Skip to content

Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro: da ascensão populista à fuga da justiça

A fuga internacional, nesse contexto, configurou não apenas uma tentativa de evasão, mas uma afronta direta ao sistema legal do país


Rodrigo Zani Por Rodrigo Zani em 12/06/2025 - 07:55

Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro em transmissão pelo canal do antigo PSL (Foto: Reprodução)

Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro representam figuras emblemáticas da ascensão da extrema direita no Brasil. Ambos emergiram como protagonistas no cenário político nacional, impulsionados por uma combinação de estratégias digitais, apoio midiático e uma narrativa que frequentemente desafiava as instituições democráticas. No entanto, suas trajetórias recentes revelam uma tentativa deliberada de escapar das responsabilidades legais, utilizando recursos financeiros e apoio internacional para evitar a justiça brasileira.

Eduardo Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, iniciou sua carreira política como agente da Polícia Federal, mas ganhou notoriedade ao se aliar ao discurso radical do pai e ao filósofo Olavo de Carvalho. Sua ascensão foi marcada por uma retórica agressiva contra instituições democráticas e uma postura alinhada à ala mais extremista do bolsonarismo. No entanto, sua trajetória não é acompanhada por uma militância consistente em causas políticas; ao contrário, ele se tornou uma figura proeminente em um movimento que se alimenta de crises institucionais e da polarização social.

Carla Zambelli, por sua vez, ganhou destaque nas redes sociais com ataques sistemáticos às instituições e frequente protagonismo em manifestações de rua. Sua ascensão política foi facilitada pela onda conservadora que varreu o país, o que lhe permitiu conquistar uma cadeira na Câmara dos Deputados. Assim como Eduardo, Zambelli não possui um histórico sólido de militância em causas sociais ou legislativas relevantes; sua relevância se deve principalmente à sua capacidade de explorar o caos institucional e a polarização para obter visibilidade política.

Durante os governos de Jair Bolsonaro, tanto Eduardo quanto Zambelli ganharam espaço e influência, apesar da falta de experiência ou vocação clara para a vida pública. Alinhados à ala mais radical do bolsonarismo, mostraram-se hostis à ciência, apoiadores de regimes autoritários e críticos constantes do sistema democrático, desafiando os fundamentos do Estado de Direito.

Zambelli esteve envolvida em diversas polêmicas que resultaram em seu isolamento político progressivo. O episódio mais grave ocorreu em 2022, quando ela perseguiu um jovem negro com uma arma em punho durante o período eleitoral, o que configurou porte ilegal de arma e gerou intensa repercussão negativa. Posteriormente, foi denunciada por contratar um hacker para invadir sistemas do Judiciário e inserir documentos falsos, inclusive mandados de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes — ações que caracterizam crimes como invasão de dispositivo informático e falsidade ideológica.

Em 2025, diante da intensificação das investigações e da iminência de responsabilização judicial, Carla Zambelli deixou o Brasil e fugiu para a Europa. Pouco tempo depois, o Judiciário brasileiro decretou sua prisão, reforçando o caráter criminoso das condutas sob investigação. A fuga internacional, nesse contexto, configurou não apenas uma tentativa de evasão, mas uma afronta direta ao sistema legal do país.

Eduardo Bolsonaro, por sua vez, também enfrenta processos judiciais, incluindo investigações sobre suas atividades e articulações políticas no exterior. Em março de 2025, o Supremo Tribunal Federal negou o pedido de apreensão de seu passaporte, após manifestação favorável da Procuradoria-Geral da República, que alegou falta de elementos suficientes para justificar a medida. Apesar disso, Eduardo renunciou ao cargo de deputado federal e se mudou para os Estados Unidos, onde passou a atuar contra o próprio país, buscando apoio político internacional para deslegitimar o sistema judiciário brasileiro e promover uma narrativa de perseguição política.

Diante das adversidades legais, tanto Zambelli quanto Eduardo adotaram a tática já conhecida do bolsonarismo: mobilizar apoio financeiro via doações por Pix e buscar refúgio no exterior. Essa estratégia serve não apenas para financiar suas defesas, mas também para alimentar o discurso de vitimização, ao mesmo tempo em que facilita a evasão das consequências legais no Brasil. Fora do país, ambos passaram a travar uma cruzada contra a democracia brasileira, atacando suas instituições e desinformando seus seguidores com teorias conspiratórias e acusações infundadas de perseguição.

Essas ações atentam contra a soberania nacional e comprometem a imagem do Brasil no cenário internacional. A democracia brasileira foi conquistada com sacrifícios profundos, por meio da luta contra a repressão e o autoritarismo. Ao se posicionarem contra as instituições democráticas e buscarem respaldo externo para deslegitimar o sistema judicial, Zambelli e Eduardo demonstram absoluto desrespeito por essa história e pelos valores constitucionais.

Carla Zambelli e Eduardo Bolsonaro ilustram como a política pode ser corrompida por figuras que, sem experiência ou compromisso com causas legítimas, utilizam crises e estratégias de polarização para ascender ao poder. Suas trajetórias recentes, marcadas por processos judiciais, tentativas de obstrução da Justiça e fuga internacional, revelam uma postura oportunista e antidemocrática. É fundamental que a sociedade brasileira esteja atenta a essas práticas e reforce seu compromisso com a democracia, a justiça e o Estado de Direito.

Aparecida de Goiânia aprova proibição de fogos com ruído

Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

Pesquisa