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“Estamos em um momento de aproximação do centro”

Vereador, que articulou encontro entre Bolsonaro e Daniel Vilela, chama a atenção para o fato de o próprio Bolsonaro ensaiar uma reaproximação com o governador de Goiás


Andréia Bahia Por Andréia Bahia em 06/04/2025 - 11:45

Major Vitor Hugo

Criticado por correligionários por promover a aproximação entre Jair Bolsonaro e Daniel Vilela, e consequentemente, de Ronaldo Caiado, em troca de apoio a uma eventual candidatura ao Senado, o vereador nega a articulação de cunho pessoal  e chama a atenção para o fato de o próprio Bolsonaro ensaiar uma reaproximação com o governador de Goiás. Nos bastidores, no entanto, é dito que o apoio de Caiado e Daniel à pretensão de Vitor Hugo vem sendo considerado, o que compromete os projetos de Wilder Morais e Gustavo Gayer, que fazem oposição ao projeto de Daniel em Goiás. Daí, a divisão no PL goiano, que o vereador nega.  

Tribuna do Planalto – O senhor anunciou em suas redes nesta semana sua pré-candidatura ao Senado Federal, todavia o senhor vive uma crise em seu partido, havendo até filiados que sugerem a sua expulsão. Quem no PL apoia sua intenção?

Major Vitor Hugo – Acho que o momento ainda é muito incipiente. Eu concedi uma entrevista e publiquei um trecho em que falei de uma aspiração minha, a pré-candidatura ao Senado. O embate que  teremos no país de maior relevância vai acontecer no Senado, que é onde se aprovam os embaixadores, ou seja, a política externa é muito dependente do Senado; aprova a composição direção das principais entidades do país; a indicação de ministros do Supremo e também o impeachment das principais autoridades, inclusive de ministro do Supremo. A fase agora é de conversa e construção, mas eu posso dizer que o prefeito da maior cidade que o PL conquistou me apoia, que é Márcio Corrêa (Anápolis). E sei que tem vários outros nomes que apoiam e que nesse momento talvez não queiram falar e posso dizer também que conto com a simpatia de quem vai decidir esse processo, que é o Bolsonaro. Independentemente de quem vai ser candidato ou não – ou se vai haver – do PL ao governo. 

Até que ponto a crise com o deputado federal Gustavo Gayer e com o senador Wilder Morais atrapalha suas pretensões para 2026?

Não existe crise; houve um momento de tensão já dissipada. É legítimo que Wilder seja pré-candidato ao governo, que Gayer seja pré-candidato ao Senado, e que outros nomes apareçam para o Senado, para a Câmara, para a Assembleia Legislativa, e que eu seja pré-candidato ao Senado. Quem vai decidir é o ex-presidente Bolsonaro, e mais, temos duas vagas para o Senado. Se Gayer quiser ser candidato, e acho que ele tem totais condições, conquistou o espaço dele, é hoje uma das maiores vozes da direita no país e, se for candidato, a chance dele ser eleito é muito grande. Isso não impede que outros nomes apareçam, assim como o meu nome, que está à disposição. Mas essa definição, quem vai ser candidato, se vai haver candidato, se vai haver composição ou não é uma decisão do ex-presidente Bolsonaro, que falou isso publicamente, inclusive se referindo especificamente ao caso de Goiás.

Qual a situação do PL em Goiás, depois da nota de repúdio do PL goiano em relação ao senhor?

A nota foi publicada talvez em um momento de tensão, no ímpeto, no impulso de momento e isso já acabou, não houve manifestação de parte a parte, e o próprio Bolsonaro entrou em campo, pedindo para que todos os lados ficassem tranquilos. É importante que cada um mostre que caminho quer seguir, se vai ser possível construir, se vamos vamos estar juntos, se se vai haver duas candidaturas ou uma só, se vai haver composição com outros partidos ou não, tudo isso quem vai decidir é o Bolsonaro, que logicamente vai ouvir o Wilder, o Gayer, me ouvir e  outros políticos de Goiás e de fora para tomar as decisões, não só para o nosso estado, mas para todo o país. 

O senhor foi acusado de promover a aproximação entre Daniel Vilela e Bolsonaro para ter o apoio de Daniel a sua candidatura ao Senado. Qual foi a intenção do senhor ao promover o encontro entre os dois?

