Skip to content

Candidato tá errando ou tá acertando? É a estratégia, estúpido!


Vassil Oliveira Por Vassil Oliveira em 30/09/2024 - 06:00

A estratégia é o fator decisivo nas campanhas eleitorais, além das aparências.
A estratégia é o fator decisivo nas campanhas eleitorais, além das aparências. Foto: Canva.

Pra falar de campanha por aqui, tomo de empréstimo a clássica declaração de James Carville, estrategista da campanha de Bill Clinton contra George H. W. Bush, presidente dos Estados Unidos: É a economia, idiota”, disse.

“É a ‘estrategia’”, digo eu, com ênfase no ‘i’ e ignorando sem dó o assento no ‘é’. Aprendi com um sábio amigo, que por sua vez ouviu a frase nesses termos goianos de um mais sábio roceiro que já tinha visto de tudo na vida.

Quem olha para as campanhas e não respira fundo, só enxerga as amenidades, distrações e o que é feito pra incauto cidadão ver. O que vai na superfície é o que aparece quando alguém tem coceira. E quem vê a coceira, não vê a razão.

Novesforante as campanhas sem pé nem cabeça, essas que andam de acordo com o vento, o que move as ações e procedimentos é uma noção das coisas (leitura da realidade) e um método, uma técnica, um fim com seus meios. Se um candidato decide não ir nos debates nesta eleição e é criticado, agredido verbalmente e acusado de antidemocrático, não quer dizer que ele está com medo ou seja antidemocrático.

Se a autoridade que o critica e acusa não participou de debates quando foi candidato na eleição ou reeleição, ou se os assessores se esquecem que já tiveram que trabalhar para evitar desgaste para seu candidato lá atrás pudesse faltar em paz aos debates da vez, entenda: normal, não houve perda fatal de memória, foi apenas mais um dia de trabalho.

Se um candidato está falando demais em construir casas, aí tem. Certamente o eleitorado está carente disso. Se o candidato insiste que é honesto, por ir lá na pesquisa quali dele que muito provavelmente esse é um anseio da população. Se o candidato grita, não acredite em simples destempero. Aí, tem. Sem hipocrisia. Sem? Deixa pra lá.

O mais incrível que isso soa óbvio. Quem não sabe que é preciso desconfiar de tudo numa campanha? É óbvio. Mas sei lá o motivo, na hora de escrever – para quem é disso -, na hora de analisar – pra quem gosta ou o faz por profissão -, na hora do vamos ver, o óbvio deixa de ser óbvio e vira certeza de que o que é, uma jogadinha marota pra confundir o adversário, é o que não é.

Confuso, entendo. Confusa é a mente de quem sabe que um candidato está indo pra cima de outro específico, em um debate, e acha – ah, o achismo – que isso é descuido, é coincidência, é um refluxo de pensamento. O movimento calculado, então, é visto como desarticulação e erro.

Chegamos ao vaticínio muito ouvido por quem está na arquibancada: o candidato errou. Errou feio. Já perdeu. e aí, quando as pesquisas chegam, o recado do eleitor é divergente. O que mais temos são comentaristas eleitorais que fazem suas projeções e julgamentos sem combinar com o povo. Engraçado.

Olhar para uma bancada de debatedores, ou para um material de campanha, ou para o posicionamento de uma campanha, é não tentar colocar-se no lugar de quem está dentro, planejando e executando, não é ver o que vem lá. É só ver. Está menos para ver através do vídeo na vitrine e mais para olhar-se no espelho, onde se acumula o pó do próprio preconceito e limitações pontuais.

Por favor leia limitações e considere que se trata de uma observação que leva em conta que nem todos entendem ou sabem a estratégia em curso. Porém é fato que tem uma. Sempre tem, boa ou ruim – não digo de viés moral, mas de resultados colhidos -, tem.

Até ajusto o pensamento aqui sobre as campanhas de ventania incerta: mesmo nas mais perdidas em si mesmas, acaba que tem, nem que a organização e o método sejam a inexistência de si.

Compliquei, né. Quem disse que a vida é simples? Relaxa. Uma campanha em movimento carrega suas dores e suas paixões. Várias nuances e diversas orquestrações fazem uma campanha acontecer.

Inevitável caos, toda vez. Mas caos que, a exemplo dos furacões, vivem em torno de um centro. Quem conduz essa energia em direção certa, tem tudo pra ganhar. Quem se perde no turbilhão, vira isso, bala perdida. Per-di-da.

Não se trata de controlar o caos, bom reforçar. Mas de dar um tapa aqui, outro acolá, e levar tudo na direção pretendida. Garantia de vitória ninguém tem. Certeza de que a estratégia em curso é a mais correta, ninguém carrega. Todavia, fazer o dever de casa e fazer sua parte é o mínimo.

E aí voltamos ao ponto: ora, ora, se sabemos disso e é assim que funciona, por que olhar para a superfície e ‘achar’ que sabe tudo da campanha?

Eleitor quer muita coisa ao mesmo tempo. Há os que dizem que o eleitor muitas vezes nem sabem o que quer. Digam o que quiserem. Campanhas levam em conta tudo isso. E se movem pra vencer. Esta a razão delas. (A outra razão, a dos que preferem perder a deixar de querer ter razão, cabe em outro texto).

Por que não procurar ver os detalhes em jogo por aí, pelas pedras movidas, em vez de olhar o tabuleiro sem imaginar 10 jogadas à frente, é que é o mistério, pra mim. E repito: não quer dizer que o jogo está ganho pra ninguém. Se 5, 6 ou 10 jogam, naturalmente são várias as estratégias em andamento. Porém entender uma por uma é que se põe como o X da questão.

Profundidade versus superficialidade. Assim como ler uma pesquisa (interpretar os sinais dos eleitores), traçar um rumo e ser literal na execução é um “erro”, olhar para a paisagem das campanhas e não enxergar o sol e a lua que elas carregam é um despropósito, um… “erro”. E como erram aqueles que acham que sabem tudo que está acontecendo.

O que vai aos olhos, não reflete necessariamente a alma. Perdoem-me se aqui pareço alguém que quer ensinar o terço a vigário. Senhor, livrar-me deste mal. Só ando embasbacado com coisas que ouço sobre coisas que tenho vivido no âmago do ser (gostou? Estava guardada para uma ocasião especial) e que são lidas e interpretadas à luz da falta de razão completa.

Não é que me incomode com a visão alheia desembasada e por vezes despropositada. Eu não tenho é camisa pra ir ao circo. “É o picadeiro, senhoras e senhores!”

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).