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Entrevista | “PSB não caminhará com ninguém que dê sustentação à reeleição de Bolsonaro”


Avatar Por Redação em 18/05/2021 - 00:00

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O deputado federal Elias Vaz (PSB) construiu sua trajetória política atuando na oposição e, agora, na Câmara dos Deputados compõe o bloco que faz oposição ao presidente Jair Bolsonaro. Nesta entrevista ele comenta a diferença entre ser opositor a um governante que tem uma postura civilizada, como Iris Rezende (MDB), e o presidente da República. Na posição de presidente do PSB goiano, ele afirma que a legenda pode vir a compor com o governo Ronaldo Caiado, como defende o presidente da Assembleia, Lissauer Vieira (PSB), desde que o governador não apoie a reeleição de Jair Bolsonaro. A legenda reivindica também uma vaga na chapa majoritária e pretende eleger dois deputados federais e três estaduais na eleição de 2022.

TRIBUNA DO PLANALTO – Na política o senhor sempre foi parlamentar de oposição. Como é ser oposição nesse momento?

Elias Vaz – É muito diferente. Vivemos em um momento de angústia no país. Por exemplo, minha oposição ao prefeito Iris Rezende [quando foi vereador por Goiânia] estava dentro de uma postura civilizada, tinha divergências com ele no aspecto de gestão, mas totalmente diferente do que é com Bolsonaro [Jair, presidente da República], que agride as pessoas com as coisas mais baixas. Ele mexe com as questões da luta contra a homofobia, racismo, direitos indígenas, ambiental, quer dizer, ele é um ataque a tudo aquilo que a gente sempre lutou para que a sociedade melhorasse. Ele é uma negação disso tudo e com a pandemia, quando no mundo todo vemos que as forças políticas se unem para combater, aqui, ele faz totalmente o oposto. É um desagregador. E quem está dizendo isso sobre o comportamento dele, um comportamento absurdo, não é só a imprensa brasileira, é a imprensa americana, a da Europa, todo o mundo qualifica a dele como a pior gestão no combate à pandemia. Então, ser oposição a um governo desse é uma responsabilidade muito grande, porque, sobretudo, por a gente poder desmascarar esse presidente para a sociedade. É uma tragédia o que estamos vivendo no país hoje e ele ainda dar um jeito de brigar com a China, com a Europa, com os Estados Unidos. A política externa dele se parece com uma rinha de galo, parece que está vivendo no manicômio, uma coisa absurda. Esse país não merecia ter um presidente como Bolsonaro. A responsabilidade de ser oposição hoje é muito forte, lamento muito que tenha colegas que não compreendam isso, que é um desserviço o que o governo faz ao país hoje.

O PSB vai compor a frente ampla com o PT?

O PSB tem dito duas coisas que são fundamentais. A posição do nosso presidente Carlos Siqueira tem sido muito ponderada. A primeira é que entendemos a importância de ter uma articulação para derrotar o presidente Bolsonaro, e a outra questão é a gente saber qual o candidato terá reais condições para fazer isso. E nós temos que ter desprendimento, porque se o Lula for esse nome, o PSB não vai se furtar, vai apoiar. Mas se o antipetismo for ainda um fenômeno grande ao ponto de dar a vitória a Bolsonaro, o PT tem que ter a grandeza para fazer o que estamos propondo: que todos que quiserem construir um projeto sério para o país têm que ter desprendimento e saber apoiar aquele candidato que realmente tenha condições de derrotar essa tragédia que é o governo Bolsonaro.

Passando aqui para Goiás, o PSB tem interesse em compor a base do governador Ronaldo Caiado?

É público que o deputado Lissauer Vieira, presidente da Assembleia, defende abertamente essa posição, e respeitamos muito essa posição dele. O que eu tenho dito a ele, e temos uma boa transparência e uma sinceridade um com o outro, é que o PSB a nível nacional colocou um norte relativo às alianças. Não faremos aliança com ninguém que esteja dando sustentação à reeleição do Bolsonaro, isso para nós é uma questão central. Eu tenho colocado isso para ele, mas há a possibilidade, é possível dependendo do caminho do governador Ronaldo Caiado no nível nacional. De repente, será um caminho de ser oposição. Há, então, uma possibilidade, mas é claro que vamos ter que discutir vários aspectos e a posição do Lissauer, que é um membro importante do PSB, tem um grande peso no nosso partido. É claro que vamos considerar sua posição. Mas é mais para frente, até porque ainda depende de muitos fatores. O que é fato é que o PSB não caminhará com ninguém que esteja dando sustentação à candidatura à reeleição de Bolsonaro.

