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“Se Marconi for comandar PSDB-Podemos, tenho dificuldade de permanecer no partido”, afirma Glaustin da Fokus

Ele revela que mantém conversas com outros grupos políticos e que o apoio a Daniel Vilela não é automático


Andréia Bahia Por Andréia Bahia em 11/05/2025 - 07:02

Ao que tudo indica, a fusão do PSDB com o Podemos está avançada, mas o deputado Glaustin da Fokus ainda não dá como certa a união dos dois partidos. Nesta entrevista, ele afirma que não aceitaria o comando de Marconi Perillo porque faz parte da base de apoio de Ronaldo Caiado. Porém, caso a presidência não seja de Marconi, ele teria mais tranquilidade para participar do novo projeto partidário. Ele dá outras sinalizações em relação a 2026, que o apoio a eleição de Daniel Vilela para governador em 2026, não está alinhado e que já conversou com Wilder Morais sobre o tema. Diz também que não é favor da anistia dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro, apesar de ter assinado o PL da Anistia, mas que defende a revisão das penas. Apesar de não ser categórico em suas respostas, o deputado e presidente do Podemos em Goiás dá sinais dos caminhos que pretende percorrer até 2026.  

Entrevista na íntegra com deputado federal e presidente do Podemos, Glaustin da Fokus

Em 2026, conforme exigência da cláusula de barreira, os partidos políticos precisam obter 2,5% dos votos válidos nas eleições para deputados, além de outros critérios. Com base nas eleições de 2022, 11 dos 29 partidos registrados correm risco de não atingirem a cláusula de barreira, incluindo o Podemos. O senhor está meio reticente em relação à fusão com o PSDB, mas existe outra saída para o Podemos?

Glaustin da Fokus: Meu entendimento é que, quando se faz uma análise de PSDB, como ele se comporta no Brasil, o tamanho que já foi – e com todo respeito a sua história, de ter tido até presidente da República – e quando analiso o Podemos, que é um partido que saiu nanico e hoje está médio, com representatividade crescente e consolidada, entendo que nosso risco é pequeno. Houve uma junção, há pouco, do Podemos com o PSC. Eu vejo que temos um dever de casa. Não é eu seja contra a junção do PSDB com o Podemos, mas hoje o risco é muito maior do PSDB do que do Podemos. O Podemos está crescente, está morro acima. Eu não estou reticente, só estou observando aquilo que eu enxergo. Por exemplo, com todo respeito à história do governador Marconi Perillo, com tudo aquilo que ele fez para o estado, é válido isso, porém eu faço parte de outro grupo, e em política, em algum momento, temos que ter posição. Disse isso a ele. Eu estou falando o meu mundo, que é um mundinho pequeno. Sei que Marconi é maior que eu politicamente. A abrangência, a pujança dele é muito  maior, e eu reconheço isso. Porém, o que eu estou discutindo agora é a chapa de deputados federais e estaduais. Vai chegar o momento de discutir projetos de governador e senador. Isso foi o que conversei com ele. Então é assim: eu não tenho nada contra a junção, porém, não está feita e nem consolidada por parte do Podemos.Estão olhando documentos, a parte jurídica, cada equipe, estatuto. Se acontecer, eu entendo que tenho que respeitar e entender, com a nacional, quem é que cuida do partido aqui no estado.

Com o aval dos presidentes dos dois partidos, Marconi Perillo (PSDB) e Renata Abreu (Podemos), o senhor acredita que a fusão possa não sair?

Ele deu aval para olhar a documentação. Pela parte do Marconi, eu volto sempre de forma muito respeitosa às suas falas, ele já considera que a fusão já está pronta. Por parte do Podemos, em todas as conversas que tenho com a nossa presidente, é que a fusão não está pronta. Estão olhando documentos, olhando a forma de gestão, olhando quem vai comandar tudo isso a nível nacional. Eu não sou de sofrer antecipadamente, costumo entender o cenário e, a partir do momento que – se juntar –  eu vou conseguir entender com qual estratégia eu vou trabalhar. Isso porque há alguns entraves jurídicos, políticos,estados que são beneficiados, estados que têm um pouco maior de dificuldade. Que é o caso nosso. 

Quais os pontos que dificultam a fusão e em que estados se encontram os principais entraves?

Acho que a Bahia é um problema, acho que Goiás também é um problema, porque são grupos separados; grupos políticos, não de inimigos. Eu vejo que o  governador Ronaldo Caiado  é um político adversário do Marconi Perillo, mas eu não tenho problema com Marconi Perillo, tenho problema de grupo político, porque eu ajudo o Caiado desde 2018, foi ele que me trouxe para a política, e ao mesmo tempo, eu tenho dificuldade em trilhar, no primeiro momento, com  Marconi Perillo. E conheço o problema de Goiás, da Bahia, Pernambuco também é um problema.

