A possibilidade de Gusttavo Lima trocar os palcos pelo palanque pode parecer inusitada, mas reflete um cenário político em que outsiders ganham espaço. Com uma narrativa de superação e sucesso, o cantor sertanejo personifica o “self-made man” que agrada diferentes públicos, do boteco às famílias mais conservadoras. Esse perfil, aliado ao desgaste da confiança nos políticos tradicionais, o torna uma figura que mobiliza debates, mesmo sem confirmação de suas intenções políticas. Escrevi sobre isso em outro portal e pretendo amplificar o debate aqui na Tribuna.
A construção de sua imagem como “perseguido pelo sistema” – após polêmicas sobre contratos milionários com prefeituras e ligações com casas de apostas – fortalece a ideia de alguém que vence, apesar dos ataques. Essa narrativa encontra eco em um eleitorado saturado de escândalos e promessas não cumpridas, que busca rostos conhecidos e discursos que inspirem identificação.
No entanto, é preciso questionar: Gusttavo Lima deseja mesmo entrar na política ou serve como peça estratégica no xadrez eleitoral do governador Ronaldo Caiado? Amigo do cantor, o chefe do executivo estadual poderia usar sua popularidade para atrair holofotes e manter seu nome em evidência para 2026. De quebra, Gusttavo poderia até ser incentivado a disputar o Senado, ampliando o alcance político de Caiado.
A entrada de celebridades na política não é novidade, mas exige mais do que carisma. Donald Trump, eleito pela segunda vez presidente dos Estados Unidos, está aí. A simples ideia de Gusttavo Lima como candidato já mostra a fragilidade de um cenário em que figuras públicas ocupam espaços deixados pela política tradicional. Resta saber se ele transformará a especulação em projeto concreto ou apenas ampliará sua já consolidada presença no imaginário popular e, agora, no debate político.