A filha de Iris Rezende Machado repete o pai ao dizer qual método ele usava para lidar com os outros: “não falava dando lição, mas contando história.” Ana Paula reserva um horário, você chega ao escritório que, no passado, ela montou para o pai receber as pessoas e conversar sobre o assunto obrigatório na vida de Iris: a política. Você é abraçado, se senta em uma sala aconchegante, de frente para a anfitriã, e, se não toma café puro, ele vem acompanhado com leite e é servido com pães de queijo recém-preparados, à maneira que ele a orientou. “Eu ando falando demais”, adverte, enquanto reconhece uma “necessidade de falar dele” estranha à postura discreta que sempre assumiu ao lado do pai. “Nossa vida girou em torno da vida dele.”
Na última vez em que foi prefeito de Goiânia, no mandato encerrado 2020, “eu vivi com meu pai aqueles quatro anos. Todo dia que meu pai foi (ao Paço Municipal), eu estava com ele”. A pontuação de Ana Paula vem a reboque das questões do presente que vão sendo atravessadas por suas memórias, que é o lugar potente onde ela se encontra com o legado de Iris, à procura de respostas. “Hoje eu me sinto só”, comenta, avaliando que “se eu quiser entrar para a política, eu tenho que construir um caminho, primeiro”. Diante do que o pai representou, ela se vê sem a mesma força para enfrentar o mundo político.
“Eu não sou o Íris, eu convivi, tive esse privilégio de estar ali ao lado dele e aprender essa forma de fazer a política. Ele deu esse exemplo. Poucos foram os que entenderam e os que ouviram. Muitos, inclusive, eu via que não tinham muita paciência porque meu pai contava muita história. Eles queriam era resolver um problema, mas meu pai sabia qual era o problema e começava a contar uma história para chegar ao ponto da pessoa entender que estava no caminho errado. Eu achava o máximo”, conta, apontando para a eloquência da qual Íris também fazia uso para sair de saias justas, quando “fingia que não estava entendendo e já contava outra história”.
Impregnada da “política grande” ou da “política verdadeira”, como consegue definir o que deu estatura pública e histórica ao pai, a angústia de Ana Paula é agir para “de alguma forma poder contribuir para que isso não acabasse”. O papel de gestão, enquanto política, não é um obstáculo quando ela projeta, em voz alta, um cenário hipotético de fazer o que mais aprendeu com Íris. “Administrar não tem segredo, o difícil é você colocar em prática essa forma correta de fazer política”, diz, assinalando uma ordem de “fisiologismo puro” que escapa ao significado que ela, na encruzilhada em que se encontra, conceitua a política sem qualquer desvio de finalidade: “é simplesmente servir ao próximo.”
E se tudo isso que foi dito, do café com leite ou sem, dos pães de queijo, do exercício político guiado pelo interesse de transformação social, da consideração pelos ensinamentos transmitidos, parece ingênuo demais para caber nas articulações que se desenham para a eleição de outubro, sob o risco de “ser engolida” por um vale-tudo que a faz temer a destruição do patrimônio político do pai; ou, sob perspectiva inversa, se a fidelidade à memória de Iris opera conspirando para, em breve, revelar nela alguém vocacionado para a política, é preciso aguardar um pouco mais, pois Ana Paula, que demonstra rígida obediência a tudo o que aprendeu, assim que diz achar que “não é o meu momento” e que “continuo pensando muito”, alcança um ponto que, novamente, repete Iris: “eu entreguei para Deus, porque meu pai fazia isso também. E era real. E Deus dava a direção. Eu tenho pedido essa direção e sei que Deus vai me mostrar. Eu não sei qual será o caminho.”
De fora…
“É inevitável que a gente converse com todo mundo que estiver disposto a conversar”, defende o deputado estadual Karlos Cabral (PSB), que trabalha na pré-candidatura a prefeito em Rio Verde. “Com o PT também”, responde, observando a importância do partido do qual já fez parte e que a evolução para uma aliança “depende ainda de muito diálogo”.
