Os gastos da Prefeitura de Goiânia com os shows musicais da 78ª Exposição Agropecuária, que acontece em 2025, já ultrapassam R$ 7,7 milhões. A reportagem teve acesso às solicitações de pagamento de 14 cachês de artistas nacionais e ao valor destinado à estrutura de som e iluminação do evento, demonstrando que todo o investimento sai diretamente do caixa da Prefeitura, por meio de recursos ordinários do Tesouro Municipal, sem qualquer tipo de convênio, emenda parlamentar ou fonte vinculada.
O recurso empenhado, da Fonte 100, se refere ao dinheiro do Tesouro Municipal que também poderia ser destinado a áreas como saúde, assistência social e infraestrutura. E o prefeito tem ampla liberdade para isso: graças a uma emenda aprovada pelos vereadores na LOA, ele poderá remanejar até 50% do orçamento conforme as prioridades da gestão. Trata-se de um porcentual atípico na administração pública; em gestões anteriores, esse limite era de no máximo 30%.
O cantor Wesley Safadão, que lidera a lista, deve receber R$ 1.050.000,00 por sua apresentação. Em seguida vêm Simone Mendes e Murilo Huff, com R$ 800 mil cada e Natanzinho com R$ 600 mil. O valor pago apenas em cachês chega a R$ 7.378.010,00. Veja os valores:
Wesley Safadão – R$ 1.050.000,00
Murilo Huff – R$ 800.000,00
Simone Mendes – R$ 800.000,00
Natanzinho – R$ 600.000,00
Amado Batista – R$ 550.000,00
Belo – R$ 550.000,00
Edson & Hudson – R$ 450.010,00
Pablo – R$ 400.000,00
Léo Foguete – R$ 350.000,00
Luan Pereira – R$ 350.000,00
Matogrosso & Mathias – R$ 278.000,00
Grupo dos Rosa – R$ 250.000,00
Ph & Michel – R$ 150.000,00
Vitor & Luan – R$ 150.000,00
A estrutura de som e iluminação custará R$ 558.520,02 e será fornecida pela empresa Pazini Empreendimentos e Negócios Ltda, que teve o contrato aditivado recentemente pela administração. O valor foi classificado sob a rubrica “Outros Serviços de Terceiros Pessoa Jurídica” e é utilizada para despesas com empresas contratadas para fins diversos.
O prefeito Sandro Mabel (UB) chegou a falar à CBN Goiânia em 7 de maio que o evento custaria R$ 11 milhões ao Município. No entanto, a Prefeitura de Goiânia não responde aos pedidos de esclarecimento. A expectativa é de que novos gastos sejam contabilizados, como o pagamento de cachês para produtores e despesas de camarim, além de investimentos de outras pastas envolvidas no evento, como de trânsito, segurança e comunicação.
Emendas parlamentares anunciadas pelo presidente da Assembleia Legislativa de Goiás, deputado Bruno Peixoto (UB), não serão repassadas por falta de documentação para processar os pagamentos.
A Pecuária deve movimentar mais de R$ 100 milhões em negócios dentro da feira agropecuária. No entanto, não há números sobre o impacto fora do Parque Agropecuário, como demanda de hoteis e retorno ao Município por meio de arrecadação de ISS.
Grátis, mas nem tanto
A festa disponibiliza ingressos gratuitos para eventos nos dias que antecedem os shows e também na portaria, mas na internet o público reclama que os ingressos se esgotam muito rápido. Enquanto isso, cambistas vendem entradas por até R$ 150 na porta do evento.
Em nota à Tribuna do Planalto, a assessoria de comunicação da festa sustentou que a SGPA e Bahrem Eventos adota um rigoroso controle na distribuição dos ingressos gratuitos para a Pecuária de Goiânia 2025, justamente para evitar que cambistas tenham acesso a eles e os revendam ao público.
Segundo a nota, cada ingresso é vinculado ao CPF da pessoa que o retira, tanto pela plataforma online quanto na bilheteria oficial. “Caso seja identificada a comercialização de um ingresso, o responsável pode ser punido, já que a prática é proibida e deve ser denunciada à Polícia Civil pelo telefone 197.”, orienta.
Segundo a assessoria, na primeira semana, mais de 45 mil ingressos já foram retirados. A expectativa do evento é para a passagem de meio milhão de pessoas nos 10 dias de festa.
Já a Prefeitura de Goiânia informou que se manifestará oficialmente quando os pagamentos forem finalizados.
Sem previsão de contrapartida
A Prefeitura ainda não informou se haverá patrocínio da iniciativa privada ou se o investimento trará retorno financeiro ao município. Também não há detalhamento sobre quantas pessoas estarão envolvidas na organização ou se os valores podem aumentar com novas contratações.
A reportagem enviou perguntas às secretarias de Cultura e de Comunicação, envolvidas na realização do evento, questionando a origem detalhada dos recursos e o impacto orçamentário dessa despesa, mas não obteve retorno até a publicação desta matéria.
O alto custo do evento contrasta com o decreto de calamidade financeira publicado pela própria Prefeitura no início deste ano e que deve ser renovado pelos deputados estaduais. O texto reconhece dificuldades de caixa e autoriza medidas de contenção de gastos. Ainda assim, os recursos da Pecuária estão sendo disponibilizados com base em uma dotação orçamentária própria.
Nota
A Prefeitura de Goiânia, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, informa que fará uma nota oficial para imprensa sobre os investimentos na Pecuária de Goiânia quando o evento e todos os processos de pagamentos forem finalizados.