O município de Aparecida de Goiânia, vizinho de porta da capital do estado, comemora nesta semana seu centenário. Durante a maior parte de sua existência, o município viveu à sombra de Goiânia, sendo apenas mais uma cidade dormitório do grande centro. Mas isso vem mudando e, hoje, Aparecida contrata profissionais de outros municípios para suas quase 70 mil empresas. Esse foi um dos temas da entrevista com o prefeito Vilmar Mariano, que assumiu o cargo com a saída de Gustavo Mendanha, com o desafio de dar continuidade a esse processo de crescimento econômico e social do município, que segundo ele, teve início com o ex-prefeito Ademir Menezes.
TRIBUNA DO PLANALTO – Até bem pouco tempo atrás, Aparecida era considerada uma cidade dormitório, pois a maioria da população trabalhava e vivia na capital. Isso vem mudando. O último dado que temos mostra que o município soma mais de 120 mil postos de trabalho e acolhe cerca de 68 mil empresas. Como essa mudança foi possível?
VILMAR MARIANO – Foi um conjunto de coisas, de união, trabalho, gestão responsável, e chegamos nesses números. Aparecida, que era considerada cidade dormitório, hoje recebe pessoas de outros municípios para trabalhar e, agora, as pessoas vêm trabalhar aqui e voltam para suas casas à noite. O fluxo se inverteu.
Quais foram os fatores que possibilitaram essa mudança? Os municípios do entorno de capitais acabam orbitando em torno dessa capital. O que possibilitou que Aparecida deixasse essa condição e se tornasse um município autônomo?
Tudo começou com o (ex-prefeito) Ademir Menezes, na década passada, quando ele fez a desapropriação dos polos industriais e a cidade começou a se industrializar. Além disso, uma gestão responsável e muito voltada para a industrialização da nossa cidade e a união das forças políticas e empresariais do município. Com isso, conseguimos chegar a esse momento de geração de emprego e renda.
Qual o perfil econômico dessa nova Aparecida que se modificou a partir do processo de industrialização, mas que também desenvolveu o setor de serviço?
Tem as duas coisas, sendo o setor de serviço um pouco menor e o da indústria um pouco maior, mas os dois setores impulsionam a nossa economia e isso dá muitas condições para o poder público trabalhar o desenvolvimento da nossa cidade.
Como foram as negociações para a instalação da DHL, uma das maiores operadoras logísticas do mundo, na cidade?
Nós temos aqui um grande empresário, que é o Osvaldo Zilli, dono da Transzilli, e esse empresário que ajudou a trazer essa empresa para cá, tendo em vista que Zilli tem vários galpões aqui e essa empresa vai ser instalada nesses galpões. Eles acharam a logística aqui muito boa e, nesta semana, nós os recebemos para finalizar o planejamento para a empresa vir para o município. A parte de infraestrutura de uma dessas empresas, nós já conseguimos dar o start na obra, de 300 a 400 metros de asfalto para que possam vir e ter muita segurança para instalar a HDL em Aparecida.
Quando o senhor fala em boa logística, o que as empresas encontram em Aparecida que favorece a vinda delas para o município?
Quando uma empresa do porte da DHL quer vir para o município, uma multinacional, ela quer segurança, uma gestão política muito bem feita, uma gestão administrativa boa, união entre os poderes Legislativo e Executivo, e essa parceria Aparecida tem com as empresas. Faltava lá pouco mais de 300 metros de asfalto, e vamos fazer esse asfalto e tantas outras coisas que for possível, vamos fazer. Além disso, a logística e a mão de obra nossa são muito boas. São os atrativos que temos para que as empresas possam se instalar aqui.
O que vem a ser o projeto Smart City, implantado em Aparecida de Goiânia, e quais os resultados a cidade já obteve?
A cidade inteligente nasceu de um sonho do Gustavo Mendanha. Ele sempre sonhou que Aparecida se tornasse uma cidade mais voltada para o futuro, para a tecnologia. Hoje, a cidade é toda monitorada por câmeras, tem pontos de internet gratuitos para as pessoas, isso impulsionou o sonho do Gustavo. Ele viu isso em alguns países que esteve, achou interessante e trouxe essa inovação para o nosso município.