Caso a fusão seja feita, o senhor pensa em deixar o Podemos?

Depende de quem for comandar o partido. Se Marconi for conduzir o partido, entendo que eu teria muita dificuldade, eu e o nosso grupo de prefeitos. Nós temos o apoio de 37 prefeitos, sendo uns 18 a 20 do Podemos e o restante de outros partidos, MDB, União Brasil, PL, que têm dificuldade em construir esse projeto com Marconi.

Caso Marconi não seja o presidente do novo partido que pode vir a surgir da fusão Podemos-PSDB a sua permanência é mais tranquila?

Se não for Marconi na condução do partido, como presidente do partido, é  mais tranquilo para eu conduzir nosso grupo. 

Se ele for o presidente é provável que o senhor deixe o Podemos?

Eu tenho mais dificuldade. Eu teria que sentar, chamar o nosso grupo, os prefeitos, os vereadores, as nossas lideranças, falar com minha base. Eu tenho problema também, claro, porque sou da base do governo Ronaldo Caiado.

A fusão não mudaria a relação dos partidos com o governo federal, que é de independência?

Exatamente, não muda nada. O compromisso que temos não é com o governo Lula. Nosso compromisso é com pautas que julgamos importantes para o nosso país.

Em Goiás, como essa fusão pode afetar a correlação de forças políticas?

Goiás muda porque você está falando com um deputado federal da base de um governo que faz parte dela desde 2018. Eu não estou querendo dizer que o meu projeto é já de imediato também o do Daniel Vilela. Esse é um assunto que vai ser discutido no amanhã. Eu já conversei com Wilder Morais e com  Marconi também. Com Daniel Vilela nós não conversamos ainda, mas eu digo que eu sou da base do Ronaldo Caiado.

Quando diz que conversou com Wilder, foi sobre a eleição de 2026?

Exatamente, exatamente.

O Podemos estaria mais próximo do PL que do MDB para 2026?

Não. Eu disse que eu já conversei com quem se coloca à disposição para participar da eleição em 2026 como governador. Eu estou dizendo que eu sou da base do Caiado e que não significa que isso vai ser transferido para o Daniel Vilela. Com Daniel Vilela, nós teremos uma conversa partidária, uma conversa republicana, uma conversa de quem tem mandato para entender onde o grupo vai andar. Não está decidido também que é com o Daniel Vilela.

O apoio à candidatura de Marconi Perillo está descartado?

Eu tenho dificuldade, neste primeiro momento, de entender que o nosso projeto trilharia com Marconi. Eu não falei que eu não apoio. Eu estou dizendo que, no momento,hoje, se ele viesse cuidar do partido, eu teria dificuldade, porque o meu foco hoje é a montagem de uma chapa de estadual e federal. Quando eu disse que já conversei com outros projetos, porque quando eles me chamam, eu vou, de forma respeitosa, eu vou para escutar. Eu tenho dois ouvidos para escutar. Até agora, Daniel não nos chamou, mas eu entendo que em algum momento ele vai chamar, até porque o processo com o Daniel também vai ser muito respeitoso e estamos aguardando ele, em algum momento, para conversar. 

Nas negociações da fusão PSDB-Podemos se fala também de se buscar outras siglas, como Republicanos e Solidariedade para composição de uma federação. Como vê a possibilidade de federação em Goiás?

Eu não dou conta de dar uma resposta para isso porque não sei se de fato vai acontecer a fusão PSDB-Podemos. Eu estaria antecipando algo e eu gostaria de dar a minha opinião se acontecesse a primeira etapa, que nem aconteceu ainda.

Mas pensando na possibilidade de uma federação com o partido do Tarcísio de Freitas, que também é cotado para candidato a presidente da República, seria interessante para o Podemos?

É claro que é bom uma federação com o Republicanos e com outro partido.

 

A reconfiguração partidária que ocorre no momento, União Brasil e PP; Podemos-PSDB, Republicanos e Solidariedade, mudaria o cenário para a eleição de 2026, que vem predominando, que é de polarização?  

Com relação ao estado, é claro que ficaria mais forte esse grupo, essa composição.  Mas primeiro, eu entendo que tem que passar a primeira etapa, que é a junção. Não tem nada validado ainda. O que tem é: o PSDB convoca os delegados a sua comissão para uma discussão sobre o assunto. Mas tem algumas coisas que ainda tem que ser se formatar melhor.

 

O PSDB depende da fusão até para sobreviver como partido. Se tivesse que vir alguma negativa, não teria que vir do Podemos?