 Qual o projeto do partido para 2022, em Goiás?

Gostaríamos de ter um espaço, se possível, na chapa majoritária, vice-governador. Candidato a governador não vamos lançar, essa candidatura não está no nosso radar nesse momento, mas pode ser uma possibilidade, pois na política nunca se diz nunca. Mas o nosso radar seria essa candidatura a vice-governador e a senador, se houver possibilidade. A prioridade maior nossa é fazer dois deputados federais e três estaduais, essa é a nossa estratégia eleitoral para o ano que vem.

O Brasil já contabiliza mais de 400 mil mortes por Covid-19 e há a possibilidade de uma terceira onda. Onde o país errou?

O país errou em subestimar. O governo Bolsonaro errou bastante em não encarar a luta contra a Covid-19 de uma forma séria, científica. Em primeiro lugar não reconhecendo a gravidade. Depois, o comportamento permanente de Bolsonaro de negar os protocolos que têm como base a ciência. Enquanto os governadores assumiram um desgaste na questão da limitação das medidas que são adotadas para o distanciamento social, Bolsonaro até hoje tem essa discussão contrária, de negar o vírus. Ele sempre se posicionou assim, e de forma pública, inclusive promovendo aglomerações, na questão do uso da máscara, ele sempre faz questão de aparecer sem máscara. Aqui em Goiânia fiz uma representação contra ele para que o governo do estado não aceite isso, tem que multá-lo, porque está vigente a obrigação desse procedimento da Secretaria de Saúde. A norma existe no estado e o presidente da República tem que se submeter a ela. É um absurdo o comportamento dele com relação à questão da vacina que, na verdade, desde o início, ele assumiu uma posição de sempre a subestimar, naquele momento em que ele disse que não ia tomar vacina, até estimulando as pessoas a não tomarem. Tem também o fato de que ele foi procurado, no início de setembro do ano passado, e recebeu uma proposta de disponibilização de 70 milhões de vacinas para serem entregues a partir de dezembro até junho deste ano ao Brasil. Aí o governo, a um mês atrás, assina a proposta que até junho vai entregar apenas 15 milhões de vacinas. Isso já demonstra um crime que ele cometeu, porque isso significa mortes. O que era pra começar efetivamente em dezembro acabou atrasando, e não em um país qualquer, mas em um país que tem em números absolutos a segunda maior quantidade de mortos no mundo. Ele chegou a dizer que era contra a vacinação e que daria ordem para o ministro não comprar essa “vacina chinesa”. Quer dizer, o tempo inteiro o presidente Bolsonaro jogou contra o povo brasileiro, jogou a favor do vírus. Ele é um aliado do vírus.

Qual a expectativa do senhor em relação à CPI da Covid?

Sinceramente, eu espero que essa CPI possa realmente comprovar todos esses fatos de forma concreta, para que Bolsonaro possa pagar por isso, porque ele tem que responder por genocídio, tem que responder por mortes. O comportamento do Bolsonaro é criminoso. O Brasil é o país que deu o pior exemplo no mundo no combate à pandemia, não tenho dúvida quanto a isso. Agora, isso vai culminar em impeachment? Mesmo que não culmine em impeachment, vai fazer com que o presidente responda por isso futuramente, porque esses fatos são fatos que têm desdobramento não só político-administrativo, mas também penal. Isso é tipificado no Código Penal e tenho a certeza de que, se não agora, algum dia o presidente vai responder, em algum momento da história ele vai ter que responder, e eu tenho certeza de que ele vai parar na cadeia.

A revista Crusoé trouxe a informação de uso da Abin para investigar governadores. Aliás não é a primeira vez que há denúncias de que a Abin teria atendido a interesses do presidente: a defesa do senador Flávio Bolsonaro teria recebido orientação do órgão. Por que essas denúncias não avançam nos órgãos de controle e na Câmara?

Já tem motivos de sobra para ter um processo de impeachment na Câmara. O problema é que Arthur Lira foi eleito presidente com a política do toma lá dá cá, exatamente na articulação com o governo e contra os deputados. Ele tem uma conta que tem que pagar ao Bolsonaro e ele retribuirá. Na Câmara ele é omisso nesse aspecto. Com relação ao procurador-geral da República, Augusto Aras, ele não tem tido uma postura de procurador e tem provocado um constrangimento numa instituição tão respeitada como o Ministério Público Federal. Infelizmente, estamos numa situação em que os instrumentos que deveriam estar dando um basta nesse comportamento não republicano, nesse comportamento totalmente ilegal, não atuam.

