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Brasil à deriva: uma democracia refém de um sistema político em colapso


Rodrigo Zani Por Rodrigo Zani em 28/05/2025 - 07:56

Brasil é uma democracia refém de um sistema político em colapso (Foto: Agência Brasil)

Desde a redemocratização, o Brasil vem tentando, com esforço e esperança, se firmar como uma verdadeira democracia. A luta pelas Diretas Já e a promulgação da Constituição de 1988, apelidada de “Constituição Cidadã”, foram momentos de grande mobilização popular, quando o povo acreditou que o país enfim tomaria os rumos da justiça, da estabilidade e do progresso. Era o recomeço, após mais de duas décadas de autoritarismo.

Contudo, passadas quase quatro décadas da Nova República, o cenário político brasileiro se revela marcado por sucessivas crises institucionais e morais. Desde 1989, cinco presidentes foram eleitos pelo voto direto: Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. Desses, quatro passaram por episódios traumáticos que abalaram profundamente a estabilidade do país.

Collor, o primeiro presidente eleito após a redemocratização, renunciou para evitar um impeachment e agora, mais de 30 anos depois, foi condenado à prisão pelo STF. Lula, símbolo da ascensão das classes populares ao poder, foi preso em meio à Operação Lava Jato, embora tenha tido suas condenações anuladas posteriormente. Dilma sofreu um impeachment controverso, acusado por muitos de golpe institucional. Bolsonaro, por sua vez, enfrenta processos que podem levá-lo à prisão, em função de denúncias de tentativa de golpe e ataques às instituições.

O único que escapou incólume desses abalos foi Fernando Henrique Cardoso, que concluiu seus dois mandatos e se retirou da vida pública com relativa tranquilidade.

Esses episódios não são meras coincidências ou frutos do acaso. Revelam um problema sistêmico e estrutural. A democracia brasileira parece não ter conseguido consolidar suas bases, e o Estado se mostra, recorrentemente, incapaz de garantir estabilidade política e institucional. O presidencialismo de coalizão, a fragilidade dos partidos, o fisiologismo e a corrupção crônica contribuem para o que muitos já descrevem como um país ingovernável.

Ainda assim, o Brasil resiste. O que nos mantém de pé é a riqueza do nosso território, a capacidade empreendedora do brasileiro e a resiliência de um povo que se reinventa todos os dias. Mas não há como negar: o campo político está defasado, arcaico e distante das reais necessidades da população.

Há esperança, sim. O Brasil é um gigante que insiste em caminhar, mesmo tropeçando em suas próprias instituições. Mas sem reformas estruturais profundas – que fortaleçam a democracia, moralizem a vida pública e tragam dignidade e qualidade de vida para todos – estaremos fadados a repetir o mesmo ciclo de frustrações.

O Brasil tem tudo para crescer, mas o sistema político brasileiro virou seu maior obstáculo. Superá-lo é urgente. Do contrário, seguiremos à deriva.

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Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

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