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Agricultura familiar e urbana: uma solução sustentável para ajudar pessoas em situação de rua


Por em 02/04/2025 - 09:03

Agricultura familiar e urbana é solução sustentável (Foto: Agência Brasil)

Nos grandes centros urbanos, é cada vez mais comum nos depararmos com o alto número de pessoas em situação de rua. As ruas se tornam o lar de muitos, e é alarmante perceber que, segundo dados da Fundação João Pinheiro, há cerca de 220 mil pessoas vivendo em situação de rua no Brasil, sendo a maioria concentrada nas grandes cidades. Este é um problema multifacetado, em que fatores sociais, como a falta de moradia, desemprego e desestruturação familiar, somados a questões de saúde mental e dependência química, são os principais responsáveis por empurrar essas pessoas para a marginalidade. Porém, a pergunta que se coloca é: como podemos transformar essa realidade?

Há mais de 20 anos, sou envolvido com um movimento kardecista que busca apoiar pessoas em situação de vulnerabilidade social. Durante esse tempo, participei ativamente dos trabalhos da Casa da Sopa, em Nerópolis, oferecendo alimentos, vestuários e apoio caritativo àqueles que mais precisam. Esse envolvimento me colocou em contato direto com aqueles que, muitas vezes, vivem à margem da sociedade e nas ruas. Posso afirmar, com convicção, que muitas dessas pessoas são, na essência, boas, mas perderam-se ao longo da vida devido a uma série de fatores adversos, e estão em uma luta constante para sobreviver. No entanto, é possível resgatar essas vidas, oferecê-las uma nova chance e reintegrá-las ao tecido social, onde podem recomeçar.

E não estamos falando de um futuro distante. Muitas dessas pessoas têm talento, habilidades e uma capacidade tremenda de se reerguer, desde que recebam o apoio adequado. Dentre as alternativas que podem ser exploradas, a agricultura familiar e urbana se apresentam como uma possível solução digna e transformadora para esse problema. E a razão é simples: ao integrar esses indivíduos à produção agrícola local, podemos não só ajudá-los a recuperar sua dignidade, mas também fortalecer a economia e contribuir para um Brasil mais justo e sustentável.

Há seis anos, trabalho com agricultura familiar em Nerópolis e sou parte ativa de movimentos que representam o setor, como a UNICAFES e a ACIANER. Nesse tempo, pude conhecer profundamente a realidade da agricultura familiar e seus benefícios. Essa modalidade de produção tem se mostrado eficaz, não apenas como forma de gerar alimento, mas também como uma alternativa de trabalho e renda para muitas famílias.

Com o aumento da agricultura urbana, vejo que há um campo fértil para aplicar essa solução nas cidades. Como um pequeno agricultor, entendo o impacto positivo que o cultivo de alimentos pode ter na vida de uma pessoa. A agricultura familiar e urbana, quando aplicada corretamente, tem o potencial de transformar vidas. Mas como isso pode ser feito de forma a tirar as pessoas da rua?

O primeiro passo é mapear as pessoas em situação de rua e entender suas necessidades. O acolhimento social e os encaminhamentos médicos e psicológicos devem ser prioritários para garantir que essas pessoas possam se recuperar de problemas de saúde mental e dependência química. Após o acolhimento, a qualificação profissional se torna fundamental, e aí entra a possibilidade de capacitar essas pessoas para a agricultura familiar. Isso não só traz uma ocupação digna, mas também proporciona um sentido de pertencimento e valor.

Os centros urbanos oferecem espaços que podem ser utilizados para a agricultura urbana, especialmente em áreas mais afastadas, onde seria possível criar hortas e pequenas propriedades agrícolas. O poder público tem um papel fundamental nesse processo, podendo disponibilizar essas áreas para a produção de alimentos saudáveis, contribuindo para o enfrentamento da fome e a geração de trabalho. Esses projetos não só proporcionam dignidade aos moradores de rua, mas também enfrentam um dos maiores problemas do país: a escassez de alimentos saudáveis e a insegurança alimentar.

Imaginemos um cenário em que, após passarem por um processo de recuperação e qualificação, os ex-moradores de rua se tornem trabalhadores rurais dentro das próprias cidades, cultivando e produzindo alimentos frescos para abastecer os mercados locais. Não apenas isso, mas as famílias dessas pessoas poderiam ser beneficiadas com o consumo dos produtos, promovendo uma grande mudança social e econômica.

Essa é uma solução que atende a múltiplos problemas ao mesmo tempo. Ao tirar pessoas da rua e reintegrá-las ao mercado de trabalho, o país estaria promovendo justiça social, enfrentando a fome, gerando mais emprego e dignidade para todos. A agricultura familiar e urbana, portanto, não é apenas uma alternativa viável, mas uma necessidade para a construção de um futuro mais justo e sustentável para todos os brasileiros.

Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

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