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“A prioridade de Vanderlan é a eleição em Senador Canedo”

Segundo vereador, seu sonho de se candidatar foi antecipado devido às atitudes autoritárias do presidente do PSD, senador Vanderlan Cardoso, que favorece apenas um grupo


Andréia Bahia Por Andréia Bahia em 03/03/2024 - 00:00

O vereador Lucas Kitão acalentava o sonho de ser candidato a prefeito de Goiânia, cidade onde nasceu, acreditando que resolver o problema da capital depende de uma boa gestão comandada por uma pessoa que gosta de Goiânia. Ele garante que não faltam recursos. “Goiânia arrecada de R$ 7 a R$ 8 bilhões por ano. É só querer.” Mas o sonho não era para esta eleição, no entanto, foi antecipado em razão das atitudes do presidente do PSD, senador Vanderlan Cardoso, que, segundo Kitão, comanda o partido de forma autoritária e beneficiando apenas um grupo. O vácuo de candidaturas também o estimulou, confessa. Ele lançou sua pré-candidatura na terça-feira, 27, trazendo à tona a divisão em que se encontra o PSD, e promete deixar a legenda caso Vanderlan não amplie o debate interno sobre o processo eleitoral.

TRIBUNA DO PLANALTO – Como está a tramitação do projeto que autoriza o empréstimo de R$ 710 milhões pela Prefeitura de Goiânia?

Lucas Kitão – Chamaram uma sessão extraordinária da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) na segunda-feira, 26, eu estive lá e passou mesmo assim. Mas eu já falei que o regimento proíbe votar um um substitutivo do projeto na segunda votação, que era o caso. Porque quando a emenda é uma grande intervenção, vira substitutivo. Para atender o Ministério Público, tiveram que fazer uma relação de obras e com o que vão gastar o recurso, uma grande emenda, ou seja, um substitutivo, que teria que estar na primeira votação ou protocolar um novo projeto. A outra alternativa seria uma emenda modificativa comum, que pode ser incluída na segunda votação. Não me ouviram, achando que, se passasse na CCJ, ia sanar o problema. Na quarta-feira, 28, fizemos um recurso administrativo, até porque se eu fosse depois ajuizar um mandado de segurança ou um pedido liminar, teria a justificativa de ter tentado em todas as instâncias administrativas, não fui atendido, por isso estou mostrando esse erro na tramitação para pedir a suspensão. Eles voltaram atrás e, depois de a sessão ficar uma hora suspensa, a prefeitura mandou retirar o substitutivo e a vereadora Sabrina Garcez pediu para o projeto ser encaminhado à Comissão de Finanças. Pelo que entendi, vão só mudar o título, o conteúdo é o mesmo; dizer que é uma emenda modificativa aditiva, o que seria uma forma de burlar o regimento.

Esse substitutivo atende às orientações do MP. Sem essas alterações o projeto não pode ser votado? 

Exato. Se for um conteúdo semelhante, mudando só o título, também está errado, porque a lógica do regimento é: para fazer uma grande mudança no projeto, para dar mais segurança de constitucionalidade e de formalidade, só pode ser feito até a primeira votação, porque daí o projeto vai para a CCJ ser apreciado quanto à constitucionalidade. Dali para a frente, fica meio que um jabuti muito maior, porque se inclui na última votação, passa só mais uma vez pelo Plenário. Não tem análise de constitucionalidade, não tem muita formalidade e fica mais fácil de aprovar sem a devida análise. Acho que a prefeitura optou por esse caminho porque seria só mais uma votação e mais rápido. O presidente Romário Policarpo avisou que estava errado, a prefeitura insistiu, fizemos a mobilização e perceberam que podia dar problema. São aquelas coisas da prefeitura, tudo atabalhoado, manda sem pensar. Quando se arquiva um projeto sob determinado tema, só pode apresentar um semelhante no ano seguinte. Só que isso só vale para os vereadores; o Executivo pode quantas vezes for preciso. A prefeitura poderia ter mandado outro projeto e era o caminho mais seguro, porque em tudo que foi enviado daqui para a frente podemos encontrar uma falha. Se fosse um novo projeto, respeitando os prazos, seria tranquilo.