…para dentro
Sobre a expectativa de que o presidente do diretório estadual do partido, Elias Vaz, entre em campo para resolver um esfriamento na relação de aliados com o projeto de Karlos, o deputado nega ter conhecimento de agendas para esse fim. “Tenho conversado com os vereadores Elvis e Lúcia, e é claro que a gente tem que respeitar os processos individuais de cada um.” Completa que deve procurar o vereador Ronaldo nos próximos dias.
Desde que
O pré-candidato Karlos Cabral está disposto a buscar o consenso, “desde que seja saudável para o grupo, mas principalmente que eles estejam alinhados ao projeto que nós temos para Rio Verde”. Para ele, “estar no PSB tem que significar estar alinhado a esse projeto”.
Acima de
O diálogo de Karlos com a deputada federal Marussa Boldrin (MDB) é “independente de questões eleitorais”, com foco na ajuda mútua enquanto parlamentares que representam a mesma região.
Só que
“Obviamente que se isso puder se desdobrar em apoio eleitoral no momento oportuno, eu seria muito grato por isso e saberia honrar o projeto dela, o mandato dela e ser um excelente parceiro”, diz o deputado estadual do PSB sobre Marussa.
Meu fechamento é você
A respeito do presidente da Assembleia Legislativa, Bruno Peixoto, Karlos destaca que “acredito na candidatura dele, acredito no projeto dele, acredito no propósito dele e acho que hoje é um nome preparadíssimo para ser pré-candidato a prefeito de Goiânia, tanto para ser uma candidatura bem posicionada para ganhar as eleições quanto para administrar”. O colega entende que Bruno “tem que buscar todos os movimentos que forem necessários para fortalecer seu nome”, já que “a possibilidade de rever posições é do universo político”. As conversas com outros partidos, na opinião de Cabral, “devem ser mantidas e podem resultar numa ampla base de apoio num momento em que vai ser praticamente impossível recuar da candidatura ele”.
Até o fim
Ronaldo Caiado ocupa uma posição especial para Ana Paula. “Eu tenho muita confiança no governador, foi uma pessoa que respeitou muito o meu pai, honrou a história dele, fez grandes homenagens em vida para o meu pai e isso eu não posso esquecer”, afirmou, garantindo lealdade. “Não posso ser diferente, até porque, no fim, ele me ajudou muito no hospital, ele sempre esteve muito presente, era quem eu ouvia ali.”
Já é um começo
Ana Paula não tinha se sentado e conversado com Jânio Darrot. “Eu só me lembrava quando ele ia resolver alguma questão na Prefeitura. Ele era prefeito em Trindade e meu pai, em Goiânia, e eu o achava diferente porque ele era muito educado com o meu pai, muito respeitoso. Eu via que ele ficava olhando meu pai contando as histórias, porque a gente sabe quem está interessado. Eu gostei do Jânio. Acho que foi uma das pessoas mais transparentes que eu recebi aqui.”
Fogo…
Depois da operação da Polícia Civil, na quinta-feira, 8, que investiga contrato de 2013 da gestão de Jânio Darrot, à época prefeito de Trindade, alguns emedebistas suspeitaram que o fato do vereador Edson Cândido (PDT) aparecer publicamente falando sobre o caso poderia indicar digitais de Bruno Peixoto (UB).
…amigo?
A associação foi feita a partir de fotos do vereador ao lado de Bruno e de seu pai, Sebastião Peixoto. No entanto, Edson explica que conversou com Bruno em duas ocasiões: “nas eleições de 2022 e em 2023, em evento”. Além disso, o vereador conta que a manifestação aconteceu porque “eu sou um dos denunciantes dessa possível fraude em contratos” e que a denúncia foi feita anos atrás, quando ele nem possuía mandato.
Sem comentários
Bruno Peixoto, que também foi procurado, disse que não dará entrevista sobre o assunto.
Vem
A aproximação entre Bruno Peixoto e Wilder Morais, para um membro do PL, é vista como assunto futuro.
Vai
“Vejo que é um indicativo de um grupo que deve estar se formatando agora para chegar com viabilidade em 2026.”
Voo
“Está correto em buscar uma independência e um grupo que o abrigue e dê oportunidade política”, opina a fonte.