A primeira vez que os termos esquerda e direita foram utilizados no contexto político remonta à Revolução Francesa, em 1789, durante a reunião dos Estados Gerais. Na Assembleia Nacional, os representantes que se sentaram à direita – os girondinos, em sua maioria monarquistas, conservadores, defensores da tradição, da ordem estabelecida e de mudanças graduais – contrastavam com os que ficaram à esquerda: os jacobinos, republicanos e revolucionários que exigiam reformas profundas e imediatas na estrutura social e política da França.
Desde então, os conceitos de esquerda e direita passaram por múltiplas transformações ao redor do mundo, refletindo os contextos históricos, sociais e econômicos de cada país. No Brasil, essa classificação também sofreu adaptações e, por vezes, deturpações – a mais notória delas protagonizada pelo bolsonarismo.
Com a ascensão de Jair Bolsonaro, a chamada extrema direita reacionária ganhou força e visibilidade. Trata-se de um segmento político que esteve relativamente marginalizado desde o fim da ditadura militar e o início do processo de redemocratização, em 1985. Bolsonaro deu organicidade a esse campo ideológico, mas à custa de radicalização, autoritarismo retórico e ataques sistemáticos às instituições democráticas. Seu governo criou um sentimento difuso de rejeição não apenas ao próprio presidente, mas ao que muitos passaram a identificar como “a direita” — mesmo que esta seja muito mais ampla e plural.
O problema está justamente aí: o bolsonarismo distorceu o conceito de direita, ofuscando um campo político essencial para o equilíbrio democrático e o desenvolvimento do país. Existe, sim, uma direita moderada, democrática e construtiva, que defende valores legítimos e pode contribuir enormemente com o Brasil.
Essa direita moderna acredita na eficiência do Estado, na educação universal de altíssima qualidade, na inovação tecnológica, na liberdade econômica responsável, no cumprimento de metas públicas, na redução das desigualdades por meio do emprego e da renda, e no fortalecimento institucional como pilar do progresso. Essa direita vê o cidadão como centro das políticas públicas, acredita no mérito — mas também na justiça social — e reconhece que o diálogo com diferentes visões de mundo é indispensável.
Diferente do extremismo, essa direita não despreza a democracia, não flerta com autoritarismos, nem enxerga o adversário político como inimigo a ser eliminado. Ela compreende que o desenvolvimento nacional depende do funcionamento pleno das instituições e da convivência respeitosa entre divergências. Como diria meu avô Geraldo: “Meu neto, nessa vida, tudo que é demais passa” — e essa máxima vale também para a política. Radicalismo, seja de direita ou de esquerda, não leva ninguém a lugar algum.
O Brasil precisa resgatar o melhor que existe em cada espectro político. Assim como a esquerda tem seu papel relevante, com sua sensibilidade social e defesa dos direitos civis, a direita equilibrada tem muito a oferecer com suas propostas de eficiência, responsabilidade fiscal e compromisso com o futuro.
Nosso país é a única casa de cada um de nós. Se cada cidadão — à esquerda, à direita ou ao centro — oferecer o que tem de melhor, com respeito e disposição para o diálogo, o Brasil tem tudo para ser protagonista no cenário global, seja na economia, na ciência, na cultura ou na política.
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