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Esfera Pública | Desanimado


Por Redação em 18/04/2018 - 00:00

Jorge Antônio Monteiro de Lima

Há certa feita recebi em meu consultório um rapaz de seus vinte anos totalmente apático. Quieto, voz abafada, sem vida, sem expressão. Talvez tédio, falta de interesse, raiva, incomodo. Como definir o redemoinho de emoções?  lentidão e letargia faziam parte do ciclo deste existir. Era um jovem sem vida, sem expressão, sem futuro. “Tanto faz”, “sei lá”, “não sei” eram expressões rotineiras de seu dialeto. Confesso que na altura me senti incomodado ao ver um rapaz tão jovem mostrar se tão apático a existência.

Nos dias de hoje não é raro encontrarmos membros da geração “Danoninho” desta forma. Uma geração contraditória ávida pela tecnologia, por aplicativos e pelas redes sociais, acidamente críticos do sistema mas ao mesmo tempo apáticos para a vida. Uma geração que aparentemente nasceu cansada, fria, triste, naturalmente melancólica,  com crítica de tudo e todos mas sem ação. Uma geração naturalmente castrada. Mas o que fazer com eles?

Vejo nas redes indivíduos se auto diagnosticando como portadores de fobia social,  introspectivos, melancólicos, e vários outros títulos que no fim  acabam no mesmo lugar, na apatia, na falta de vontade, no desânimo institucionalizado, medica lizado, na pilha que acabou antes de começar.  Criticar e desistir sem tentar é o hábito.  Hábito que ressoa em uma forte crítica a nossa sociedade de consumo, a forma do sistema vigente. Jovens que não sabem direito o que estão fazendo mas que não vão fazer de nosso jeito. A resistência velada, silenciosa mas ativa, acida, corrosiva diante de um mercado que cada vez explora mais destituindo o ser de sua identidade.  Pra que me matar como meu pai? Pra virar um escravo e não ter absolutamente nada e ou ter um enfarto como ele?

Mas quem de nós não tem desanimo? Pela falência de instituições como a nossa política, a igreja, os valores em conflito?  Quem não desanima diante da corrupção ilibada, diante da impunidade de corruptos como Ricardo Teixeira da CBF,, ou diante do nada proposto pelas atuais ideologias falidas?

Diante do caos, da falta de perspectiva, da falta de visão de futuro resta nos o desanimo, a vontade de sumir, de sair sem deixar rumo. Pra que o esforço, a dedicação, o esmero se nossos governos atuam sempre no sistema do mal feito recompensado?

Faça de qualquer jeito que vale a pena é o lema dos gestores públicos, de nossa educação, da saúde, do desporto, os resultados maquiados que acabam por tentar convencer a opinião pública que o errado é o certo, em uma constante inversão de valores que transformaram a vida em um caos.

Todo processo social  forjou  um estado psicológico :  Estes jovens foram possuídos por sua Anima. A energia psíquica introvertida minou sua vontade e seu mundo interior é o lugar seguro do qual muitos não querem sair. A superproteção familiar  termina de fazer o estrago. Para muitos destes jovens trabalhar ajuda. Estimula a socialização, o convívio a produtividade. Porém quem os quer como funcionários?

Jorge Antônio Monteiro de Lima é analista, pesquisador em saúde mental, psicólogo clínico, músico e  mestre em Antropologia Social pela UFG

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