
Suplente de deputado federal pelo PSDB, o jornalista colocou seu nome à disposição do partido para disputar a Prefeitura de Goiânia em 2024. Ele afirma que Marconi Perillo, agora presidente do partido, manifestou interesse pela sua candidatura e lhe disse haver espaço para construção do projeto dentro do partido, que tem outra pré-candidata, a vereadora Aava Santiago. Matheus afirma que não irá disputar prévias e que só será candidato se a escolha de seu nome for resultado deumconsenso entre ostucanos.
TRIBUNA DO PLANALTO – Por que acredita que está preparado para administrar Goiânia?
Matheus Ribeiro – Esse é um processo em que precisamos construir, esse preparo. Primeiramente, sou um jornalista que há dez anos acompanha e vive a rotina desta cidade. Cheguei a Goiânia adolescente, aqui fiz meu curso superior, construí minha trajetória profissional e pude conhecer a cidade de Norte a Sul. Uma boa gestão se faz sobretudo com capacidade de diálogo, e essa é uma característica própria dos bons jornalistas, que primeiro precisam ouvir antes de falar. Quando o partido trouxe essa intenção de contar com meu nome na disputa para a Prefeitura de Goiânia, isso me deixou muito honrado, mas ao mesmo tempo diante de um grande desafio, para o qual não posso ser pretensioso, muito menos vaidoso. Elencar motivos que me fazem sentir preparado para administrar Goiânia seria, de certa forma, presunçoso da minha parte. Enquanto profissional, tenho uma carreira que já é conhecida por muitos; enquanto político, comecei minha trajetória sendo candidato a deputado federal pelo PSDB, sou primeiro suplente depois de uma votação expressiva, quase 147 mil votos em 242 municípios. E foi a minha primeira oportunidade de unir a minha experiência profissional, enquanto cidadão, enquanto homem que acompanha a sociedade e tem interesse em colaborar para resolução dos problemas que vivemos com a política. E o que eu vi na política foi uma necessidade muito latente de renovação. O que observamos hoje em Goiânia é uma gestão incapacitada para promover, por meio do diálogo, soluções para o capital. Justamente por isso não temos uma articulação que leve eficiência, eficácia para as questões que a população precisa ver resolvidas. O único motivo que posso elencar é a minha capacidade de ouvir as pessoas e a sociedade para construir um entendimento. Um bom prefeito é alguém que precisa ter essa capacidade para formar um time competente e responsável, sobretudo qualificado, que conhece e vivencia a cidade, que não caia de paraquedas no nosso município apenas para ocupar uma lacuna de interesse político e partidário e conseguir resolver os problemas que tanto prejudicam a vida do goianiense.
Sua juventude mais ajuda ou mais atrapalha?
A juventude sempre teve esse papel dúbio na minha trajetória. Eu comecei a apresentar jornal aos 21 um anos de idade e era até natural que algumas pessoas olhassem aquele rapaz tão jovem e desconfiassem se ele realmente tinha as competências necessárias para uma missão como essa, falar com milhões de goianos. Isso eu fui demonstrando com trabalho e sobretudo com humildade para conseguir me referenciar através das pessoas que têm mais experiência e uma trajetória mais longa que a minha. Não se pode desconsiderar os atributos positivos que a juventude traz, sobretudo olhar para a frente, para o futuro que desejamos construir. Essa é uma capacidade muito própria de uma juventude que está preocupada em trazer renovação. Quando se observa o cenário político brasileiro é muito desolador do ponto de vista da formação de novas lideranças. Muitas cartas que se vê nessa mesa já estão repetidas no baralho há décadas. São herdeiros de herdeiros de herdeiros, e isso é muito sintomático para a construção de uma democracia mais forte. Se por um lado a juventude pode trazer um certo receio a respeito de competência, por outro lado, a juventude traz ousadia, disposição e coragem para, com muito trabalho, mostrar as minhas habilidades e mostrar o que posso fazer também na gestão pública, não apenas na iniciativa privada
Como se dará o processo de escolha do pré-candidato a prefeito de Goiânia no PSDB?
