O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, criticou nesta quinta-feira (19/9) as medidas do governo federal para combater as queimadas que assolam o país. Durante uma reunião no Palácio do Planalto com ministros e representantes de 11 estados, Caiado afirmou que os recursos destinados a Goiás são insuficientes para lidar com a gravidade da situação. “Qual é o significado de quinhentos e poucos milhões de reais numa situação como essa? Goiás receberá apenas R$ 13 milhões, enquanto nossos prejuízos já ultrapassam R$ 1,5 bilhão”, afirmou o governador, ressaltando que 102 mil hectares de áreas produtivas já foram destruídos.
O Brasil enfrenta uma seca histórica, com a falta de chuvas e altas temperaturas intensificando os incêndios em importantes biomas, como Amazônia, Cerrado e Pantanal. Até 9 de setembro, cerca de 18 milhões de hectares já haviam sido queimados nesses biomas, uma área equivalente ao estado do Paraná. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva reconheceu o desafio durante a reunião, afirmando que o país não está preparado para lidar com esses eventos extremos. “Nós tivemos, nos últimos dias, um agravamento da situação no Brasil. O dado concreto é que hoje não estamos 100% preparados para cuidar dessas coisas. As cidades e estados não têm a estrutura necessária”, disse Lula.
Por outro lado, Caiado, apesar de reconhecer as limitações impostas pelo clima, foi contundente ao criticar a atuação do governo federal e a alocação de recursos. Para o governador de Goiás, a resposta do Planalto tem sido insuficiente diante da gravidade da crise. Ele apontou como exemplo o montante de R$ 13 milhões destinado a Goiás, enquanto os prejuízos no estado já superam R$ 1,5 bilhão, com 102 mil hectares de áreas produtivas destruídas pelo fogo. “Qual é o significado de quinhentos e poucos milhões de reais numa situação como essa?”, questionou Caiado, defendendo uma abordagem mais descentralizada.
A crítica de Caiado reflete uma insatisfação crescente entre alguns governadores que, embora reconheçam a gravidade da situação, cobram do governo federal mais eficiência e flexibilidade na execução das políticas de combate ao fogo. Caiado sugere que os estados deveriam ter maior autonomia para implementar suas próprias estratégias de enfrentamento, argumentando que cada região tem suas peculiaridades e que Brasília não pode decidir uniformemente para todos. “Não podemos aceitar que Brasília tente decidir por todos os estados”, afirmou.
O contraponto entre as visões de Lula e Caiado traz à tona uma questão central no debate ambiental: a coordenação entre os entes federativos. De um lado, o governo federal parece apostar em soluções amplas e na liberação de recursos emergenciais, como os R$ 514 milhões anunciados para o combate às queimadas e à seca na Amazônia. De outro, governadores como Caiado demandam maior agilidade e eficiência nas respostas, além de uma revisão na legislação para endurecer as punições a crimes ambientais. Para Caiado, a revogação da lei goiana que tornava o crime de incêndio inafiançável foi um retrocesso, já que as prisões de incendiários, segundo ele, têm se mostrado ineficazes.
Além do debate sobre a alocação de recursos e autonomia dos estados, o enfrentamento das queimadas também está intimamente ligado a questões mais amplas de governança ambiental no Brasil. A falta de um planejamento integrado, com estratégias de prevenção e combate coordenadas entre União, estados e municípios, compromete a efetividade das ações. No entanto, as críticas de Caiado não são isoladas. Governadores de outras regiões, como o Centro-Oeste e Norte, também manifestaram preocupações semelhantes, apontando que a liberação de recursos federais chega tarde ou em valores insuficientes.
A crise das queimadas no Brasil, agravada pela seca histórica e temperaturas recordes, revela um dilema persistente na política ambiental do país: a necessidade de equilibrar a atuação centralizada do governo federal com a capacidade de resposta local dos estados. Com biomas como o Cerrado, a Amazônia e o Pantanal em chamas, as divergências entre Lula e Caiado ilustram a complexidade de se lidar com uma crise que exige tanto soluções imediatas quanto mudanças estruturais a longo prazo.