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“Socorristas, heróis anônimos”


Luciano Cardoso Por Luciano Cardoso em 11/07/2025 - 09:25

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Socorristas, heróis anônimos

No dia 11 de julho, o Brasil celebra o Dia do Socorrista. Uma homenagem merecida, porém muitas vezes silenciosa, tímida, quase invisível, destinada a homens e mulheres que, sem câmeras, curtidas ou holofotes, dedicam suas vidas a salvar outras vidas — ainda que isso lhes custe a própria existência. Em uma era em que heroísmo virou sinônimo de curtidas, visualizações e contratos milionários, é necessário relembrar quem são, de fato, os verdadeiros heróis de nossa sociedade.

A história do Sargento Sílvio Delmar Hollenbach que, em 1977, sacrificou a própria vida para salvar um menino no zoológico de Brasília, continua a ecoar como exemplo máximo de coragem. Sílvio não perguntou quem era aquela criança nem se questionou se ela “merecia” ser salva: apenas agiu, como fazem todos os socorristas quando enfrentam, dia após dia, a morte para dar chance à vida.

Curiosamente, o destino foi irônico. O menino salvo, Adilson Florêncio da Costa, décadas depois, acabaria condenado por corrupção — uma estrada muito distante da dignidade do homem que o resgatou. Enquanto isso, o filho do sargento, Sílvio Delmar Holenbach Júnior, tornou-se médico e orgulha-se de carregar o nome e o exemplo do pai: “Não importa quem seria. Ele viu uma criança em risco e prontamente agiu para salvá-la.” Eis a essência do verdadeiro heroísmo: socorrer sem buscar aplausos, sem pesar consequências, sem julgar quem merece ou não ser salvo.

Esse contraste lembra as palavras instigantes de Cazuza, na canção “Ideologia”, lançada em 1988: “Meus heróis morreram de overdose.” Uma metáfora ácida, escrita em tom de denúncia e desencanto, que criticava a perda de valores, o esvaziamento dos ideais e o triunfo da superficialidade sobre a essência. Quase quarenta anos depois, a crítica permanece assustadoramente atual: os “heróis” de hoje vivem de aparições em reality shows, faturam milhões por um post patrocinado ou uma opinião vazia, enquanto os verdadeiros heróis seguem quase anônimos, enfrentando tragédias reais.

O Brasil, infelizmente, só se lembra desses heróis quando a dor explode em manchetes. Como aconteceu em Janaúba, Minas Gerais, há oito anos. Em 5 de outubro de 2017, um vigilante incendiou a Creche Gente Inocente, matando 14 pessoas — dez delas crianças. Naquele dia, a professora Heley de Abreu Silva Batista tornou-se um símbolo: lutou contra o agressor, retirou dezenas de crianças das chamas e morreu com 90% do corpo queimado. Heley foi uma verdadeira socorrista, uma heroína que não usava uniforme, mas fez o que socorristas fazem, que heróis fazem: agiu, mesmo sabendo que poderia morrer.

Mais recentemente, em Piquete, interior de São Paulo, um bebê de apenas 17 dias voltou a respirar graças ao ato rápido e preciso de um socorrista do SAMU. Um gesto que não ganhou trending topics, mas salvou um futuro inteiro. Esse profissional não teve seu nome estampado em manchetes; permanece como símbolo do anonimato dos verdadeiros heróis, cujos “superpoderes” são, na verdade, coragem, estudo, treinamento incansável e, sobretudo, humanidade.

São milhares de histórias assim, ignoradas pela pressa e pela memória curta. Porque nossos verdadeiros heróis não viralizam: eles não têm tempo para isso. Estão ocupados demais, todos os dias, salvando vidas.

A história de Sílvio Delmar Hollenbach, a tragédia de Janaúba, o socorrista que salvou um bebê engasgado, todos eles lembram ao Brasil uma verdade desconfortável: heroísmo não é espetáculo; é escolha, sacrifício, entrega. Enquanto isso, a sociedade continua idolatrando celebridades de ocasião, pagando fortunas por futilidades, esquecendo-se dos heróis que importam de fato.

Como escreveu Cazuza, “Ideologia! Eu quero uma pra viver.” Talvez seja hora de reconstruir a nossa ideologia: uma que reconheça, apoie e valorize quem salva vidas sem perguntar a quem, quem constrói futuros mesmo que custe o próprio. Uma sociedade que faça dos atos de coragem a sua verdadeira bandeira, porque, em tempos de superficialidade, ainda é possível encontrar heróis. Eles existem! Mas quase sempre, passam sem serem vistos.

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Luciano Cardoso

É advogado inscrito na OAB/GO. Membro do Instituto Goiano do Direito do Trabalho. Membro e Conselheiro Fiscal da Associação Goiana da Advocacia Trabalhista - AGATRA. Membro da Comissão de Direito Empresarial da OAB/GO. Chefe do Departamento Jurídico da Companhia de Urbanização de Goiânia - COMURG.
E-mail: [email protected].

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