Eu não posso falar pelo partido e acredito que esse tem que ser um processo interno. Eu não sou um candidato a prévias e acredito que o PSDB, até pela configuração que o partido tem hoje, pelos desafios que enfrenta e pelo processo de reinvenção que passa, precisa tomar essa decisão de uma forma consensual, dentro das fileiras do partido e do seu diretório estadual.
O que depende de sua atuação nesse processo?
O que estamos fazendo é construindo alianças. Um projeto como esse não é um projeto individual; uma candidatura a prefeito, por mais que seja representada por uma pessoa, homem ou mulher, precisamos construir coletivamente, a várias mãos. O primeiro passo para que isso acontecesse foi uma conversa com o presidente do meu partido, Marconi Perillo, que manifestou o interesse em minha candidatura e mostrou que havia espaço para essa construção dentro do partido; o segundo e mais recente foi a aproximação política com a vereadora Aava Santiago, que faz um brilhante trabalho na Câmara Municipal é um claro exemplo dos benefícios que a renovação traz para política, e já acertamos que não competimos um com o outro. Temos trajetórias muito semelhantes e visões de mundos semelhantes, temos pontos de divergência, mas a convergência fala muito mais alto e acredito que a Aava tem um futuro político muito grande. Um exemplo dos benefícios que a mulher na política pode trazer, que a mãe na política traz para esse cenário que vivenciamos hoje. Não apenas na Câmara Municipal, mas a nível de Brasil. Caso a Aava seja a candidata, ela terá meu apoio e ela já manifestou que, sendo eu o candidato, terei o apoio dela.
Sua pré-candidatura tem apoio declarado de alguma liderança do partido?
Apoio declarado ainda não é o momento porque o partido ainda não conseguiu ter momentos próprios para que isso fosse discutido, fosse viabilizado. Tenho grandes amigos, grandes parceiros e quero deixá-los muito à vontade para que eles manifestem esse apoio quando julgarem necessário.
O PSDB está em um momento de reestruturação em todo país. Qual a importância desta eleição municipal para essa reestruturação?
O grande motivo da crise vivenciada hoje pelo PSDB é que o partido se desconectou da sociedade, se descolou de onde a política acontece, que é nas ruas, nas praças, nas redes. O movimento de reestruturar o partido – que eu venho chamando até de reinvenção – porque não há dúvidas de que o PSDB é um partido que tem história, tem legado, tem capacidade de realizar, conta com ótimos quadros, talvez um dos quadros mais qualificados do Brasil, esse processo de reinvenção não tem outra forma de começar se não pelas eleições municipais, se não elegendo vereadores, que têm contato mais direto com a população. Um processo de reinvenção do partido não se faz elegendo presidente da República, mas, sim, vereador nos mais de 5 mil municípios do país, estruturando os diretórios municipais, tendo candidatos a prefeito, mostrando a visão ideológica do partido, com respeito às realizações que já foram feitas à população. Não é nem defender que as eleições municipais sejam uma oportunidade de reestruturação, acredito que é a única. Isso tem que ser feito de uma forma sincera e respeitando a independência e a autonomia dos seus quadros, que foi o motivo pelo qual eu busquei o PSDB.
Na sua avaliação, o que levou o PSDB a essa crise que reduziu tanto a importância do partido no cenário político?
Nós tivemos o fortalecimento de uma visão de extrema-direita no país e o PSDB não é um partido de extrema direita. O PSDB é um partido de centro, da social-democracia. No momento em que tivemos, não apenas no Brasil, mas em um contexto internacional, o fortalecimento da extrema direita e a decisão do PSDB de não aderir a esse discurso, ficou uma lacuna muito grande. A forma de se reconectar com a sociedade e com as pessoas é justamente apontando caminhos mais palpáveis, mais seguros, menos aventureiros, que tensionem menos a nossa democracia e o nosso viver político, porque a política no Brasil se tornou briga de torcida organizada, e não é por aí. Não é com esse sentimento de ódio, de raiva, que no passado foi alimentado pelo próprio PSDB muito oportunamente e pelo próprio PT, nessa dicotomia que sempre interessa aos polos políticos. Essa é uma visão muito superficial quando se fala da sociedade que nós queremos, uma sociedade cada vez mais complexa, cada vez mais difícil. Quando se observa uma sociedade tomada pela pós-verdade, com pessoas muito mais propensas a acreditarem naquilo que reforça seus ideais e opiniões quando as fake news encontram terreno fértil para proliferarem e se percebe esse avanço da extrema direita no contexto inclusive internacional, acredito que foi aí que o PSDB se desconectou porque não soube ajustar o seu discurso e sensibilizar a parte da população que não é tomada pela extrema direita, mas pela indignação, revolta, desesperança, infelicidade com alguns modelos de gestão. Precisamos tirar o medo como motor da política e construir a política pelo viés da esperança, da austeridade e da capacidade de realizar.
