De repente a eleição dá um cavalo de pau. O jogo vira. As certezas caem. De repente? Não tão de repente. É na reta final que os resultados de estratégias aparecem, a favor ou contra. Bem nessa hora que as ações das campanhas surtem efeito de verdade. Inevitavelmente aí é que os indecisos começam a escolher seu lado.
Quem se assusta, estava desatento, iludido ou desinformado (Deus me livre das campanhas às cegas, amém). Ou no combo da perdição. Aqueles que costumam se orientar por pesquisas, com profissionalismo, que têm experiência e a ciência das pesquisas internas, talvez bolas de cristal com IA, raramente são pegos de surpresa. Ocorre muito do contrário: é o instante que colhem os frutos das estratégias bem montadas.
Para os frios e calculistas, nada de novo no front. Para os que andavam consumidos pela dúvida – Vai dar certo? Vai dar tempo? -, o êxtase, se não baixar o desespero. Para observadores e torcedores, o inevitável fim dos tempos: as apostas serão cobradas. Não quer dizer que o jogo estará decidido. Quer dizer que ganhou novos contornos.
Se um candidato que estava na frente inicia uma quebra vertiginosa do dia pra noite, a possibilidade de reação será mais um sonho do que uma realidade. Tempo, tempo, tempo perdido, eleição quase. E esta é uma das coisas bonitas do jogo – guerra, pode ser – das disputas pelo voto. Por este lado, nada nunca está decidido, nem depois das urnas.
Daí também a beleza de quem jamais desiste: saber que uma eleição nunca termina. Os resultados esperados, alardeados e projetados com antecedência e paixão não passam de prelúdio da decepção ou êxtase. O que vale é a reta final com seu vaticínio: Fulano estava atrás e agora é o líder; Sicrano entrou em curva rumo ao inferno.
Os indecisos matam muitos candidatos do coração. Os indecisos não têm a menor consideração pelo fracasso adversário. Quando batem o martelo, querem que o outro perca a eleição e o caminho de casa. Os indecisos têm o poder de decidir tudo a qualquer momento, mas decidem no final, a 50 metros da chegada, porque… porque querem.
Os ajustes possíveis, as reviravoltas, as exceções à regra, nada disso existe se os indecisos não quiserem. Eles são o alvo das campanhas desde o início. Os indecisos são até capazes (levados, quem sabe) de decidir e mudar dez vezes a própria decisão. Mas não se iluda: os maiores jogadores são eles; a cartada final não será de marqueteiro algum.
Preste atenção. De repente, não mais que de repente…