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Paraná Pesquisas: ‘disputa nacionalizada’ na eleição para prefeito de Goiânia interessa a quem?

Partido de Gustavo Gayer aposta em polarização com esquerda para conquistar vitória na capital


Luís Gustavo Rocha Por Luís Gustavo Rocha em 07/02/2024 - 06:58

Gustavo Gayer (PL-GO) usou a tribuna da Câmara dos Deputados, nesta terça-feira (6), pela primeira vez no ano, para anunciar que continua “nessa guerra, tentando salvar o nosso Brasil da facção criminosa que se apoderou dessa nação”. O discurso foi feito e publicado na rede social do parlamentar bolsonarista no mesmo dia em que ele apareceu tecnicamente empatado com Adriana Accorsi (PT) e Vanderlan Cardoso (PSD). Os três lideram levantamento divulgado pelo Paraná Pesquisas sobre a intenção de voto do goianiense para prefeito da capital nas eleições de outubro.

Mas os resultados de agora e a comparação com os números da pesquisa anterior mostram perdas e ganhos que colocam em xeque o perfil de bom gestor como ingrediente principal para o candidato que quiser vencer o pleito em Goiânia. A julgar pela performance de Gayer, o componente ideológico que alimenta a polarização entre esquerda e direita no país pode incorporar uma fatia maior do que o imaginado ao debate no plano municipal.

Em julho de 2023, o deputado do PL aparecia com 12,1% das intenções, perdendo colocações para Adriana e Vanderlan, ambos com 16% à época, e para o ex-prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha (MDB), à frente com 34% e fora da disputa, atualmente. No levantamento mais recente, Gustavo Gayer chega a 22,5% em um dos cenários estimulados — no qual Adriana tem 27,1% e Vanderlan, 24,3% —, com margem de erro de 3,8 pontos percentuais.

De dentro do partido de Gayer, a tese que sustenta a aposta no deputado federal é de que a eleição em Goiânia será “nacionalizada”, sofrendo o contágio da polarização entre Lula e Bolsonaro que promete pautar o debate político nas capitais em que candidaturas do PL e PT estiverem concorrendo, e justificando o discurso mencionado no primeiro parágrafo. Nesse sentido, é maior o percentual de pessoas que, segundo a pesquisa, “com certeza” votariam em um candidato indicado por Bolsonaro (32,9%) do que os 30,7% que dizem com certeza votar na indicação do governador Ronaldo Caiado (UB). “Em um ambiente polarizado não tem lugar para a terceira via”, diz a fonte, referindo-se a um “eventual candidato de Caiado” e ao senador Vanderlan Cardoso, que preferiu não comentar os números do Paraná Pesquisa.

O ex-prefeito de Senador Canedo, que no ano passado liderou com 25,8% um dos cenários da estimulada, desta vez fica atrás de Adriana Accorsi em todas as situações, incluindo a espontânea, em que a petista é lembrada por 4,7% dos entrevistados, Gayer, por 4,6%, e Vanderlan, por 2,8%. Por outro lado, quando o assunto é o grau de rejeição do eleitor, menos é mais, e o senador leva vantagem (16,2%) por aparecer atrás do deputado bolsonarista (16,8%) e da deputada petista (26,8%).

Única a oficializar pré-candidatura até aqui, Adriana lidera, com diferença ligeira, os dois cenários da estimulada e também a espontânea, em que pontuava, em julho de 2023, atrás de Rogério Cruz (1,2%), Vanderlan (1,3%), Gayer (2%) e Mendanha (3,4%), com 1,1%.

“Lula tinha interesse na candidatura dela”, observa o professor Edward Madureira (PT), coordenador da pré-campanha de Adriana e pré-candidato a vereador. A presença do presidente em Goiânia é aguardada neste semestre e ainda durante a campanha da petista, mais adiante. Assim, o partido apresentará ao eleitorado goianiense seu principal ativo na polarização com o candidato de Bolsonaro, na capital do Estado que Ronaldo Caiado, possível adversário de Lula em 2026, governa.

Enquanto isso, na base aliada do governador, a insistência de Bruno Peixoto (UB) em se manter no páreo pela pré-candidatura, mesmo tendo se passado três meses após o toque de recolher dado pelo próprio Caiado ao presidente da Assembleia Legislativa, durante a viagem à China, divide holofotes com a busca de Jânio Darrot por viabilidade e provoca uma imagem de desunião. Ainda que no cronograma do governador haja tempo para se chegar ao nome da base por um forçoso consenso, os ruídos provocados por Bruno e as sinalizações de que Rogério Cruz (Republicanos) não vai desistir fácil da reeleição tendem a dificultar a unanimidade de uma escolha em torno da qual todo o grupo vista a camisa, deixando as divergências de lado e fazendo o que de fato convém a uma eleição bem-sucedida.

E no processo eleitoral em questão, há muitas questões em aberto: como o candidato do governo se posicionará diante de Gustavo Gayer sem soar hostil ao bolsonarismo que pode ajudar Caiado a disputar a presidência em 2026? Alcançando êxito em bancar um nome que também represente a direita competitivamente, a distribuição de votos com o candidato do PL potencializa as chances de Adriana? Faz sentido para Vanderlan reavaliar o bloqueio à aliança com o PT, haja vista o perigo de ficar isolado em uma terceira via que perde força na polarização? O governador, em um movimento inesperado, ainda pode dar o braço a torcer e lançar Vanderlan como candidato da base? Adriana conseguirá ampliar a frente de apoio para além da esquerda? Se a campanha for dominada pelos problemas locais mais que pela polarização, como Gayer convencerá o eleitorado de que sabe fazer gestão? Para citar algumas interrogações.