O substitutivo atende às suas expectativas em relação à diligência que chegou a pedir sobre o projeto no ano passado?

Atende o que o Ministério Público tinha exigido e o que eu havia pedido também, que era direcionar esse recurso. Só que havia um artigo no substitutivo que ainda permitia remanejar esse recurso entre aquelas obras mencionadas. Além disso, há um problema político. Eu continuo não concordando porque não faz sentido um empréstimo no ano da eleição que não é para resolver um problema emergencial da cidade. Se fosse pensar no que é mais urgente, seria coleta, limpeza urbana, educação, saúde, que estão colapsando, e o prefeito fecha os olhos para isso, pega recurso emprestado para fazer a obra que ele acha que vai dar o impacto eleitoral, fazer um mutirão por semana para tentar ficar conhecido. Eu não concordo com a atitude da prefeitura de pegar dinheiro emprestado para tentar viabilizar eleitoralmente, correndo o risco de esse recurso não chegar a tempo dessas obras e o dinheiro ficar sem destinação ou pagar fornecedor. O resumo é que essa dívida vai ficar para o município e essa gestão está de passagem.

Por que resolveu se antecipar ao senador Vanderlan Cardoso, que disse que iria lançar a pré-candidatura a prefeito de Goiânia nos próximos dias, e anunciar a própria pré-candidatura?

Ele já tinha falado isso várias vezes, era para ser em janeiro, em fevereiro e ele vai sempre protelando essa discussão, e eu estava vendo a prioridade dele e da direção do partido na campanha de Senador Canedo. O PSD é um partido muito grande para ficar aguardando a decisão do grupo dele para começar a discutir a cidade, ouvir a população, formular um plano de ação e propostas, para protagonizar a eleição municipal como sempre fez. Estamos acostumados a ver o PSD com candidatura própria no segundo turno, ou com novidades bem atraentes, inovadoras, como foi aquela do Francisco Junior. Por outro lado, as provocações dos filiados e da militância que querem participar e a minha preocupação de montar chapa competitiva, de atrair novos quadros, além desse vazio de candidaturas que representam o que eu acredito para a cidade. Não tem nenhuma candidatura que ofereça uma solução conectada com a Goiânia de hoje. O que se vê são projetos importados de outras cidades, que deram certo anos atrás e que querem enquadrar em Goiânia sem combinar com a população. Não acho que este é o caminho e o que estamos propondo é uma candidatura que não nasce no seio desses acordos partidários, políticos; estamos fazendo o caminho inverso. Vamos oferecer o que pensamos para a população, ouvir o que os goianienses estão pensando e criar uma proposta mais conectada. Depois, vamos viabilizar partidariamente. Todo mundo reclama de não ter jovens lideranças na disputa, mas é muito difícil e eu estou sentindo isso na pele. Eu quero construir um projeto bacana, de alguém que pensa a Goiânia dos goianienses, feito nos bairros, com as associações, as entidades, algo moderno, inovador, com amor por Goiânia. Goiânia está do jeito que está não é só porque faltam bons gestores, é porque falta gente que gosta da cidade.

O senador Vanderlan foi comunicado da decisão de se lançar candidato a prefeito? A direção diz que foi pega de surpresa.

As últimas conversas que tivemos foi no sentido de começar a discussão e ela não não andou, por isso essa nossa reação de dar o pontapé inicial e estimular que isso aconteça o mais rápido possível. Justamente porque está todo mundo esperando, querendo participar e opinar, e essa foi a forma que encontramos de furar essa bolha e dizer: o PSD é muito grande para ficar aguardando. Nós estamos dando um pontapé inicial.

O fato de ele ter filiado a mulher, Izaura Cardoso, ao PSD e lançado a candidatura a prefeita em Senador Canedo influenciou sua decisão?

Foi um conjunto de fatores e isso pode ter contribuído, justamente porque ficou claro que a direção do PSD não está preocupada com o partido todo, a preocupação é com um grupo muito restrito. São decisões autocráticas em torno de um grupo só e o resto do partido não participa das decisões, não opina, não trabalha, não tem oportunidade de sugerir, não tem essa conexão com os filiados. Esse é o problema.

O ex-presidente do partido, Vilmar Rocha, estava presente no lançamento. O PSD está dividido?