Quem me procurou para falar com Bolsonaro foi o Daniel. Houve uma aproximação minha com o Daniel por causa da candidatura de Márcio Corrêa em Anápolis. Ele era filiado ao MDB e precisava sair da legenda com a anuência do partido para não perder a suplência de deputado federal e concorrer pelo PL, porque isso aumentaria as chances de sucesso, como efetivamente aumentou e ele venceu a eleição. Foi uma estratégia coerente e boa, e nisso houve uma aproximação, porque o Daniel teve que concordar com a saída do Márcio, e, na sequência, Daniel me procurou, depois da nossa vitória em Anápolis, e falou que gostaria de conversar com o ex-presidente Bolsonaro. Eu julguei que não cabia a mim fazer o filtro, eu dizer não para o vice-governador de Goiás seria uma incoerência da minha parte. Se alguém tivesse que dizer não seria o próprio Bolsonaro, na avaliação dele, que é muito maior do que o interesse pessoal meu ou de qualquer outro político em Goiás. Eu não só liguei para o Bolsonaro, eu fui até ele pessoalmente em Brasília e perguntei se ele gostaria de falar com Daniel e o presidente disse que queria. “Nós fomos deputados, juntos por um mandato, quero assim, traz ele aqui.” Eu levei o Daniel lá, um mês depois, a conversa foi muito boa, foi tranquila, não houve tomada de decisão nem nenhum tipo de acordo ou compromisso; foi uma avaliação de cenário. Bolsonaro deu uma medalha dos três Is para Daniel, que é uma grande brincadeira, lógico, mas que tem um símbolo de aproximação, de equivalência ou de consonância nos valores, e  foi uma conversa muito boa. Na sequência teve a nota de repúdio, isso um mês depois da reunião, quando o próprio Bolsonaro comentou com os outros membros do PL aqui em Goiás. Mas isso é superado. Quem na verdade falou sobre a possibilidade do Senado foi a nota de repúdio. Bolsonaro,essa semana, ligou para o Caiado, parabenizando pelo apoio à anistia, porque o Caiado hipotecou o seu apoio à pauta da anistia, e deu sinais de aproximação. A pauta da anistia  é a principal pauta da direita hoje no Brasil, um projeto de lei de minha autoria, e precisamos que outros partidos de centro e centro-direita venham a aderir a essa pauta, senão não se consegue aprovar urgência e depois não se consegue aprovar o mérito na Câmara nem no Senado. Estamos em um momento de aproximação do centro e precisamos ganhar a maior fatia do centro para poder vencer em 2026. Esse movimento do Bolsonaro de sinalizar publicamente valoriza a ação do Caiado, e Bolsonaro fez isso às vésperas do lançamento da pré-candidatura do Caiado à presidente da República, mostra o quanto a pauta da anistia, na visão do ex-presidente Bolsonaro, está acima até das disputas em relação à presidência no ano que vem. Caiado está dizendo claramente que quer ser candidato em oposição ao Bolsonaro, porque ele é pré-candidato à presidência, e ainda assim, Bolsonaro ligou para agradecer. Esse é o clima que estamos vivendo agora, de necessidade de aproximação, porque nosso adversário, a esquerda, está fortalecido.

O PL diz que não trabalha com plano B para presidente da República,mas Caiado pode, em  alguma circunstância, vir a representar o partido?

O plano A, B, C, D é Bolsonaro. A inelegibilidade que repousa sobre ele tem fundamentos muito frágeis. O ex-presidente que está na frente em todas as pesquisas, que atualmente venceria Lula em todos os cenários, ficar fora da disputa porque se reuniu com embaixadores? Porque participou de uma manifestação de 7 de Setembro para a qual ele fez a convocação no trio elétrico financiado por particulares, sem a faixa presidencial, em momentos posteriores ao desfile? Isso não faz sentido, não  tem fundamento jurídico nenhum. Eu sou advogado.

Ideologicamente, o Caiado pode representar o PL?

