Faltando onze dias para os eleitores irem às urnas, a população da região metropolitana de Goiânia, assiste seus principais candidatos explorarem um vazio de propostas concretas, substituídas por promessas populistas e até embates pessoais, com soluções viáveis para as cidades, ficando à escanteio. As principais campanhas parecem optar por lançar ideias de difícil execução mas que podem encantar o eleitor num primeiro momento e desviam o foco das principais questões desses grandes centros.
Em Aparecida, por exemplo, na polarização entre Professor Alcides Ribeiro (PL) e Leandro Vilela (MDB), o que se destaca é a ausência de debates programáticos. Alcides tem insistido em ataques pessoais, classificando Vilela como um “forasteiro” por ter transferido seu título de eleitor no último momento permitido pela lei eleitoral, sugerindo que o emedebista não conhece a realidade da cidade.
Por outro lado, a campanha de Vilela responde contabilizando os debates e sabatinas que Alcides têm evitado, e faz críticas ao trato de Alcides com as mulheres, mas também não contribui com alternativas palpáveis. Esse embate pessoal tem ofuscado a apresentação de projetos reais que possam atender às necessidades da população, como melhorias em infraestrutura, saúde e educação — temas que deveriam estar no centro da disputa.
Na capital goiana, o cenário não é muito diferente. Sandro Mabel (União Brasil), candidato apoiado pela base governista de Ronaldo Caiado, vem prometendo renovar a frota de ônibus da região metropolitana de Goiânia nos dois primeiros anos de seu mandato. Contudo, essa promessa soa vazia, já que o próprio governo estadual anunciou, em novembro de 2023, uma renovação da frota com mais de 1.600 ônibus até 2026. Ou seja, Mabel está se apropriando de um plano já em andamento e que será executado independentemente do resultado eleitoral. Em vez de apresentar novas soluções para a mobilidade urbana, ele se limita a reciclar uma proposta alheia, sem agregar inovação ou viabilidade própria.
Na realidade, Mabel até investiu em uma polêmica e controversa proposta: a de liberar o trânsito de motociclistas em corredores exclusivos de ônibus. Especialistas afirmam que a proposta pode gerar uma grande epidemia de acidentes, haja vista que a coexistência desses dois tipos de veículos em um mesmo espaço aumenta a chance de colisões entre motos e ônibus.
O plano de governo do prefeito de Goiânia e candidato à reeleição Rogério Cruz (Solidariedade) traz um tanto diferente para a mobilidade urbana: a criação de um monotrilho suspenso na Avenida Anhanguera, com extensão operacional entre 10 e 14 quilômetros, e outro ligando o Aeroporto Santa Genoveva à rodoviária. O que dizer de uma cidade que mal conseguiu executar um BRT e só lançou um trecho após quase dez anos de obras? Também há um impacto em toda a região metropolitana junto à CDTC. Trata-se uma proposta fantasiosa que só cabe nas páginas de um plano de governo que jamais será executado.
De forma semelhante, o jornalista Matheus Ribeiro (PSDB) promete subsidiar a passagem de ônibus por R$ 1 no BRT Norte-Sul e no Eixo Anhanguera através de um aplicativo chamado RodaFácil. No entanto, essa proposta também esbarra em entraves legais e operacionais, já que qualquer subsídio de tarifas do transporte coletivo metropolitano depende da aprovação da Companhia Deliberativa de Transportes Coletivos (CDTC), que reúne representantes de várias cidades e do governo estadual. Sem o apoio desses entes e com os desafios de implementação de um novo aplicativo, a proposta de Ribeiro se mostra difícil de ser concretizada.
Em Senador Canedo, o prefeito Fernando Pellozo (União Brasil) segue uma linha similar ao prometer zerar a tarifa de transporte coletivo para moradores de baixa renda. Embora seja uma proposta atrativa do ponto de vista populista, ela ignora os mecanismos legais e administrativos necessários para sua execução. O transporte público na região é gerido de forma metropolitana, com decisões centralizadas na CDTC, o que inclui municípios como Goiânia, Aparecida e Trindade. A proposta de Pellozo não leva em conta esse contexto, nem as consequências financeiras para os demais entes envolvidos no sistema de transporte, mesmo que ateste ter fundos próprios para bancá-la.
Há nas três principais cidades da região metropolitana, um padrão de promessas superficiais, muitas vezes irrealizáveis, e uma falta de debate sobre soluções concretas para os problemas das cidades. Ao invés de focarem em questões essenciais como saneamento, saúde, mobilidade e educação, os candidatos em Goiânia, Aparecida de Goiânia e Senador Canedo têm preferido apelar a propostas populistas e ao ataque pessoal, desviando o foco do que realmente importa para os eleitores.