Os governos do PSDB foram os responsáveis pelas reformas que formataram o estado brasileiro e o partido sempre teve um discurso pautado na modernização da administração pública. Esse discurso deixou de ser importante e por isso o partido perdeu seu protagonismo?
A visão ideológica do PSDB é a da social-democracia e, na social-democracia, não é pauta defender ou condenar religião A ou B, ter uma conduta de ser contra a união homoafetiva, muito pelo contrário; a social- democracia defende as liberdades individuais. Esse é um pilar importante inclusive que me levou ao PSDB. Eu sou um homem gay, um jornalista, defendo a liberdade de expressão, de imprensa, religiosa. Não posso concordar, aceitar ou fazer vistas grossas para discursos que vão contra esse tipo de situação, não posso estar em um partido que passe pano para esse tipo de escárnio, que muitas vezes não passa de mera cortina de fumaça para que não discutamos os reais problemas do Brasil, do estado, da cidade. Veja que há câmara municipal que está preocupada em dar título de cidadão para Benjamin Netanyahu sem resolver os problemas básicos da cidade. Isso é a prova da ignorância, da falta de visão política e de cidadania que temos hoje entremeadas no poder. O fato de o PSDB não aderir a esse discurso dogmático, dos costumes ou de impor regras em relação à vida das pessoas, desconsiderando as liberdades individuais, os princípios da Revolução Francesa, de liberdade, igualdade e fraternidade, não é por aí que o partido vai conseguir reajustar o discurso. Ao contrário, é fazendo a defesa dessas liberdades e mostrando que, sim, a política tem que estar capacitada do ponto de vista administrativo, fortalecendo as ferramentas democráticas para isso. Vivemos em uma sociedade onde temos formas muito mais fáceis, disponíveis e acessíveis de consulta à população, de gestão participativa, de ter uma formação de quadros na administração municipal que vai muito além do compadrio, do feudo político, da divisão partidária pelos seus interesses muitas vezes mesquinhos, engavetando comissões de investigação, distribuindo cargos, porque o resultado que vemos disso é claro: uma metrópole que outrora era conhecida nacionalmente pela sua beleza, pela sua natureza, pelo seu avanço, pela sua prosperidade e pela sua gente feliz, está tomada pela sujeira, pelo lixo, pela inoperância, pela falta de perspectiva de gestores que não conhecem a cidade. Temos que reconstruir esse discurso e sensibilizar a população de que, sim, a gestão na política é fundamental. Isso não significa que o prefeito tenha que ser administrador ou que o secretário de Saúde tenha que ser médico, mas que sejam pessoas habilitadas, competentes e dispostas a construírem um diálogo com quem entende, vivencia a cidade para a formação de uma gestão participativa.
O PSDB é oposição ao prefeito Rogério Cruz e ao governador Ronaldo Caiado, todavia, o governador já afirmou que não tem oposição e o prefeito também parece ter anulado a oposição. O PSDB, que na maioria das vezes foi governo, tem conseguido se impor como oposição?