Você está se referindo a um partido político do qual ele não faz parte. Mas posso dizer que ele tem alinhamentos à direita muito claros. É evidente que Caiado tem posicionamento à direita, assim como Tarcísio Freitas tem, assim como outras opções que Bolsonaro tem para escolher têm também; Eduardo Bolsonaro, Michele (Bolsonaro), Flávio (Bolsonaro)  Ratinho Jr. A direita, diferente da esquerda, tem muitos líderes. Romeu Zema tem condições de suceder o ex-presidente Bolsonaro, caso ele não esteja, em função de decisão da Justiça, elegível no ano que vem. Bem diferente da esquerda, que se tirar o Lula, que são os outros? E Lula está mal hoje, e ainda assim, se tirar o Lula, quem poderia ser o líder da esquerda a substituí-lo? (Fernando) Haddad, que perdeu a eleição para presidente, perdeu a eleição para o governo de São Paulo, ou colou nas provas de economia, é um ministro da economia que só pensa em taxar, tanto que recebeu o apelido de Taxad. É uma brincadeira, mas reflete a visão da população. Eu não acho que alguém hoje veja o Haddad como um possível sucessor do Lula e acho que houve uma decisão da esquerda de dar visibilidade a ele para o caso de impedimento ou decisão de não concorrer por parte do Lula, mas ele não tem a mínima condição de concorrer. A esquerda tem um déficit de lideranças e a direita, ao contrário, tem vários nomes, mas o nome principal, sem sombra de dúvidas, é  Bolsonaro. No momento, que espero que não chegue, a Justiça o impedir, ele vai escolher e tem um número muito grande de possíveis candidatos a sucedê-lo.

Na eleição, o senhor buscou ser o candidato a vereador mais bem votado da história de Goiânia, superando a votação de Jorge Kajuru, cerca de 38 mil votos. Obteve 15 mil votos. qual a avaliação o senhor faz da sua votação?

É lógico que respeito o cargo que o senador Kajuru exerce, mas as ideias que ele defende e o fato dele ser vice-líder do governo Lula, o coloca em frontal contraposição ao que a maioria da população goianiense e goiana pensa. A rejeição do Lula aqui é muito grande, ele perdeu no primeiro e segundo turnos de 2022 e hoje o grau de rejeição dele é muito grande. Um vice-líder do governo Lula deter o recorde de votação para vereador é uma incoerência muito grande e por isso a minha crítica à época da eleição. Fui o mais votado do Centro-Oeste brasileiro, mas não alcancei a marca do Kajuru.

Na sua avaliação, por que não atingiu a votação esperada?

Depois que é eleito, você é 1 em 37; quem teve mil votos e quem teve 15.678 votos vale a mesma coisa. Era uma forma de tirar esse título da esquerda, mas que não foi atingido agora. A eleição de 2016 foi muito peculiar. Havia toda uma questão em torno do Marconi (Perillo) e a contraposição que Kajuru fazia a ele fez com que tivesse uma votação realmente muito grande. Nesse ano, não havia uma polarização local tão grande que pudesse fazer com que qualquer um dos candidatos tivesse uma votação tão expressiva, tanto que o segundo lugar teve 2 mil votos a menos que eu, uma distância muito grande, e o segundo lugar foi do PT. Imagina se eu não tivesse tido 15 mil votos ou não tivesse sido candidato e o mais votado de Goiana fosse um vereador do PT? O que seria para uma capital de direita, conservadora, bolsonarista? Iria ser uma grande vergonha.

O senhor é servidor de carreira da Câmara, foi deputado federal e disputou o governo em 2022. Como está sendo sua experiência na câmara municipal?

Quem me orientou a sair candidato a vereador em Goiânia foi o próprio Bolsonaro, quando ele voltou dos Estados Unidos, em abril de 2023. Perguntei por que, e ele falou: porque eu acho interessante que você seja franco atirador e em 2026 vai poder concorrer a qualquer carro, inclusive ao Senado da República, que é o principal foco de disputa entre os campos ideológicos no país. A direita e a esquerda disputam as vagas do Senado, tanto que Lula falou que troca cinco governadores por um senador e Bolsonaro também disse que não se interessa pelas eleições para o governo, mas que vai escolher a dedo seus candidatos ao Senado. São 54 vagas em disputa, 16 dos 27 que vão sobrar são de direita, e se a direita conseguir 25 das 54 cadeiras, teremos 41, que é a maioria, e elege um presidente do Senado de direita e os poderes se equilibram de imediato. Ele fez essa conta e já sinalizou, naquele momento, que poderia me apoiar e tem sinalizado nesse sentido. Agora realmente está sendo uma experiência muito diferente;  e ele falou isso para mim também. Ele foi vereador no início da carreira política e acha que todo político deveria passar pela vereança, porque é uma experiência de contato direto com o cidadão e com as pautas mais diretamente envolvidas no dia a dia dele. Ele me orientou nesse sentido, que seria uma experiência muito boa e preparatória para, na sequência, voltar para Brasília, se Deus quiser, no Senado Federal.

A bancada do PL na Câmara não se considera oposição a Mabel, mas independente. Essa postura visa negociar espaços na gestão?