Em nenhum momento o Podemos validou a fusão ou incorporação. O Podemos simplesmente disse o seguinte: pode acontecer, sim, mas ela (Renata Abreu) não falou que vai fazer a fusão ou incorporação. Em nenhum momento eu vi matéria da nossa presidente dizendo isso. 

 

Renata Abreu já se manifestou favorável à fusão, dizendo que o PSDB é bem-vindo.

É claro que é bem-vindo, mas não aconteceu ainda na prática, a fusão dos dois. E se acontecer, há outros desafios: quem conduz o partido no estado; se for Marconi, qual decisão eu vou tomar; se for eu, qual compromisso que vamos fazer com o PSDB e o grupo do PSDB do estado. Eu quero repetir que respeito muito a história do ex-governador Marconi, eu disse a ele, a história dele é boa aqui no estado, ajudou muito, contribuiu muito. Eu entendo e vejo isso com a maior clareza. Porém, no momento, eu sou de um grupo diferente, é onde entra em alguns choques e conflitos.

O senhor assumiu a presidência do Podemos em dezembro de  2024. Já tem resultados para apresentar?

Simplesmente mudou de presidente não porque sou melhor ou mais bonito, não, porque quem também está no comando junto comigo é o grupo evangélico do Eurípedes do Carmo, Luiz do Carmo, Henrique César, deputado estadual, Bispo Oídes. Quando o Eurípedes resolveu me passar (o comando do partido) foi porque ele estava querendo focar na sua cidade de Bela Vista. Assumi para montar a chapa de deputado estadual e federal, um trabalho árduo. O que temos feito é isso, um trabalho que era muito bem feito pelo Eurípedes e nosso foco é fazer uma chapa para eleger dois deputados federais e dois deputados estaduais. Tínhamos uma missão, em 2022, de fazer um e um deputado federal, e fizemos, a nossa missão era essa. Agora temos um compromisso com a Nacional do Podemos de levar dois estaduais e dois federais, é o que eu tenho feito no dia a dia.

Seu projeto é a reeleição, mas João Campos também deve disputar uma cadeira na Câmara e os dois dividem o voto do eleitorado evangélico. Isso não pode prejudicar ambos? 

Não, porque em 2018, nós dois fomos candidatos. João Campos tem um apoio muito grande dos evangélicos, mas eu também tenho, porém, além de trabalhar muito no segmento cristão evangélico, temos muitas prefeituras que nos apoiam. São duas cadeiras lá para ajudar.

O senhor assinou a urgência do PL da Anistia. Em relação aos envolvidos nos eventos de 8 de janeiro, o senhor defende anistia para todos?

Eu sou muito favorável em relação à dosimetria, que uso na minha empresa. Acho que o STF exagera em alguns casos e vou citar como exemplo aquela menina do batom (Débora Rodrigues dos Santos). Eu acho que se fez coisa errada, tem que pagar pelo erro, mas não pagar como aqueles que quebraram ou com quem fez toda a estratégia de organização. A minha assinatura é muito convincente no sentido de que, em algum momento, tanto o Congresso como o  STF, devem pensar em penas mais dosadas.

Não seria anistia, mas uma mudança em relação às penas impostas aos condenados?

Anistia para alguns também, que a turma tenha bom senso e sensibilidade para entender quem é quem no jogo.

O senhor está entre os 20 parlamentares que integram o grupo de trabalho instalado para debater o projeto das fake news e o senhor é a favor ou contra criminalizar as informações falsas que circulam na internet?

A liberdade de expressão, a comunicação, eu sou extremamente favorável. Vocês que fazem o bom trabalho de informar as pessoas, os eleitores, a comunidade daquilo que está acontecendo em todos os lugares. Mas eu tenho uma preocupação muito grande com as fake news. Eu fui designado para fazer parte desse grupo de trabalho, assim como fui também no grupo de trabalho da reforma tributária, no qual trabalhei muito. Com relação à fake news, me preocupa  muito, porque alguém posta alguma coisa e até se provar que aquilo não é verdade, já destruiu muita coisa, família, sentimento. Eu acho que isso tem que ser melhor conferido,tem que se ter um postura nesse assunto de  muita seriedade. 

O senhor é a favor da criminalização das fake news?

100%.

Caso Bolsonaro viabilize sua candidatura à presidente, o senhor continuaria apoiando a candidatura de Caiado? 

Eu não acredito que o candidato Bolsonaro vá participar da eleição porque ele está inelegível. Eu não quero discutir o teor, porque está, porque não está. Ele está inelegível. Hoje, ele não vai e o governador Ronaldo é candidato. Claro que como goiano, como camarada que foi abençoado por ele nas eleições de 2028, foi ele que me trouxe para esse desenho, para essa formatação, nosso grupo também vai ajudá-lo nesse desenho do Brasil.

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