Um amigo me liga pra falar que outro amigo nosso contou que soube por alguém de um dos candidatos que o líder nas pesquisas caiu e agora quem lidera é o que antes mal pontuava nos levantamentos. A gravidade com que me conta este – enfatiza, com cuidado no tom de voz – segredo tem o peso de uma sentença de morte. Morte do primeiro colocado, que já era, o que enfim confirma sem titubear na conclusão de suas confidências.
O relato é fictício, mas representativo. Quer dizer que não aconteceu isso comigo hoje, porém, ontem e anteontem isso se deu nos mínimos detalhes. Com você também? Pois veja só. Há momentos de extrema gravidade em campanhas que, relatados depois, fazem rir, de tão ridículos e inverossímeis. Quando acontecem, tem poder se influenciar as coisas, porque o peso de suas ‘verdades’ e suas implicações ilusórias interfere no andamento dos fatos.
Se o candidato oscilou um pouco que seja nas pesquisas internas, a informação atravessada soa como sentença, por supostamente evidenciar uma tendência irreversível ou mostrar um quadro que era ruim, mas que de repente se apresenta como catastrófico. A explosão dos fatos novos, com sua carga de dúvida e poder de persuasão pelo medo da derrota, pode provocar reações como uma mudança intempestiva de curso na estratégia, um balde de água fria na militância ou, não duvide, um infarto.
Tudo só porque alguém sugeriu que a vitória certa passou, por sei lá qual razão, para cenário de derrota inevitável. Incrível como a insegurança e a incompetência, uma é outra ou, pior, as duas de mãos dadas, são capazes de desestabilizar algo que, olhando bem, pensando bem, avaliando-se bem, vai muito bem, obrigado. Equilíbrio e bom senso não são necessariamente aliados de coordenadores de campanha e marqueteiros. Muito menos de candidatos. Hilário como disputas são perdidas no desespero, e não no equilíbrio das ações e reações.
O caso ficcional tem muito de verdade. Tem a ver com a realidade de cidades relevantes do nosso Estado. As derrotas virão mais surtos de desespero eleitoral do que em razão dos fatos. Tem um candidato razoável, por exemplo, que se perde na precipitação de seus aliados. Tem outro que se vale da sorte, porque de profissionalismo não tem nada. Aqui perto tem ainda quem se perde na vaidade, e não encontra um caminho para ser útil ao seu apoiado. Mais parece elefante em loja de espelhos. Será mesmo que quer ganhar? Tem momentos que parece não querer. E não duvide disso.
Não é gratuito que se diz que, eleição, ganha quem erra menos, e não quem acerta mais. Toda hora há uma casca de banana. A todo instante surge uma nova oportunidade de se dar um passo em falso: uma declaração fora de contexto, uma gestão de crise pontual desastrosa, uma precipitação urgente em virtude de algo que ouviu de um e de dois, mas que toma como verdade absoluta e retrato de uma sentença de decapitação que exige um grito, e que é combatida com um gemido. Errar é humano? Errar a caminho das urnas, um beijo de despedida.
Da próxima vez que alguém vier com uma conversa imperativa sobre o futuro eleitoral, lembre-se: urna, tem de dois tipos… E não se esqueça: fingir-se de morto diante da realidade das ruas é morrer duas vezes. Desconfie. Desconfie de quem vem pra matar suas ilusões. Desconfie das próprias ilusões. Confie no tempo. Eleição vai, eleição vem, e a vida é cheia de graça. Ria, se for capaz. Ficam aqui meus votos de que a sua paz eleitoral sobreviva aos estilhaços de guerra na sua mente. E que a gente possa um dia falar disso, ainda que seja no recreio do manicômio municipal.