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O agro não tem lado: a agricultura brasileira é do Brasil

O agronegócio empresarial — que representa uma parcela robusta da economia nacional — acabou sendo apropriado pela direita


Rodrigo Zani Por Rodrigo Zani em 16/04/2025 - 07:36

O agro precisa de menos ideologia

Vivemos tempos de intensa polarização política. A sociedade brasileira tem sido progressivamente dividida em blocos ideológicos que disputam narrativas e identidades. Vários segmentos foram sendo gradativamente capturados por projetos políticos de poder. Os evangélicos, por exemplo, em sua maioria, passaram a se identificar com a direita conservadora. A cultura, por outro lado, foi dominada por pautas e representantes da esquerda. E algo muito semelhante ocorreu com a agricultura brasileira.

O agronegócio empresarial — que representa uma parcela robusta da economia nacional — acabou sendo apropriado pela direita. Hoje, dizer-se parte do agro sem se identificar com a direita política parece quase uma contradição genética. Por outro lado, a agricultura familiar, historicamente associada à luta pela terra e à reforma agrária, foi majoritariamente absorvida pelas correntes de esquerda. Criou-se, assim, uma caricatura dual: de um lado, grandes produtores alinhados à direita; de outro, pequenos produtores abraçados pela esquerda.

Ideologia
Mas essa divisão ideológica não representa a realidade do campo. O que vejo — e muitos que conhecem a lida rural também percebem — é que a agricultura brasileira não tem lado político. O que move o agricultor, seja ele pequeno, médio ou grande, é o pragmatismo. É a busca por eficiência, produtividade e sustentabilidade. No campo, o que importa é o plantio, a colheita, a rentabilidade, o acesso ao crédito, à tecnologia e aos mercados consumidores.

Políticas agrícolas bem-sucedidas não distinguem ideologia. O solo responde ao manejo, não ao discurso. A produtividade não se eleva com bandeiras partidárias, mas com assistência técnica, maquinário de ponta, ciência, pesquisa e investimento. O mercado, por sua vez, não pergunta em quem o produtor votou — ele exige qualidade, regularidade e competitividade.

Defendo, com convicção, que a agricultura brasileira precisa de menos ideologia e mais política pública eficiente. É preciso fortalecer a Embrapa, as cooperativas, os programas de extensão rural, o acesso à tecnologia para pequenos e médios produtores. Precisamos de infraestrutura, logística, segurança jurídica e abertura de mercados. O agro precisa de pontes, não de trincheiras.

Representação
É também fundamental que lideranças do campo participem da vida política nacional. Não se trata de partidarização, mas de representação. O setor agropecuário é responsável por cerca de 25% do PIB brasileiro, segundo dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), gera milhões de empregos diretos e indiretos, e garante a segurança alimentar de boa parte do planeta. É legítimo — e necessário — que tenha voz ativa nos espaços de decisão.

Por isso, reforço: todos os governos, sejam eles de esquerda ou direita, terão que, inevitavelmente, fomentar a agricultura brasileira. O agro não pertence a uma facção política. O agro é do Brasil. E o Brasil precisa de um agro forte, inovador, sustentável e plural.

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Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

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