O uso de cigarros eletrônicos, popularmente conhecidos como “vapes”, tem se tornado uma preocupação crescente entre profissionais de saúde pública devido ao aumento do consumo entre jovens e adolescentes. Embora o número de fumantes no Brasil tenha diminuído significativamente desde o final dos anos 80, a popularização dos cigarros eletrônicos ameaça reverter essa tendência, especialmente entre os mais novos.
Esses dispositivos, que chegaram ao mercado americano em 2007, são chamados de vape, e-cigs ou pendrive. Funcionam com baterias de lítio e utilizam um líquido que contém nicotina, solventes, água e outras substâncias, como flavorizantes. Quando aquecidos, esses líquidos produzem aerossóis que, além de nicotina, contêm outras substâncias potencialmente nocivas.
A médica pneumologista Alessandra Schneider, docente no IDOMED, explica que os vapes são projetados para vaporizar nicotina, uma substância que causa dependência ao agir no sistema nervoso central. “Além da dependência química, o aspecto comportamental é um agravante significativo. Os cigarros eletrônicos não produzem odores desagradáveis, o que facilita seu uso descontrolado por adolescentes e adultos em ambientes sociais”, alerta Alessandra.
Mesmo com a proibição de produção, venda, importação e propaganda desses dispositivos no Brasil, eles continuam a circular ilegalmente, principalmente via internet e redes sociais. “A ampla variedade de sabores disponíveis torna o produto ainda mais atrativo para os jovens, incentivando a experimentação e o uso contínuo, mesmo diante dos conhecidos riscos à saúde”, afirma Alessandra.
Embora os efeitos a longo prazo do uso de cigarros eletrônicos ainda não sejam completamente compreendidos, especialistas apontam para uma série de problemas de saúde associados, como doenças respiratórias agudas e crônicas, irritações na garganta e lesões pulmonares. Também há preocupações de que o uso prolongado desses dispositivos possa estar ligado ao desenvolvimento de câncer, problemas cardiovasculares e comprometimento do sistema imunológico.
A armadilha da dependência
Assim como o cigarro comum, o vape está diretamente relacionado à dependência, devido à presença da nicotina. Essa substância atua em áreas importantes do cérebro, produzindo sensação de bem-estar e prazer.
De acordo com a psicóloga Andresa Souza, docente de Psicologia na Estácio, a dependência provocada pelos cigarros envolve aspectos comportamentais e psicológicos. “No primeiro, temos uma relação direta com fatores sociais, como a atual moda do vape entre os mais jovens, o que faz com que o consumo seja associado a um status de pertencimento. Já o segundo diz respeito ao efeito da nicotina no sistema nervoso central, que é de intensa, porém momentânea, sensação de prazer, provocando o comportamento de dependência”, explica a professora.
A psicóloga destaca que o efeito de bem-estar sentido pelo fumante dura pouco tempo, o que faz com que ele logo tenha vontade de senti-la novamente. “Assim, a busca por tal sensação leva ao aumento no consumo de mais cigarros, fazendo com que sejam necessárias doses cada vez mais fortes para conseguir a mesma sensação de prazer”, conclui Andresa.