O PSD tem se dividido com essas posturas. Não é que hoje seja bem claro isso; pelo contrário. A divisão se dá quando alguns fazem e outros discordam. A partir do momento que houver esse diálogo, todo mundo com certeza vai contribuir; e o PSD é um partido típico de quem gosta mesmo de participar. Os movimentos do PSD são muito ativos, as campanhas do PSD têm participação dos filiados que estão ali desde a fundação, que contribuem com as propostas e que fazem planos de governo. O PSD é esse partido. Hoje, esse pessoal que é participativo tem ficado à margem. Se tiver diálogo, se tiver essa interação, com certeza o partido vai se unir, mas hoje o contexto é esse.

O senhor disse que vai buscar o apoio do governador Ronaldo Caiado. Com qual o argumento? O vazio de candidaturas que representam esse grupo?

Sim, inclusive a falta de candidatos com propostas novas. Até porque ele tem uma avaliação recorde e essa eleição passa pelo crivo dele, que vai ter um peso determinante. Mas quero deixar claro que primeiro temos que fazer essa discussão interna no PSD e vencer. Ou Vanderlan pode dizer: eu vou decidir como eu quiser, sou presidente, e eu vou ter que procurar abrigo. Enquanto isso eu vou correr para viabilizar a minha campanha. Eu sei que hoje não tem como Vanderlan definir isso porque não é prioridade, ele tem outras. É de interesse nosso, vamos procurar esse apoio, mas primeiro temos que vencer essa questão do debate interno no PSD.

As prévias são obrigatórias se houver mais de um pré-candidato?

Não são, mas na minha visão são o processo mais democrático de escolha. Na candidatura de 2016, do Francisco Júnior, houve um processo, em tese, de discussão. Na época, o Virmondes Cruvinel também pleiteava e o diretório proporcionou esse debate, fez um negócio bacana. Naquela campanha o PSD saiu fortalecido. Nas campanhas americanas, os partidos começam as prévias bem mais cedo, porque são a oportunidade do eleitor conhecer os candidatos, do partido divulgar suas propostas, seu plano de ação e o próprio candidato ficar mais conhecido e ter suas ideias difundidas. Vimos isso com o PSDB quando resolveram fazer prévias presidenciais. Acho que o partido ganha com isso.

Qual será o próximo passo nesse processo de consolidar a pré-candidatura?

Ter uma definição: o PSD vai lançar candidato? O PSD vai me dar oportunidade de discutir, de participar e da gente fazer essa escolha coletiva? Não, vai ser autocrática, como tem se demonstrado? Então, a partir daí eu defino.

Sai do PSD?

Se eu sentir que a minha campanha está crescendo, eu vou procurar um abrigo. A preferência é pela casa em que eu resido, mas se lá eu não for bem recebido pela direção, eu vou buscar viabilizar fora.

A candidatura a prefeito é irreversível?

Um passo por dia. Hoje é minha prioridade número um, até porque acho que tem essa brecha nas candidaturas e eu tenho tempo para trabalhar. Eu preciso saber do retorno dos goianienses sobre essa ideia. O primeiro passo eu dei, estou disposto a enfrentar essa batalha, e agora dependo da resposta dos goianienses para continuar na luta, porque o combustível de qualquer pré-candidatura são as intenções de voto e os apoios partidários. Isso tende a acontecer e estamos num ritmo acelerado de pré-campanha para poder entender se é mesmo um projeto bem-vindo.

Adriana Accorsi e o PT já disseram ter interesse em uma parceria com o PSD. As conversas de Vanderlan com o PT tem algo a ver com essa decisão? 

Este é o ponto que nos incomoda, porque essas conversas surgem e não temos ideia do que pode acontecer. O que me preocupa e me fez dar o passo é que, enquanto ouvimos essas conjunturas todas, o PSD não lançou pré-candidatura, não construiu chapas. Nós vamos ficar parados, aguardando a direção ver o que é melhor para o grupo deles? Ou vamos dar o passo que a gente espera que o partido dê para fazer uma discussão com a cidade, apresentar um projeto a altura de Goiânia?

Caso sua pré-candidatura avance, qual aliança partidária seria favorável a ela?

