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A estratégia do silêncio de Alcides na disputa em Aparecida

A decisão de Alcides em evitar debates e selecionar entrevistas levanta suspeitas de fuga de questionamentos públicos, enquanto seus adversários tentam explorar sua ausência


Domingos Ketelbey Por Domingos Ketelbey em 22/09/2024 - 14:00

Alcides Ribeiro (Foto: Valdemy Teixeira)

A controversa decisão da campanha do deputado federal Professor Alcides Ribeiro (PL), candidato a Prefeitura de Aparecida em não participar de debates, sabatinas e de selecionar a dedo os veículos de imprensa para os quais concede entrevistas, confirmada esta semana durante entrevista à este colunista, levanta questionamentos sobre sua real disposição em submeter-se ao escrutínio público. Faltando apenas 15 dias para o pleito de 6 de outubro, a postura de Alcides tem desestabilizado seus adversários, mas essa não é uma estratégia livre de riscos.

Embora seus principais concorrentes, o ex-deputado federal Leandro Vilela (MDB) e o vereador Willian Panda (PSB), tentem utilizar sua ausência para criticá-lo, a escolha de Alcides parece ser menos motivada pelo receio das perguntas que lhe seriam feitas pelos jornalistas e mais pelas respostas que ele próprio daria. 

Fontes próximas à sua campanha indicam que o verdadeiro temor de seus auxiliares não está nos questionamentos, mas no fato de que Alcides, conhecido por sua falta de filtro, poderia fornecer material para ser usado contra ele ao longo do restante da campanha. Em debates ou entrevistas mais incisivas, suas falas poderiam ser distorcidas, mal interpretadas ou mesmo repercutidas negativamente, algo que seus adversários não hesitariam em explorar.

No primeiro episódio de sua propaganda eleitoral, ele já forneceu combustível para os adversários ao citar um suposto folclórico criminoso no município: João Cambão. “Nós tínhamos aqui uma figura folclórica, muito famosa, chamada João Cambão e esse João Cambão sempre ficava fazendo atrocidades. Até que um dia, ele era meu aluno na escola, eu chamei ele e pedi ‘cuida de mim, não deixa os caras ficarem correndo atrás de mim, não’”, relatou Alcides, sem dar mais detalhes. Foi o suficiente para sua oposição associá-lo a uma série de atrocidades.

Essa estratégia de silêncio controlado, apesar de controversa, tem deixado os rivais sem um alvo claro em um dos principais palcos de confronto direto. Ao não se expor em debates ou sabatinas, Alcides priva Vilela e Panda de uma oportunidade importante para desafiá-los publicamente, levando-os a falar para o seu próprio eleitorado, impedindo-os de furar sua própria bolha.

Mas também vale lembrar que escolher não participar de debates faz parte do processo democrático.  Apenas para citar um exemplo, em 2022 o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) participou apenas do promovido pela TV Anhanguera, o que não significa que trata-se de um político antidemocrático porque ignorou outros encontros com os adversários. O senador Vanderlan Cardoso (PSD),neste pleito, já optou por não participar de dois debates em Goiânia. Cabe a crítica a sua ausência, mas não cabe dizer que trata-se de um político que desrespeita as normas democráticas.

Sem o líder nas pesquisas presente para responder, seus adversários encontram dificuldades para transformar seus ataques em momentos de grande repercussão. A ausência de Alcides nos principais espaços de discussão enfraquece o impacto das críticas e reduz as chances de confrontá-lo em tempo real.

Entretanto, essa tática também gera críticas consideráveis. A recusa em debater ou se expor amplamente pode ser vista por parte do eleitorado como uma fuga, sugerindo que o candidato teme enfrentar perguntas sobre sua administração, propostas ou eventuais inconsistências de seu discurso. Em uma democracia, debates e entrevistas são instrumentos fundamentais para avaliar a capacidade dos candidatos de dialogar com a sociedade e apresentar soluções para os problemas que enfrentam. Fugir desses momentos pode alimentar a percepção de que Alcides não está preparado para enfrentar questões difíceis, ou pior, que ele tenta se esconder de críticas legítimas.

Ademais, ao evitar o confronto público, Alcides dá margem para que seus oponentes moldem uma narrativa em que sua ausência se torna um sinal de fraqueza ou despreparo. Leandro Vilela e Willian Panda, mesmo sem a presença física de Alcides, podem usar sua ausência como argumento para questionar sua liderança, sugerindo que ele não tem disposição para dialogar com a cidade ou assumir uma postura transparente. Já há movimentações nas campanhas adversárias explorando essa lacuna, e qualquer deslize de Alcides no período restante até o pleito pode ser capitalizado por seus concorrentes.

A própria postura do candidato em relação à imprensa levanta dúvidas. Em entrevista a este colunista, Alcides promete tratar os veículos de maneira mais igualitária caso seja eleito. Dessa forma, o candidato tenta afastar a impressão de que seleciona a quem responde conforme seus interesses eleitorais. No entanto, a escolha criteriosa de onde e quando se manifestar durante a campanha expõe uma fragilidade: o medo de que as próprias palavras possam ser transformadas em munição contra ele.

No curto prazo, essa estratégia pode ser eficaz, principalmente se sua vantagem nas pesquisas for mantida. No entanto, se a eleição caminhar para um segundo turno, Alcides pode ser obrigado a mudar de postura, uma vez que a pressão por debates e sabatinas tende a aumentar conforme o cenário se afunila. Negar-se a participar de debates agora pode ser um cálculo estratégico, mas, mais adiante, pode ser interpretado como falta de compromisso com o debate democrático que o eleitor de Aparecida de Goiânia espera e merece.