É justamente o contrário. Se quiséssemos participar da administração iríamos compor da base, pois são os vereadores da base que indicam nomes e têm acesso ao que é buscado por quem tem uma postura mais fisiológica. Eu posso falar por mim, não tenho interesse nenhum em indicar ninguém, quero votar de maneira independente, avaliar com critério e com cuidado tudo aquilo que for proposto, e o que for bom para o município, eu vou votar a favor, e o que julgar que é ruim, contra. Eu sou contrário à maneira como a taxa do lixo foi  aprovada na Câmara, sou contrário aos 50% de possibilidade de remanejamento do orçamento que a Câmara deu ao prefeito no ano passado. É um absurdo esvaziar o poder da Câmara no que diz respeito ao controle do orçamento. São pautas que (Sandro) Mabel defende, mas eu sou independente. Eu sou a favor da criação da Comissão Especial de Inquérito da saúde e Mabel  é contra e a base dele está contrária. E não queremos investigar o Mabel, a gestão dele começou há três meses. Queremos investigar o que aconteceu na gestão do Rogério Cruz e que tornou a saúde Goiânia um caos. É difícil conseguir as assinaturas porque a administração atual não quer, essa é a verdade.

Não há interesse do Paço em investigar ou há resistência dos vereadores que tiveram participação na gestão de Rogério?

Tem vereadores da legislatura passada que assinaram os requerimentos. O que eu sinto é que a base do governo não quer assinar. Não sei que tipo de prevenção se tem sobre isso. O que eu tenho apurado é que estamos avançando a conta gotas e cada assinatura que se consegue, parece que está ficando mais distante porque mais difícil é.

A bancada do PL obstruiu a votação de um título de cidadania para o ex-desembargador Benedito Gonçalves por considerar que ele prejudicou Bolsonaro. A discussão mais ideológica e de temas nacionais não tende a isolar os vereadores do PL na Casa?

Tem certos limites também. Nós procuramos mesclar a preocupação local com limites ideológicos que dão para ser ultrapassados. Um ex-ministro que adotou a postura política que adotou, mais evidente naquela fala: “missão dada, missão cumprida”, não poderia contar com os votos do PL.Seria uma incoerência nossa se voltássemos de maneira  diferente. Se houver alguma consequência de isolamento, eu não sinto isso na nossa participação e a conversa com outros vereadores têm sido muito cordial, e há a compreensão de que o PL e o PT têm posicionamentos ideológicos muito claros e que se contrapõem um ao outro. E acho que existe um respeito dos vereadores que são de partidos mais de centro de que esse conflito é real e vai se refletir também aqui no contato entre os vereadores. Os discursos mais inflamados, de um lado e de outro, são em torno da pauta nacional.

O senhor apresentou um projeto de Lei que determina a divulgação da autoria, valor e execução das emendas parlamentares dos vereadores de Goiânia. O correligionário Coronel Urzêda apresentou outro para aplicar o princípio da Ficha Limpa a dirigentes de entidades como condição para pleitear a aplicação destes recursos. O controle sobre organizações da sociedade civil faz parte da premissa ideológica do PL?

Não, de forma alguma, não é nesse sentido de controlar. Quando era deputado federal, eu enviei recursos para várias entidades da sociedade civil muito sérias e para cada recurso que enviei mandei também um ofício para a Controladoria-Geral da União, mandei centenas de ofício, não só das emendas para as entidades, mas também para todos os municípios. O que eu fazia era checar a regularidade da entidade, o histórico, o passado, se tinha algum problema de prestação de contas ou dívidas e tomar precauções naturais. A questão não é essa. Se por um lado a emenda parlamentar é uma prerrogativa constitucional dos legisladores de todos os níveis, por outro lado existe uma desconfiança muito grande da população, legítima, porque já houve casos de desvio de recurso e de finalidade, de corrupção mesmo, então existe uma preocupação da população  se o uso emenda, é correto, se é legítimo. E para poder reforçar o uso da emenda como algo importante para fomentar esses projetos, que muitas vezes não teria o olhar do executivo, que às vezes está lá numa sala com ar-condicionado e tapete e não vê uma obra evangélica, católica ou espírita na ponta da linha, fazendo uma ação social que só eles fazem na periferia, e que  às vezes, só o vereador conhece, porque é ele que vai na periferia. Mas para legitimar a emenda é preciso que haja aquilo que o próprio Supremo decidiu, critérios de transparência e rastreabilidade. O meu projeto de lei vai nesse sentido. Não é para penalizar ou dificultar o envio para as entidades, pelo contrário, se for transparente e rastreável, todos vão ficar mais seguros para enviar. 

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