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Zerar impostos para baixar o preço dos alimentos pode quebrar o produtor brasileiro


Por em 07/03/2025 - 12:29

Foto: Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

O governo federal anunciou recentemente uma medida para reduzir o preço dos alimentos no Brasil: a isenção de impostos para produtos da cesta básica. A decisão, que pode parecer uma solução imediata para aliviar o bolso do consumidor, traz consequências severas para o agronegócio nacional. A longo prazo, a medida tende a incentivar a importação de produtos estrangeiros, colocando os produtores brasileiros em uma posição de desvantagem e ameaçando a sustentabilidade do setor agropecuário.

O Brasil é o terceiro maior produtor de alimentos do mundo e um dos principais exportadores de grãos, carnes e outros produtos agrícolas. O país tem uma capacidade produtiva gigantesca, impulsionada por tecnologia, diversidade climática e vastas áreas cultiváveis. Diante desse cenário, não faz sentido estimular a entrada de produtos importados para reduzir os preços internos. O governo deveria fortalecer a produção nacional em vez de recorrer ao mercado externo como solução.

A isenção de impostos para alimentos importados cria uma concorrência desleal com os produtores brasileiros. Os produtos estrangeiros, muitas vezes subsidiados pelos governos de seus países de origem, chegam ao Brasil com preços artificialmente mais baixos. Além disso, a logística internacional, o acesso a financiamentos baratos e o maior investimento em tecnologia colocam os produtores nacionais em desvantagem.

Enquanto países desenvolvidos investem pesadamente em infraestrutura e inovação no setor agrícola, o Brasil ainda enfrenta desafios como estradas precárias, altos custos de transporte e dificuldades de crédito para pequenos e médios produtores. Sem políticas adequadas para fortalecer a produção interna, o agricultor brasileiro terá dificuldades para competir, podendo levar à falência de muitos produtores e ao encolhimento da atividade agropecuária no país.

A inundação de produtos importados no mercado brasileiro pode gerar um efeito perverso: a redução da produção nacional. Diante da concorrência desigual e da queda nos preços internos, muitos produtores podem se desmotivar ou até abandonar a atividade. Isso impactaria diretamente a oferta interna de alimentos, levando a um cenário em que o Brasil se tornaria cada vez mais dependente de importações para alimentar sua própria população.

Essa dependência externa pode ser perigosa. Em tempos de crises internacionais, variações cambiais ou problemas logísticos globais, a importação pode se tornar inviável ou extremamente cara, trazendo risco à segurança alimentar do país.

Os preços dos alimentos não estão altos porque os produtores brasileiros querem lucrar mais. A verdadeira causa da inflação alimentar está na crise fiscal do país e na política de juros elevados. A alta taxa de juros dificulta o acesso ao crédito para produtores e encarece a produção. Além disso, a desvalorização do real encarece insumos agrícolas e combustíveis, impactando diretamente o custo de produção.

Se o governo quer realmente reduzir o preço dos alimentos, deve focar em medidas estruturais, como investimento em infraestrutura, redução do custo do crédito agrícola e políticas de incentivo à produção, especialmente para pequenos e médios agricultores. Fortalecer o setor produtivo interno é o caminho para garantir alimentos mais baratos e de qualidade para toda a população, sem penalizar aqueles que sustentam a economia agropecuária do país.

O povo brasileiro merece comida acessível, mas isso não pode acontecer às custas da ruína do produtor nacional. A solução está no fortalecimento da produção interna, não na dependência de importações.

Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

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