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Ensinar finanças se tornou urgente, mas conteúdos não serão de qualidade afirmam especialistas


Avatar Por Redação em 07/10/2021 - 00:00

Gastar menos do que recebe e ainda fazer uma poupança com parte do salário são práticas que se aprendem em sala de aula. Esse conceito faz parte do novo Programa de Edu­cação Financeira na Escola, lançado pelo Ministério da Educação (MEC) em parceria com a Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Mesmo com os problemas de déficit de aprendizagem a serem resolvidos em disciplinas fundamentais, como Lín­gua Portuguesa e Mate­mática, ensinar sobre gestão de finanças se tornou urgente para a sociedade brasileira, devido aos altos índices de inadimplência verificados durante a pandemia.

Cerca de 62 milhões de brasileiros estavam endividados até o mês de maio, mostra o Mapa da Inadimplência no Brasil, divulgado pela Serasa. O maior volume de dívidas está na categoria bancos/cartão, representando 29,7% dos mais de R$ 211 milhões de débitos. Em seguida, estão as contas com luz, água e gás, com 22,3%. As compras no varejo representam 13% das dívidas dos brasileiros.

Para ajudar os brasileiros a saírem dessa crise, a disciplina foi incluída na grade escolar e os professores serão os primeiros a receber conhecimento sobre Educação Financeira. A previsão do MEC é de que 500 mil docentes do 9º ano do Ensino Fundamental e da 1ª série do Ensino Médio, das redes públicas e privadas, incluindo as escolas cívico-militares, sejam capacitados nos próximos três anos. Depois, os professores vão replicar os conhecimentos aos alunos para que eles possam desenvolver uma cultura de planejamento, prevenção, poupança, investimento e consumo consciente.

O presidente da Asso­ciação Brasileira de Educa­dores Financeiros (Abefin), Reinaldo Domingos, que também é especialista e PhD em Finanças, diz que há um lado muito positivo nessa iniciativa do MEC. Mas ele esclarece que quando se fala em capacitar o professor é preciso ter muito claro o que será ensinado devido à Educação Financeira não ser uma matéria de ciências exatas. Para Reinaldo, a forma pela qual estão querendo ensinar os professores não é a correta. “Este pacote que o MEC está trazendo juntamente com a CVM é interessante, mas vai ficar bastante comprometido no que se refere ao verdadeiro objetivo da Educação Financeira”, afirma.

Segundo Reinaldo Domin­gos, a CVM trabalha com pro­du­tos, o cuidado com o di­nheiro nas instituições financeiras, mas não interage com as finanças que fazem parte da área de humanas. “Essa iniciativa precisa de metodologia. Como o MEC não dominaessas ferramentas que não produzirão efeito na nossa geração, e principalmente nas próximas, para evitar endividamento, descontrole financeiro e inadimplência”, frisa.

O presidente explica que a Educação Financeira não se dá por meio de finanças pessoais, que também têm sua importância, mas não resolvem o problema do desequilíbrio financeiro da população, porque o interesse da instituição financeira é ter lucro e não exatamente educar a sociedade para fugir dos juros.

Segundo Reinaldo Domi­n­gos, o desconhece esse assunto pela liderança do MEC. “Nós vamos ficar muito a desejar quanto à Educação Finan­ceira, que é uma ciência humana que trabalha o equilíbrio entre o ser e o ter. Estamos falando de uma Ciência Humana, do que o dinheiro representa. Finan­ças pessoais o banco nunca vai ensinar porque eles não têm essa prerrogativa”, ressalta. Domingos observa que quando se fala em Educação Financeira tem que se abordar a atitude, o comportamento com relação ao dinheiro e, principalmente, gerar valores emocionais, de sonhos e propósitos de vida e da gestão da mente.

Preocupado com a situação, Reinaldo Domingos diz que pode falar com experiência a respeito de Educação Financeira porque, em 2008, lançou a disciplina no Brasil. Ele enfatiza que o MEC está com a visão míope. “Falo isso porque não estão enxergando a própria Abefin. E não porque existe um interesse muito forte econômico e financeiro no país”, ressalta.

“O problema vai além de ensinar as crianças”

Segundo o especialista em finanças Henrique Câmara, o projeto de incluir o conteúdo sobre finanças nas escolas é fundamental, mas ele não crê na sua eficiência porque, na sua opinião, essa conscientização deve se estender a toda a família, e que não será só um projeto que conseguirá mudar o problema da Educação Financeira do Brasil.

O especialista lembra que o problema vai além de ensinar as crianças. Com base nos dados de inadimplência, quase 65 milhões, sendo que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que o total de desempregados são 14,8 de milhões de pessoas, ele calcula que 50 milhões de devedores estão trabalhando e, mesmo assim, endividados. Para ele, o problema não é ter muito ou pouco dinheiro, mas não saber administrá-lo.

“Por esse motivo é para ontem ter essa disciplina na escola, para ajudar a criar nos jovens comportamentos saudáveis com o dinheiro porque, depois que a pessoa fica adulta, é mais difícil mudar os hábitos. Esse projeto deve também ser estendido às famílias porque de nada adianta a escola promover um conteúdo para mudar o comportamento da criança se ela não vive isso em casa”, pontua.

O especialista critica o sistema educacional do Brasil dizendo que ele é falho por estar transformando jovens em verdadeiros robôs, interessados apenas em fazer faculdade, ter um bom emprego, uma renda, segurança e ser feliz para sempre. Segundo ele, o mundo mudou e o diploma da faculdade já não garante emprego. “Quando digo robôs é porque essas matérias não trazem mudanças comportamentais”, enfatiza.

Na opinião de Henrique Câmara, Educação Financeira é mais ou tão importante que a Língua Portuguesa e Matemática, pois se trata de uma ciência comportamental e deveria ter sido incluída nos programas sociais e constar na grade escolar das escolas públicas e privadas.

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