Tive uma surpresa positiva; o presidente do Novo, Paulo Vitor Marques, esteve no lançamento e disse que um alinhamento ideológico existe nas pautas nossas, contra o aumento de impostos, redução de gastos. E realmente eu tenho esse alinhamento, porque quando preciso brigar contra o aumento do IPTU, eles ajudam; contra o empréstimo; ajudaram aquela vez que seguramos a criação da taxa do lixo; nas brigas contra o aumento da passagem do transporte. Existe essa conversa inicial que eu quero ampliar agora. Quero procurar outros pré-candidatos, o presidente da Assembleia, Bruno Peixoto, Gustavo Mendanha, Jânio Darrot para entender o que eles estão pensando e se vai ao encontro do que queremos para Goiânia. E a partir daí, vamos dialogando com outros partidos que possam nos abrir as portas. Eu estou entre divulgar o que penso para a cidade, para ter apoio e continuar firme na pré-campanha, e continuar apontando que tem de errado na cidade. Eu garanto que, dos pré-candidatos que estão na disputa, eu sou o que mais entende dos problemas de Goiânia, porque estou vivendo isso todos os dias. Eu moro aqui, estou no trânsito todos os dias, visitando as unidades de saúde, convivo com os servidores da educação, reclamo da limpeza urbana, da falta de iluminação. Eu tenho que mostrar que estou por dentro do que está acontecendo e que posso construir uma saída. Esse é meu desafio agora, e enquanto isso, aguardo as definições do partido para, se for o caso, empenhar numas prévias no PSD. Se me for negado pensar em um plano B.

Sua juventude é um bônus ou um ônus?

Eu vejo como um bônus, já algumas lideranças antigas veem como um ônus, mas sempre vai ser assim. Eu acho que é por isso que tenho passado essa dificuldade de romper essa bolha da velha política e viabilizar uma campanha majoritária sendo um jovem sem histórico político, sem presidir um partido, mas, apesar dessas resistências que existem do sistema político, nas ruas a acolhida é outra: a gente precisa de uma novidade, se coloca à disposição, estou vendo seu trabalho na Câmara. Meu desafio é provar que estou preparado e usar a juventude para mostrar que novas lideranças existem, que o goianiense vai fazer uma aposta segura.

O grupo do senhor na Câmara, o Vanguarda, perdeu força com a saída dos vereadores Markim Goyá e Gabriela Rodart, além de Willian Veloso (PL), que já havia deixado o grupo?  

Essa questão da cota de gêneros é muito instável. O Bill Guerra e o Markim já voltariam nessa cassação da chapa do PMB e há outros processos para serem julgados. O William saiu, mas acaba que hoje ele volta muito mais com o Vanguarda do que com a base, porque também está vendo as irresponsabilidades, como o empréstimo. A Gabriela foi um caso à parte, porque o caso dela era infidelidade partidária e ela voltou, saiu, mas está no caso de voltar novamente. Acho que o bloco ganhou mais em posicionamento e o que temos feito nos últimos dias muitos não fizeram em em vários mandatos, no sentido de travar o que está em excesso, de não deixar a prefeitura passar essas maluquices. Depende da ótica, tem gente que fala que estamos isolados porque não temos cargos na prefeitura, mas eu prefiro ter essa postura independente, que sempre tive, do que ter algumas indicações e ter que concordar com o que está errado. Eu prefiro estar bem lá fora do que aqui. Na minha visão, estamos fazendo um trabalho bacana, conseguindo representar quem acha que a Câmara não está fazendo o seu dever de casa de fiscalizar. E realmente acho que, nesta eleição, vamos ter o retorno disso, porque a Câmara poderia estar fazendo mais para a cidade, contribuir com a gestão, de fiscalizar, criar uma agenda positiva para Goiânia, e essa crítica eu faço internamente. O projeto do Centraliza está lá agora, um ótimo projeto, mas não se vê falar dele, ele não entra na pauta; e por outro lado, a prefeitura prefere priorizar empréstimos, venda de áreas públicas, ou seja, pautas que a sociedade realmente não quer. A Câmara pode ajudar muito a cidade e temos que concentrar o esforço nisso, destravar a cidade, votar o que é bom e priorizar a agenda positiva.