E o que esse novo conceito tem trazido de resultados para a cidade, especialmente na área de segurança?
Aparecida ainda registra altos índices de criminalidade. As pessoas falam que Aparecida não tinha muita segurança, mas isso depende do ponto de vista de quem olha. Às vezes, matava-se uma pessoa em Goiânia e jogava-se o corpo em Aparecida e o crime ficava na conta da cidade, mas não era bem isso. Eu moro aqui há 37 anos, e a cidade sempre teve muita segurança, muita tranquilidade. Mas, infelizmente, já fomos vistos como uma Baixada Fluminense, mas não pelo o que acontecia aqui, mas pelo que as pessoas falavam daqui. Os próprios veículos de comunicação diziam isso, mas não era dessa forma. A questão da segurança, tendo em vista que somos monitorados por várias câmeras, as pessoas que cometem crimes têm medo de ser pegas pela nossa Guarda Municipal, pela Polícia Militar e pela Polícia Civil do nosso município.
São quantas câmeras instaladas?
Devem estar funcionando cerca de 600 câmeras, mas nosso projeto é instalar mais de 2 mil câmeras. Mas é claro que isso ainda está em processo.
Em relação à internet, qual a área do município é coberta pela rede gratuita?
Várias praças do nosso município já têm pontos de internet gratuita, e o nosso objetivo é que todas as praças estejam com esse ponto de internet funcionando gratuitamente para à população.
Em consequência do crescimento acelerado que Aparecida experimentou nos últimos anos, a construção de infraestrutura não tinha o mesmo ritmo. Qual o percentual da cidade ainda não tem asfaltamento?
Cerca de 24%, 25% ainda não tem asfalto. Creio que neste mandato, diante de um empréstimo que vamos fazer com um banco internacional, iremos concluir o asfalto em todas as ruas habitadas do nosso município, todo ele sem exceção.
O senhor está se referindo ao empréstimo de US$ 120 milhões junto ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB) para construção de obras de infraestrutura, que está em negociação?
Sim, com contrapartida da prefeitura de R$ 30 milhões.
Qual a capacidade de endividamento da prefeitura? Qual sua situação fiscal hoje?
Esse empréstimo é avalizado pela União, e a União não iria avalizar um município que estivesse com débito na União. Aparecida está muito bem nas questões fiscais para poder contrair esse empréstimo, porque senão o banco, assim como o poder público, não iria conceder. É como o empréstimo para pessoa física, tem que ter o nome limpo, tem que ter crédito na praça para contrair o empréstimo. Aparecida de Goiânia está 100% apta para contrair esse empréstimo exatamente por isso, porque sua condição financeira é muito boa.
Além do asfaltamento, o que mais está previsto para ser financiado com esse recurso do empréstimo?
Alguns parques e quatro elevados para dar mais agilidade à mobilidade urbana.
Em relação à educação, Aparecida atende menos de 10% das crianças com idade de 0 a 3 anos, e 47% com idade entre 4 e 5, de acordo com levantamento do Instituto Rui Barbosa. Por que o município não consegue atender às metas do Plano Nacional de Educação?
Há projetos para reduzir esse déficit na educação infantil? Nosso objetivo é alcançar as metas do PNE, mas não temos estrutura. Temos mais de 40 unidades que atendem de 0 a 3 e de 4 e 5 anos, mas é impossível, com o tamanho de Aparecida, conseguirmos. Estamos fazendo o possível para bater a meta do ministério em relação ao número de vagas.
Havia obras de creches paradas em Aparecida de Goiânia que poderiam reduzir esse déficit de vagas, caso fossem concluídas. Como estão essas obras?
Nós fizemos algumas licitações e as empresas não conseguiram dar sequência às obras exatamente por causa da pandemia. Com a paralisação, houve muito acréscimo no custo do material, e as empresas estão fazendo o realinhamento de preço para retomar essas obras. Eu creio que neste ano ainda vamos dar ordem de serviço para a construção de mais 11 CMEIs na cidade de Aparecida de Goiânia. É pouco. Mas, aos poucos, vamos acabando com essa demanda.
O senhor sabe quantos CMEIs seriam necessários construir para dar conta desse déficit de vagas?
