Todas as comunidades políticas do passado, assim como as do presente, modelaram seus organismos políticos por meio de normas e condutas destinadas a regulamentar sua atuação em função de necessidades específicas, ditadas pelo povo.
No século V a.C, especificamente em Atenas na antiga Grécia, o Ostracismo foi um tipo de punição existente, na qual, o cidadão, geralmente um político, que atentasse contra a liberdade pública ou política, era votado pelos outros cidadãos para ser banido ou exilado, por um período de dez anos, foi o berço da prática oposicionista responsável.
Não raro ouvimos brados de “farei uma oposição responsável”, algo que ecoa Brasil afora, geralmente proclamado por pseudos opositores derrotados, seja no âmbito Municipal, Estadual, Federal e até mesmo na política classista.
Em brilhante e histórico pronunciamento o então Deputado Federal Gilberto Kassab disse nos idos do ano de 2003 que: “No regime democrático, a contribuição oferecida pelos homens públicos para o bem comum, tanto pode ocorrer no exercício de funções de Estado, como em tarefas de governo, assim como através da representação popular delegada pelo voto dos cidadãos. Nas funções executivas e legislativas cabe, ainda, o papel característico de situação e de oposição e, cada um deles, oferece dificuldades próprias e responsabilidades características”, algo que visto e analisado atualmente mostra contornos de previsão.
A oposição é essencial ao povo, à democracia, aos governos, ao sistema e aos líderes, eis que assegura uma vigilância constante, atenção redobrada e desperta a necessária diferenciação propositiva, eis que “Só é possível testar e avaliar a coerência e a qualidade de uma proposta se pudermos cotejá-la com outras e, nesse sentido, a missão crítica de oposição é fundamental para a sociedade democrática”. (Kassab – 2003)
Assim, a ausência de oposição ou a inércia desta em sua essência de criticar e propor alternativas, na verdade atrai tanto à Oposição quanto aos líderes, a pena Greciana do Ostracismo.
Assim, querer destruir ou acabar com a Oposição – seja por meios ortodoxos ou não, na verdade é atentado contra a própria história da liderança conquistada inegavelmente por meio de uma oposição outrora exitosa na sua essência – e um convite ao Ostracismo.
O líder político que tem confiança absoluta em suas decisões, nas escolhas da caminhada, nas composições, na gestão e no futuro, sem o espinho da crítica oposicionista necessária, na verdade pode ser equiparado a um ditador, que pouco se importa com a opinião pública.
Assistimos no recente cenário político brasileiro a inegável arrogância de um líder que, sem uma oposição firme e necessária, responsável e inteligente, se encontrou em um lugar de aparente calmaria, mas que na verdade foi um convite ao Ostracismo.
Não raro observamos e, em alguns casos detectáveis pela proximidade, em gestões em andamento, a mesma armadilha que já levou muitos ao Ostracismo e parece que as lições do passado não serviram de alerta, pois a inebriante sensação de gerir/governar sem oposição parece inevitável.
A ausência de interesse em relação ao sentimento de aprovação ou não das decisões tomadas ou a serem tomadas é o termômetro da proximidade do convite greciano aos líderes.
Igualmente, a letargia oposicionista convida a um terreno perigoso de esquecimento e de fracasso, leva ao Ostracismo pela passividade e pela incompetência de não assumir as responsabilidades que cabe à quem foi colocado na obrigação de desempenhar fundamental papel.
Assim, ao contrário do que estamos assistindo, a oposição é e será, necessariamente, responsável pela contribuição e construção da democracia e do pluralismo no pensamento político, quer seja partidário ou classista, dessa forma garantido estará os interesses democráticos, republicanos e plurais.
Cada ator desse cenário tem suas responsabilidades, o líder em entender o papel fundamental da oposição e a sua essência e assim não querer o seu fim e a oposição em desempenhar bem suas funções delegadas pelo sistema democrático.
Que lembremos de Petrarca, o poeta italiano do século XIV que disse que “Mar calmo não faz bom marinheiro”, sem esquecer da celebre frase de Ulisses Guimarães que, parafraseando Fernando Pessoa, disse em 1978 que “Navegar é preciso”.