Acho que conseguir se impor como oposição está evidente. Veja o trabalho da vereadora Aava Santiago na Câmara Municipal, sendo muitas vezes uma das únicas vereadoras a levar ao conhecimento do Ministério Público situações que vivenciamos na cidade. Basta ver a atuação dos nossos deputados estaduais na Assembleia Legislativa, desempenhando o mesmo papel. Acredito que o que houve foi uma redução das nossas bancadas. Isso é um fato, não uma opinião. À medida em que há essa redução passamos a ter que lidar com esse tipo de declaração, que menosprezam a democracia. Não existe governo sem oposição, isso é conceitual, não é elemento de opinião. Todo governo tem sua posição. Muitas vezes aquela oposição é velada, está no gabinete ao lado e muitos governos contam com oposições internas. Isso é um fator da política, o parceiro de hoje pode não ser o parceiro de amanhã. O PSDB tem coragem de se posicionar como oposição, mas sem fazer aquela oposição visceral, raivosa ou histriônica ou aquela oposição de rede social, que é muito mais espetáculo do que ação. A atuação dos nossos quadros se dá num contexto muito mais prudente e responsável.
Qual o perfil do seu eleitor?
Tive votos em 242 cidades goianas e isso me surpreendeu bastante, porque ao longo da campanha, estava viajando de carro, não tinha avião e nem essas loucuras que se via em outras campanhas, consegui chegar a 70 cidades. Nas redes sociais tivemos um importante trabalho, mas acho que o que sensibilizou e fez com que o eleitor confiasse o seu voto a mim foi a trajetória que construí na minha carreira enquanto jornalista. Por isso teve um perfil muito diverso. Conseguimos perceber um eleitor que quer uma renovação política, mas não está disposto a fazer aquele voto irresponsável, não está disposto a se seduzir com qualquer discurso político. Eu tenho um eleitor muito participativo, quer discutir temas; tive grandes apoiadores que representam segmentos, Luciano Covolo, que virou meu amigo, que é cadeirante de Trindade, uma pessoa que abriu a minha cabeça para falar a respeito desse tema; o tio Cleobaldo, de Goiânia, que faz um importante trabalho com pessoas em situação de rua e me fez olhar pra essa situação. É um eleitor que se interessa pela sociedade. E houve algumas surpresas: eu fui a Catalão uma vez, passei com carro de som, e tive 700 votos lá. Candidatos que gastaram milhares de reais na cidade não obtiveram esse mesmo resultado. Em Rio Verde, tive mil votos; Luziânia, cidades onde não tinha sequer uma equipe estabelecida, tive resposta eleitoral. É isso que me faz ser um um cidadão esperançoso com a política. Eu tenho vontade de ser candidato novamente, eu estou disposto a vivenciar isso agora em 2024 apenas para o cargo de prefeito, não sou candidato a vereador, eu não sou candidato a vice, mas também não tenho pressa. Se não for agora eu não teria problema em ser candidato mais à frente, porque continuaria sendo jovem para ter disposição para essa missão, mas acredito que o momento que estamos vivendo é muito sensível para a cidade e termos coragem, disposição e vontade para se incluir nesse processo, debater, saber colocar os questionamentos que são necessários, até para os demais candidatos, é algo que faz muito bem ao processo democrático.
Longe das telas, conseguiu manter sua influência nas redes sociais?
Eu não estou longe das telas porque hoje as telas estão em todo lugar e uma das iniciativas que tive após deixar a Record, em Brasília, e retornar a Goiânia – em 2020 eu deixei a TV Anhanguera, fui morar em Brasília para ser editor-chefe na Record, e voltei em 2021 com o projeto da candidatura a deputado federal. Uma coisa que, enquanto jornalista, passei a atuar e hoje me faz brilhar os olhos, é a possibilidade de ter uma comunicação multiplataforma. Isso começou com o meu programa na Band, que era transmitido na Interativa e tinha suas plataformas digitais, e se tornou o projeto do meu canal, que é a Lig TV, primeiro canal multiplataforma de Goiás. É um projeto de jornalismo de conteúdo digital que tem feito com que eu consiga chegar a mais e mais pessoas, levando um conteúdo relevante para a vida das pessoas e me permite exercer a minha profissão, que é a minha paixão, sou jornalista e nunca deixarei de ser, porque amo o que faço. Estar nas redes sociais por si só não quer dizer muita coisa. Hoje, no Instagram, 440 mil seguidores, mas preciso falar de temas que fazem sentido para a vida das pessoas, justamente por isso eu decidi voltar para o jornalismo.