O Ministério Público de Goiás (MP-GO) alertou sobre a anunciada ampliação da rede de educação infantil em Goiânia, questionando o cumprimento das metas prometidas na campanha de 2024. A atual gestão se comprometeu com a criação de 10 mil novas vagas até junho de 2025 e anunciou a criação de 8 mil.
No entanto, segundo dados auditados pelo MP, apenas 3.152 dessas vagas seriam realmente novas, enquanto outras 4.364 vagas representam “reofertas” – ou seja, lugares anteriormente ociosos e agora reocupados. Segundo o MP, cerca de 70% das vagas anunciadas como “novas” podem não representar expansão real da rede, mas sim uma reutilização da infraestrutura existente.
A Prefeitura de Goiânia não comentou os números apresentados pelo MP, e à Tribuna do Planalto, a Secretaria Municipal de Educação (SME) afirmou que vem atuando em várias frentes para ampliar o atendimento, como reorganização da rede, busca ativa de alunos, ocupação plena das salas e parcerias com entidades filantrópicas. Os dados da SME não desmentem o MP.
Com o conjunto de ações, a SME informa um total de 7.516 vagas a mais em relação ao 2º semestre de 2024, com outras 516 em fase final de implantação, totalizando 8.032 vagas.
Apesar desses avanços, a fila de espera por vaga na Educação Infantil ultrapassa 10 mil crianças. Medidas como o uso de salas modulares e parcerias têm ajudado, mas ainda enfrentam desafios estruturais e sociais. Muitas das vagas ofertadas exigem deslocamentos superiores a três quilômetros, o que representa um desafio logístico e financeiro especialmente para mães solo e trabalhadoras de baixa renda.
O fechamento do CMEI Orlando Alves Carneiro, que atendia 129 crianças, foi um dos episódios mais criticados por parlamentares e famílias. A vereadora Aava Santiago alertou que a decisão compromete a continuidade do serviço público.
Já a deputada estadual e presidente do Sintego, Bia de Lima,cobrou a convocação de concursados e melhores condições para os profissionais da educação. Ela defende que o foco deve ir além dos números e considerar também a qualidade do ensino oferecido.
A distância entre os compromissos de campanha e a execução prática de políticas públicas na educação infantil tem se mostrado um desafio não só em Goiânia, mas nos grandes municípios goianos. Em Anápolis e Aparecida de Goiânia, mesmo com avanços relatados, os gestores enfrentam pressões por mais transparência e planejamento de longo prazo.
Avanços e limitações em Anápolis
Em Anápolis, a meta de criar mil vagas nos primeiros meses de governo foi, segundo a prefeitura, alcançada. Metade dessas vagas resultou da reorganização de espaços em unidades já existentes, enquanto a outra metade foi viabilizada por meio da instalação de salas pré-moldadas a partir de março.
Um exemplo dessa iniciativa é o CMEI Manuel Bandeira, no bairro Jardim dos Ipês, que recebeu duas salas modulares com ar-condicionado, quadro branco e mobiliário adequado para atender crianças da região, incluindo o Recanto do Sol. A medida faz parte da determinação do prefeito Márcio Corrêa de zerar a fila por vagas no município.
Segundo a secretária de Educação, Adriana Vilela, cinco CMEIs serão beneficiados nessa primeira etapa, com duas novas salas cada, totalizando atendimento para 500 crianças.Apesar do avanço, a expansão ainda depende de soluções provisórias e o município não detalhou projeções sobre futuras construções, o que mantém certa incerteza sobre a sustentabilidade do atendimento no médio prazo.
Aparecida amplia acesso, mas ajusta jornada
Em Aparecida de Goiânia, a ampliação de vagas veio acompanhada da conversão de parte do atendimento de tempo integral para parcial, o que gerou frustração em famílias que contavam com a jornada estendida. A cidade atende hoje mais de 11 mil crianças por meio de 94 unidades próprias e 47 conveniadas. A Secretaria de Educação aponta que a medida permitiu dobrar o número de atendidos, mas admite que o crescimento aconteceu mais por ajustes operacionais do que por expansão física da rede.
A situação também é marcada por um movimento grevista iniciado em abril, com mais de 70 escolas paralisadas. Os educadores reivindicam o pagamento do piso nacional e o cumprimento do plano de carreira. A prefeitura afirma ter herdado dívidas superiores a R$ 500 milhões e ofereceu um reajuste de 6,27% a partir de maio, enquanto o sindicato cobra o pagamento retroativo. Em paralelo, a gestão lançou o projeto “Identidade Brasileira”, voltado à valorização das culturas afro-brasileira e indígena, como estratégia para cumprir exigências do Fundeb e captar novos recursos.
Em comum, os três municípios compartilham o desafio de entregar o prometido sob limitações orçamentárias, pressões sociais e tempo curto para grandes obras. As alternativas adotadas — como estruturas modulares, reorganização de horários e convênios — revelam uma gestão de crise mais do que um plano educacional de longo prazo.