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Jornalismo é o diabo divino


Vassil Oliveira Por Vassil Oliveira em 23/09/2024 - 08:19

Entre o céu e o inferno: A luta constante do jornalismo pela honestidade em meio à desinformação e às certezas absolutas.
Um ensaio sobre a honestidade e a essência do jornalismo em tempos de incerteza e desinformação. Reflexões sobre a prática profissional e a busca pela verdade

Nestes tempos confusos e cheios de certezas opiniáticas, ciência negada com uso e liberdade de abuso da ciência artificial das redes, mais as orações pela hora do assassinato do razoável pela convicção seletiva, o que me sobra é a honestidade. Digo isso com peso nas pálpebras. Repito com a ansiedade do autor que nunca sabe como será interpretado, sabedor ele, antes, que sua intenção não é do coração que lê, que a sua filosofia nem sempre habita a compreensão (o verbo) ou o entendimento do outro – porque o outro é o outro.

Podem interpretar que eu sou desonesto. Está dito lá isso, para entendedor mal intencionado. Ou mal letrado. Ou mal. Vejam a confusão. Resta-me a honestidade não porque isso é o que resta dentro de mim. Resta ao mundo. Por todas as razões acima, e mais algumas que me fogem à mente já cansada, é que falo o que falo. Na faculdade de Jornalismo, o sumo da boa prática sempre esteve na isenção. Claro, não é regra sem exceção. Mas… Mas é isso.

Honestidade é pressuposto, podem dizer. Assino embaixo mesmo sem me julgar com caligrafia pra tanto. Porém, e a ênfase? E a cobrança? E a lição de casa – neste caso, da escola pra morada e a rua? E a dialética diante de tudo o mais? Honestidade quem ensina é o pai, a mãe, a vida. Pai e mãe nem sempre são pai e mãe, e a vida não é uma, são muitas professoras ensinando todas ao mesmo tempo. Calcula. Honestidade é a alma das palavras que serão notícias.

A desonestidade, imprime-se – quem ainda fala imprime? – hoje como corpo sem alma (imagino que eu esteja falando de zumbis). Desonestidade é torcer as frases até tirar, de cana, leite. Desonestidade, é imoral, é ver-se e versar-se como gramático da moral. Desonestidade é pegar o sumo e o suco do limão e fazer uma limonada de amora. Sinceramente, desonestidade nos meus e aos meus olhos é uma lágrima nos mundos. Lágrima, sem tergiversação.

Não escondo minhas preferências, mas também não alardeio. Não me cobro mais atitudes que antes me resguardavam de cobranças alheias e do patrulhamento de colegas, no entanto me preocupo em estar bem com a minha consciência, meu ombudsman zelador. Antes havia a vigilância sobre nossos atos e a separação dos nossos poderes nas redações substantivas e do verbo informar. Elas continuam. Danem-se. Meu caminho andado é maior que o a andar. Sou alma e corpo, não sou alma só.

Os tempos são outros e os outros vivem cada um no seu tempo, a seu tempo e nos espaços do tempo universal. Os homens e mulheres mudam, comportamentos mudam, como muda a temperatura e está mudando a hora natural das jabuticabas florescerem. Não sei dizer o que é evolução e o que não é. O que me parece é que, se evoluímos atomicamente – reconhece a expressão? – rumo a IAs e loop completo na forma de viver e pensar e sentir e nos emocionar e criar com imaginação sem fronteiras, por dentro estamos carecendo de evolução.

Vamos e voltamos como seres humanos. Às vezes somos revestidos de alteridades, outras vezes vivemos embebidos de irracionalidade. Isso considerando-se que, de fundo, somos pessoas boas à semelhança do que concebemos por Deus. Se a matriz de referência foi o diabo, aí é outra história. Bom ponderar isso, para ser honesto com o que penso e, logo, sou. Pela régua divina, quem aí é capaz de defender a evolução da espécie? Quem olha pra trás e diz que somos melhores do que foram nossos pais e avós? Seja honesto.

De poucas coisas tenho certeza na minha já longa existência: Jornalismo é a minha essência profissional. Isso me dá conforto quando tenho vitórias expressivas na vida, e também quando sofro derrotas que me tiram a respiração. Metaforicamente escrevendo, anote aí. O Jornalismo me condena e me salva, vamos dizer assim. Meu céu, meu inferno. E isso é bom.

Se me resta ser honesto porque a vida deu pirueta e o presente cobra esse preço – engraçado, né -, então estou bem comigo mesmo. SÓ preciso seguir em frente. Sentir o peso dos anos e aprender mais com a evolução dos, olha ele aí, tempos. Dizem que o diabo é sábio porque é velho, e não porque é mal. Honestamente falando, sou da escola de José Régio: Deus e o diabo é que me guiam, mais ninguém. Escrevo, assino e nem releio. Reescrever? Ora, ora.

Vassil Oliveira

Jornalista. Escritor. Consultor político e de comunicação. Foi diretor de Redação na Tribuna do Planalto, editor de política em O Popular, apresentador e comentarista na Rádio Sagres 730 e presidente da agência Brasil Central (ABC), do governo de Goiás. Comandou a Comunicação Pública de Goiânia (GO) e de Campo Grande (MS).