O senhor é autor da denúncia de que o presidente gastou R$ 2,4 mi durante as férias. A AGU negou que ele estivesse de férias, mas o próprio presidente afirmou que “Vai ter mais férias para ser gasto [dinheiro], fiquem tranquilos”, aos apoiadores na porta do Palácio da Alvorada. Esse tipo de contradição entre a narrativa oficial e a fala do presidente é recorrente. Como o senhor avalia esse comportamento do governo e do presidente?

A questão das férias é grave, porque Bolsonaro gosta de passar uma posição de que gosta de comer macarrão miojo, pão com leite condensado. Aí passa duas semanas de férias e gasta mais de 2 milhões de reais. Aí se vê que não é bem assim. E ele fica com a narrativa sobre se são ou não são férias esse período que ele viajou, e isso acaba colocando uma cortina na questão central, que é uma questão que abala a imagem de uma pessoa que se diz austera, que não se aproveita, não gasta o cartão corporativo. Quando ele era deputado federal ele dizia que isso era um absurdo esses gastos estarem sob sigilo. Ele teria a obrigação de disponibilizar esses dados de uma forma mais clara e, claro, protegendo aquilo que porventura possa oferecer algum tipo de ameaça à segurança do presidente e sua família. Mas a verdade é que ele usa o sigilo para acobertar os gastos absurdos que eles fazem com o cartão. Bolsonaro está gastando mais de 1 milhão de reais por mês com seu cartão corporativo.

O senhor também entrou com uma petição no STF pedindo que o presidente se manifestasse sobre eventuais incentivos a uma intervenção militar, o que tem sido recorrente também, criando sempre um clima de instabilidade. Os outros poderes não conseguem conter esses arroubos do presidente?

Você usou a palavra certa, são arroubos, ele é um bravateiro, que além de flertar com o fascismo ele é tipo aquela frase: cachorro que late muito não morde. É um bravateiro, uma pessoa que quer mostrar que tem coragem, mas não tem coragem para nada, porque se tivesse coragem de colocar em prática todas as besteiras que ele fala estávamos enrolados. Ele a toda hora fica insinuando que pode a qualquer momento dar um golpe de estado. Mas, é interessante observar o episódio em que ele nomeou o ministro Braga Netto para a Defesa e os três comandantes das Forças Armadas entregaram uma carta de demissão. Isso mostrou claramente que a cúpula das Forças Armadas não compactua com essas maluquices do presidente, está muito claro que ele está isolado, essa é uma posição só dele, pois para dar um golpe teria que ter as Forças Armadas. Entrei com a interpelação judicial para que ele respondesse ao Brasil e ele não respondeu. A interpelação é um instrumento que ele pode ou não responder, mas eu posso usar isso contra ele, porque a omissão dele me permite a condição de mover uma ação contra ele, e estou estudando isso juridicamente.

É do senhor a representação ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério Público Federal (MPF) em que pede investigação para apurar indícios de esquema entre empresas e fraudes em licitações realizadas pelo Ministério da Defesa, nos anos de 2020 e 2021. Como está esse processo?

Fizemos três representações até esse momento, a primeira porque detectamos que durante a pandemia, um período grave, as Forças Armadas estavam fazendo festa, essa foi a impressão que se teve por causa de uma compra de mais de 700 mil quilos de picanha, 1 milhão de quilos de carvão, 80 mil cervejas, uma situação absurda, gastar dinheiro público com esse tipo de coisa é um absurdo e, no momento de pandemia, é mais absurdo ainda. Depois que prosseguimos com as investigações vimos que não era somente isso; teve também um gasto com filé mignon, uma compra de mais de 1 milhão, bacalhau em uma grande quantidade, mais de 150 mil quilos de salmão e uísque. O setor técnico do TCU acabou de manifestar nesta semana dizendo que entende, sim, que há indícios de irregularidades. Por último entramos com procedimento por superfaturamento, fraudes no processo licitatório. De quatro casos, três no estado de São Paulo e um no Rio de Janeiro, foi demonstrado que ali havia uma articulação de empresas, com indícios de que as empresas pertenciam às mesmas pessoas, fazendo uma falsa concorrência. Uma empresa da mãe e do pai, outra da mãe e do filho ou da filha, mas todos moram na mesma casa, concorriam entre si e, é claro, aí um deles ia ganhar. Os indícios de irregularidades são bem claros. Dinheiro público não é para bancar bacalhau. Temos todo o respeito com as Forças Armadas e achamos que eles têm que se alimentar bem, mas não precisa ser esse tipo de proteína, as mais caras. Tivemos um exemplo de compra de bacalhau a R $400 o quilo, uma verdadeira farra que vimos dentro das Forças Armadas com o dinheiro público, o que é inadmissível.

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