Não tenho ideia, mas são muitos. Creio que o município não está preparado neste momento, tendo em vista que não é só construir o CMEI, precisa contratar pessoas, de material humano para atender as crianças, professores, educadores, monitores e uma série de profissionais para cada CMEI. O município ainda não está preparado para isso. Mas o que der para fazer, nós vamos fazer.
Em relação à pandemia, o município adotou o escalonamento e investiu em testes e vacinas. Qual o custo da gestão da pandemia para o município e qual foi o resultado obtido?
Não tenho o custo específico da pandemia, mas tenho o total do que foi investido em todos os aspectos da área da saúde, 28%da receita líquida. A pandemia no município de Aparecida foi muito bem tratada, com muita responsabilidade pelo ex-prefeito Gustavo Medanha. Fizemos vacinação em massa e vacinamos mais que o estado todo, abrimos leitos de UTI quando foi necessário e tomamos medidas importantes para o controle da pandemia, que foi um momento difícil para todos os municípios, para o estado e para o nosso país, mas agora as coisas estão voltando aos eixos. O fato é que houve um investimento em massa para que pudéssemos ter o controle da pandemia em nosso município.
Dados do relatório do Tribunal de Contas dos Municípios de Goiás classificam Aparecida de Goiânia em relação aos critérios de transparência, em 147º no ranking. O município não investe em transparência?
O que exige a legislação nós temos feito, e a transparência nossa é muito boa. Agora, eu não sei de que maneira foi feito esse ranqueamento porque Aparecida tem sido transparente nas suas ações.
Como o senhor vê a iniciativa do deputado Paulo Cezar Martins para mudar o nome da cidade para Aparecida?
Eu acho que o que precisava era fazer um plebiscito na cidade para saber se é isso que as pessoas querem, as pessoas que moram aqui há 20, 30, 40 anos, pessoas que construíram suas famílias aqui. Eu não sei se é isso que elas querem, e nós temos que avaliar se é isso que elas querem. Eu respeito a opinião do deputado Paulo César, mas precisamos analisar e ver se é isso que o povo quer. Eu não sei.
Qual a opinião pessoal do senhor, um morador de Aparecida há 35 anos, ter o nome vinculado à Goiânia tem alguma implicação negativa?
Eu acho que isso é irrelevante. Independentemente de ser Aparecida de Goiânia, Aparecida de Goiás ou Aparecida, isso é irrelevante. O importante é que Aparecida tem feito o seu crescimento. Não importa o nome. Importante é o que nós achamos da cidade em que nós moramos.
O fato de o ex-prefeito Gustavo Mendanha ser pré-candidato ao governo em oposição ao governador Ronaldo Caiado tem influenciado a relação administrativa entre o município e o governo?
Não, até porque nunca houve essa relação administrativa. (Ronaldo) Caiado nunca veio à nossa cidade, e quando veio foi para fechar um posto de gasolina no período eleitoral. Ele não tem nos ajudado com basicamente nada. Então, não há nenhum tipo de relação administrativa do governo com a cidade de Aparecida, como Caiado não tem com vários municípios do estado.
O senhor teme perder apoio na Câmara municipal em razão da eleição estadual?
Eu tenho apoio de 25 vereadores e o relacionamento meu com a Câmara é muito bom. Eu vou discutir a minha reeleição no momento certo, o momento agora é de fazer gestão.
Mas a eleição estadual, a disputa entre Ronaldo Caiado e Gustavo Mendanha, pode influenciar na relação do senhor com os vereadores?
Em nenhum Gustavo Mendanha, tanto o prefeito como a Câmara de Vereadores. Eu não tenho dúvida disso. E vamos ganharas eleições.
O senhor assumiu uma prefeitura que vem de duas administrações muito bem avaliadas, de Maguito Vilela e de Gustavo Mendanha. Qual o seu maior desafio à frente da prefeitura de Aparecida de Goiânia?
O desafio que eu tenho nesse momento é dar seguimento a essas duas gestões quase que perfeitas na cidade de Aparecida de Goiânia, dar seguimento ao que foi feito pelo Maguito e pelo Gustavo e fazer de nossa cidade a melhor cidade para se morar do país, como é o sonho do nosso povo e da nossa gente.