A frase “o Brasil é o país do futuro” soa cada vez mais como ironia amarga quando observamos o estado da educação pública. Um país onde a exclusão ao ensino de qualidade é histórica, persistente e estruturante não conseguirá jamais alcançar um desenvolvimento real — nem econômico, nem social, nem humano.
A exclusão educacional no Brasil é um projeto antigo. Desde o período colonial, passando pelo Império e pela Primeira República, a educação sempre foi um privilégio de elites. Esse padrão foi aprofundado durante a ditadura militar (1964–1985), quando o acesso à educação pública de qualidade era restrito a uma minoria privilegiada. A ênfase do regime estava em formar mão de obra técnica para o mercado, e não em promover cidadania. O ensino básico era negligenciado e as universidades públicas, embora gratuitas, eram acessíveis a poucos. A censura e o controle ideológico ainda sufocaram a produção de conhecimento nas universidades.
Com a redemocratização, houve avanços — como a criação do FUNDEB, a expansão das universidades federais e políticas de cotas. No entanto, esses avanços foram lentos, tímidos e continuam aquém do necessário para uma nação que almeja justiça social. Segundo a Pnad Contínua de 2023 (IBGE), mais de 9 milhões de brasileiros são analfabetos (cerca de 5,6% da população com 15 anos ou mais). Mas o problema é ainda mais profundo: o Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf) revela que 30% dos brasileiros são analfabetos funcionais, ou seja, mesmo sabendo ler e escrever frases simples, não conseguem interpretar textos ou realizar operações matemáticas básicas.
Além disso, apenas 21% dos jovens entre 18 e 24 anos frequentam ou concluíram o ensino superior (Censo da Educação Superior, 2022). A evasão nas universidades públicas e privadas continua alta, agravada por questões econômicas e estruturais.
O ensino público fundamental e médio, que deveria garantir o acesso igualitário ao conhecimento, sofre com falta de infraestrutura, baixos salários de professores e defasagem curricular. De acordo com o Todos Pela Educação, 7 em cada 10 alunos do 3º ano do ensino médio não aprendem o mínimo esperado em matemática, e 5 em cada 10 não sabem o básico de português.
A situação piora no campo da ciência e pesquisa, áreas essenciais para a soberania e o desenvolvimento tecnológico de qualquer nação. O Brasil trata com desdém seus pesquisadores. O valor das bolsas de mestrado e doutorado do CNPq e da Capes esteve congelado por 10 anos, sendo reajustado apenas em 2023, para valores ainda insuficientes (R$ 2.100 e R$ 3.100, respectivamente), muitas vezes abaixo do salário mínimo por hora de trabalho dedicado.
Esse descaso gera uma evasão silenciosa de cérebros. Jovens com talento e vocação científica acabam abandonando suas pesquisas ou migrando para o exterior, onde são valorizados. O resultado é um desperdício brutal de potencial humano e intelectual. Um país que marginaliza seus talentos não constrói um futuro: cava o próprio atraso.
Enquanto países como Coreia do Sul, Finlândia e China investiram pesadamente em educação e colhem os frutos com inovações tecnológicas, crescimento econômico e redução das desigualdades, o Brasil ainda trata a educação como gasto, não como estratégia nacional. Nenhum país no mundo se desenvolveu plenamente sem investimentos adequados, contínuos e volumosos em educação, ciência e pesquisa.
Se o Brasil quiser, de fato, se tornar o país do futuro, precisará deixar de sabotar sua juventude e seus educadores. A transformação não será mágica nem imediata, mas precisa começar com vontade política, financiamento robusto e um pacto nacional pela educação pública de qualidade. O atraso educacional não é um destino — é uma escolha. E é hora de o país fazer outra escolha.