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Para a juventude de hoje, rebeldia é ser de direita


Por em 12/03/2025 - 11:55

Nasci em 1985, nos últimos anos da ditadura militar. Para a minha geração, a rebeldia estava intimamente ligada à luta por democracia e justiça social. Nos anos 1990 a juventude era motivada a se engajar nos movimentos sociais de esquerda, na busca por um Brasil mais igualitário, com liberdade de expressão e direitos civis para todos. O Brasil daquela época se encontrava ainda preso aos resquícios do autoritarismo, e a rebeldia era, sem dúvida, ser contra esse sistema opressor. O anseio por paz, liberdade e a luta por um país mais justo foram os pilares de nossa juventude.

Em 2002, o Partido dos Trabalhadores (PT) assumiu pela primeira vez a presidência da República, com Luiz Inácio Lula da Silva, e permaneceu no poder por quase 20 anos, passando por um longo ciclo de governos de esquerda. Para as gerações que nasceram na década de 1990, a esquerda no poder foi algo constante. Durante esses anos, a política nacional foi marcada por um protagonismo da esquerda, e muitos jovens passaram a enxergar esse cenário como a norma, o “sistema”. Assim, para muitos da geração mais jovem, ser contra o sistema, ser rebelde, não é mais ser de esquerda. Para eles, ser rebelde é ser de direita.

Historicamente, o Brasil foi governado por elites conservadoras e reacionárias. Desde a colonização, o Império, a República Velha (especialmente a República do Café com Leite) e a Ditadura Militar, a direita e setores conservadores dominaram a política nacional. A ascensão de forças progressistas ao poder foi rara, com exceções como Juscelino Kubitschek, João Goulart, Fernando Henrique Cardoso, Dilma Rousseff e, claro, o próprio Lula, que enfrentaram, de diferentes maneiras, as dificuldades e os desafios de governar um país tão desigual como o Brasil. No entanto, a história brasileira sempre foi marcada pela resistência das camadas populares e da esquerda, que, por sua vez, conseguiram acessar o poder central apenas em momentos específicos e muito contestados.

Com o avanço da era digital, a política no Brasil também passou por uma transformação. As redes sociais se tornaram uma plataforma vital para mobilização, principalmente para os jovens. Nesse novo cenário, surgem figuras como Nikolas Ferreira, Kim Kataguiri e outros líderes da direita jovem, que conquistam cada vez mais visibilidade e apoio popular. Esses novos líderes aproveitam o poder das redes sociais para promover suas ideologias, mobilizar seus seguidores e desafiar a narrativa tradicional da esquerda. Para essa nova geração, ser rebelde significa abraçar as ideias da direita, mesmo diante de um Brasil que, por muito tempo, esteve sob governos conservadores.

É interessante observar como o conceito de rebeldia muda com o tempo e com o contexto político. O que antes era associado à oposição ao regime militar e ao autoritarismo, agora se transforma em uma crítica ao sistema estabelecido pela esquerda, visto por muitos como parte do “status quo”. E assim, ser jovem e de direita passou a ser visto, por uma parcela da juventude, como um ato de resistência, uma forma de se distinguir do sistema que governou o Brasil nas últimas décadas.

Entretanto, independentemente das posições ideológicas adotadas, é fundamental respeitar a diversidade de pensamentos e ideologias que fazem parte de uma democracia. Numa sociedade democrática, há espaço para todos os tipos de pensamento, seja à direita, à esquerda ou no centro. O importante é que a juventude, ao se engajar politicamente, busque entender as complexidades dos problemas brasileiros e se prepare para os grandes desafios da vida pública. Para construir um país mais justo, próspero e igualitário, é essencial que os jovens se envolvam em projetos reais, estruturantes e que, de fato, promovam o bem-estar social. A rebeldia, seja ela de direita ou de esquerda, deve ser uma ferramenta para transformar o país, não para aprofundar divisões.

Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

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