprego elevado, com 13 milhões de pessoas na rua, como o governo anterior deixou, não há política social que resolva. Então, acho que o tema da campanha vai ser por aí, independentemente de quem seja o candidato de centro ou o do PT.”
Sobre o Grupo J&F
“Fiquei sabendo pelos jornais do problema todo [o fato de a J&F ter recorrido a propina para comprar políticos e financiamentos públicos]. Foi uma surpresa. Eles não me contavam isso. No meu contrato, estava dito claramente que eu não participava das operações do grupo. O meu escopo era orientar a criação da plataforma digital do Banco Original.”
Sobre candidaturas de Lula e Bolsonaro
“É um fenômeno natural. A candidatura do Lula não é uma novidade nos últimos 30 anos. O Lula é relevante há muito tempo e é legítima a posição dele. Bolsonaro é o surgimento da direita no Brasil, que cedo ou tarde iria ocorrer. (…) O surpreendente é que Bolsonaro é um ex-militar que defende o regime militar.”
Sobre a vitória de Temer na Câmara
“Eu me lembro que encontrei muitos parlamentares que diziam que votaram a favor do presidente para manter as reformas, manter a equipe econômica, porque o governo tem de continuar, o país está se recuperando. Isso foi relevante. Mas não digo que sou o responsável, porque isso é muito forte. Acho que certamente a melhora da economia foi muito importante.”
Leia mais da entrevista aqui
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Piauí
Henrique Meirelles também ganhou as páginas da revista Piauí, edição de novembro. Sob o título “Um liberal à brasileira”, a jornalista Malu Gaspar traça um perfil do chefe do Banco Central de Lula, executivo de Joesley Batista e ministro da Fazenda de Temer.
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