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As redes sociais como terreno fértil para o surgimento de núcleos neonazistas


Rodrigo Zani Por Rodrigo Zani em 27/01/2025 - 08:00

Foto: Reprodução

As redes sociais desempenham um papel transformador na sociedade contemporânea. Elas se tornaram ferramentas essenciais para integração entre grupos e indivíduos, possibilitando a troca de informações, a criação de comunidades e o desenvolvimento de negócios, como o comércio eletrônico. No mundo globalizado de hoje, as plataformas digitais são fundamentais para resolver problemas cotidianos, como a busca por emprego, a aprendizagem de novas habilidades e o fortalecimento de laços sociais, além de servirem como canais de apoio em diversas áreas. No entanto, como qualquer ferramenta poderosa, as redes sociais também podem ser usadas para fins nefastos. E é nesse contexto que surge uma das questões mais alarmantes dos tempos atuais: a proliferação de grupos neonazistas e fascistas, que encontram nas plataformas digitais um terreno fértil para disseminar ódio, intolerância e discursos de incitação à violência.

Não podemos negar os benefícios imensos que as redes sociais oferecem. Elas democratizam o acesso à informação, promovem a inclusão e permitem a comunicação entre pessoas de diferentes culturas, países e contextos. As plataformas digitais facilitaram, por exemplo, a popularização do e-commerce, conectando pequenos empreendedores a consumidores globais. Além disso, em momentos de crise, como desastres naturais ou emergências de saúde pública, as redes têm sido cruciais para organizar campanhas de arrecadação, fornecer informações rápidas e conectar vítimas a recursos.

Porém, quando mal utilizadas, essas mesmas redes sociais podem ser um palco para a disseminação de ideologias prejudiciais e destrutivas, sendo um canal de promoção de intolerância e violência. E é exatamente nesse ponto que o nazismo e o fascismo, duas das ideologias mais cruéis da história, ressurgem no debate público de maneira preocupante.

O nazismo e o fascismo são movimentos políticos que marcaram tragicamente o século XX. O nazismo, liderado por Adolf Hitler, surgiu na Alemanha nos anos 1930 e pregava uma ideologia supremacista, racista e antissemita. A sua principal característica era a crença na superioridade da “raça ariana” e a perseguição brutal a judeus, ciganos, homossexuais e outras minorias. Em sua busca pela “purificação racial”, o regime nazista causou a morte de milhões de pessoas, culminando no Holocausto, onde cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados.

Por outro lado, o fascismo, liderado por Benito Mussolini na Itália, também tinha como princípios a glorificação do Estado, o culto à violência e a repressão das liberdades individuais. O fascismo se expandiu por diversas partes da Europa, incluindo a aliança com os nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, contribuindo para a morte de milhões de pessoas. Enquanto o fascismo italiano não tinha a mesma obsessão pela “pureza racial” do nazismo, compartilhava com ele a ideologia autoritária e anticomunista.

Ambos os movimentos, que levaram o mundo a um dos períodos mais sombrios da história, terminaram tragicamente. Hitler, após a derrota da Alemanha na Segunda Guerra Mundial, cometeu suicídio em 30 de abril de 1945, quando as tropas soviéticas se aproximavam de Berlim. Mussolini, por sua vez, foi capturado e executado por partisanos italianos em 28 de abril de 1945, tendo o seu corpo exposto publicamente como símbolo de derrota e revolta popular.

Infelizmente, a morte de Hitler e Mussolini não significou o fim das ideologias neonazistas e fascistas. Ao contrário, estas ideologias, que haviam sido marginalizadas após a Segunda Guerra Mundial, estão passando por um renascimento nos dias de hoje, alimentadas principalmente pelas redes sociais. O que vemos agora é um movimento crescente de neonazismo e neofascismo, cujos adeptos se escondem atrás da liberdade de expressão para divulgar mensagens de ódio, racismo, misoginia e xenofobia.

Esses grupos frequentemente utilizam as plataformas digitais para organizar eventos, compartilhar discursos de incitação à violência e promover teorias da conspiração, como a ideia de que determinadas “raças” ou “etnias” são inferiores, ou que a presença de imigrantes é uma ameaça à cultura local. Muitos desses discursos são anti-imigrantes e xenofóbicos, voltados contra muçulmanos, refugiados e populações negras e indígenas. O mais alarmante é que alguns influenciadores e lideranças políticas não disfarçam mais seus vínculos com esses movimentos, exibindo simbolismos como a suástica, o “saluto romano” (o gesto de saudação fascista) ou frases de efeito associadas ao nazismo e ao fascismo.

A proliferação desses grupos é visível em diversas plataformas, como Facebook, Instagram, Twitter e Telegram, onde seus membros trocam informações, distribuem propaganda e recrutam novos adeptos. De acordo com um estudo do Center for Countering Digital Hate, cerca de 3,5 milhões de postagens com conteúdo neonazista e racista são publicadas anualmente em plataformas sociais, alcançando milhões de pessoas.

É imperativo que as redes sociais, como ferramentas poderosas de comunicação, sejam utilizadas de maneira responsável. A proliferação de grupos neonazistas e fascistas nas plataformas digitais exige uma resposta eficaz dos governos e das empresas responsáveis pelas redes sociais. A regulamentação dessas plataformas é necessária para evitar que elas se tornem um espaço onde o discurso de ódio e incitação à violência prospere livremente.

A regulamentação das redes sociais deve envolver uma ação mais firme contra conteúdos de ódio, a identificação e a punição de líderes desses grupos e a criação de mecanismos que impeçam a disseminação de ideologias extremistas. Além disso, é fundamental que exista uma punibilidade exemplar para aqueles que estimulam ou participam desses movimentos, a fim de deslegitimar e enfraquecer essas ideologias. A criação de uma legislação mais rigorosa, com punições para quem promove violência ou discriminação nas redes, é essencial para garantir a segurança e a integridade da sociedade.

As redes sociais têm um potencial imenso para o bem, mas, quando usadas para disseminar ódio e intolerância, tornam-se uma ameaça à democracia e aos direitos humanos. O renascimento do neonazismo e do fascismo nas plataformas digitais é um reflexo preocupante de como essas ferramentas podem ser usadas para incitar violência, discriminação e divisão. Portanto, é urgente que haja uma regulamentação mais rigorosa e uma ação efetiva para coibir a disseminação de discursos de ódio, assegurando que as redes sociais cumpram sua função de promover o bem-estar, a convivência pacífica e o respeito às diferenças.

 

Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

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