A declaração final do G20 Social, divulgada neste sábado (16), pressiona os governos dos países do grupo a adotarem metas mais audaciosas no combate às mudanças climáticas e às desigualdades sociais. O documento foi construído com contribuições de diversas entidades e organizações da sociedade civil, que participaram ativamente das discussões realizadas ao longo dos três dias do evento.
Entre os pontos destacados está a taxação de grandes fortunas como estratégia para financiar políticas sociais e ambientais. Para o Observatório do Clima, rede que reúne entidades ambientalistas brasileiras, o tema é central.
“Os países do G20 concentram 80% da riqueza global e são responsáveis por cerca de 80% das emissões de gases de efeito estufa. Não há justificativa para a falta de recursos climáticos enquanto os bilionários não forem taxados de forma justa. A taxação progressiva dos super-ricos é essencial para financiar a adaptação climática e a transição energética justa”, argumentou a entidade em nota oficial.
O G20 Social, uma inovação introduzida pelo governo brasileiro, ocorreu entre os dias 14 e 16 de novembro. Pela primeira vez, reuniões da sociedade civil foram integradas à agenda oficial do G20, reforçando o diálogo entre lideranças governamentais e representantes sociais.
A declaração final, que sintetiza as propostas consensuais do evento, foi entregue ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ele levará o documento à Cúpula dos Líderes do G20, marcada para os dias 18 e 19 de novembro. Este será o último ato do Brasil na presidência rotativa do grupo, que passará o comando para a África do Sul.
Taxação dos super-ricos divide opiniões
O debate sobre taxar grandes fortunas ganhou força durante a presidência brasileira do G20. O Brasil defende um imposto mínimo global para evitar guerras fiscais entre nações, mas enfrenta resistência, especialmente dos Estados Unidos, que preferem tratar o tema internamente.
Elisabetta Recine, coordenadora de relações internacionais da Rede Penssan e presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), destacou a relevância do tema. “A taxação dos super-ricos une agendas de justiça climática, alimentar e fiscal. É inaceitável que grandes fortunas paguem proporcionalmente menos impostos que trabalhadores. Precisamos enfrentar essa desigualdade estrutural”, afirmou.
Além da taxação de fortunas, o documento final do G20 Social aborda desigualdades sociais, fome e pobreza, transição energética justa e a necessidade de reformas em instituições internacionais como a ONU e o FMI.
Para Renato Godoy, gerente de relações governamentais do Instituto Alana, o evento foi marcado pela pluralidade de temas. “A declaração reflete a qualidade dos debates e a amplitude das propostas da sociedade civil brasileira e mundial para as crises globais”, destacou.
A criação da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza foi uma das principais iniciativas discutidas. Proposta pelo Brasil, a aliança busca mobilizar apoio político, recursos financeiros e conhecimento técnico para combater a insegurança alimentar. A iniciativa conta com o apoio do Banco Mundial e já recebeu adesão de diversos países.
Enquanto os líderes do G20 se reúnem, organizações sociais intensificam a mobilização. Na segunda-feira (18), o Observatório do Clima promove um protesto no Rio de Janeiro, como parte da campanha “Taxa os Bi”. A ação visa pressionar os governos a adotar políticas de justiça fiscal que financiem soluções para a crise climática e a desigualdade social.
Sônia Mara Maranho, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), reforçou a importância da luta popular. “Esperamos que o presidente Lula leve essas propostas à cúpula e dialogue com governos e grandes corporações. Mas sabemos que o desafio maior é mobilizar força enquanto classe trabalhadora para enfrentar as estruturas de exploração capitalista”, afirmou.