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Artigo | Vivendo na confusão: a síndrome de papel higiênico


Por Redação em 09/11/2018 - 00:00

Foto: Internet

Jorge Antônio Monteiro de Lima

Ele enxuga as lágrimas ante tal “Conto do Bispo”. Deu o que tinha para a Igreja, confiando na honestidade e na dedicação divinas. Coincidentemente, seu líder foi preso, envolvido com uma tal de máfia de ambulâncias. Com ele, levou seu dinheirinho, e a tal de prosperidade prometida, nada. Por que comigo? Mas este não foi seu primeiro rolo, colecionava vários. Casou-se com uma ex-prostituta, confiando que ela podia se regenerar, votou em Costa Neto, formou-se em faculdade não reconhecida e perdeu todo o investimento, tornou-se sócio de um agiota, que o usou de laranja. Ele, tão bonzinho e confiante, tão esperto e inocente…

Há muita gente que é assim. Quando não está no rolo, vira subproduto de digestão. Colecionando erros, desacertos, confusões nas quais entra propositadamente ou não. Seja como for, vive na encrenca, parece até curva de rio só para o que não presta.

Erro é seu sobrenome.  Isto se alastra a todos os campos da vida, política, religião, amizades, afetividade, vida profissional… São os para-raios da lei de Murphy: “Se algo pode dar errado, dará”. Se existirem no universo dois negócios, com certeza escolherá o que vai dar errado e vai virar rolo. Macunaíma, ante tal vivência, é conto-de-fadas… ou um tal de Nestor, do Zé Carioca, que vive para aparar os erros do parceiro e levar a bronca para livrar o “companheiro”. Os militantes do fim do mundo que o digam…

Existem muitas vítimas profissionais que vivem por aí, no mundo da saúde, da política, do assistencialismo, nos becos da vida, comprando lotes no céu, indulgências, e ou motes de ações de avestruz ou boi gordo. Vivem adquirindo produtos mágicos para beleza, emagrecer, ou atrás de milagres fáceis, que não dêem trabalho. Tipo cura mágica em dose sessões. Embora se tente avisar o risco que correm, são surdos da razão e fazem questão de assim permanecer. Por vezes, inclusive brigando com quem tenta lhes orientar, pois crêem piamente que são espertos, maduros e inteligentes. Seus pontos fracos são a carência e a vaidade. Basta chamar de gente, linda, irmão, investidor, que ele cai.

Cinismo à parte, este tipo de estrutura de personalidade é extremamente complicado. Tal qual um dependente químico, um masoquista e/ou um depressivo. Abordo tal temática focando a questão do ser autodestrutivo. Assim, vivem uma falta de amor próprio patológica, tendendo a projetar sua responsabilidade fora de si próprio, o que denota a afetividade imatura.

Jorge A. Monteiro de
Lima é analista, pesquisador
em saúde mental, psicólogo
clínico e mestre em Antropologia
pela UFG.
Foto: Divulgação

Desta forma, tendem a colocar a desonestidade, o golpe, a traição, fora de si, vendendo a toda a sociedade a aparência de ingenuidade. Todavia, isto não resolve seu problema e, caso alguém o faça, é o tempo de deixá-los à solta para vê-los novamente envolvidos em nova confusão. É só uma questão de tempo. No geral, não é raro que estes vistam uma carapuça de bonzinhos e/ou caridosos demais. Só não o são consigo próprios. Amam demais aos outros e de menos sua própria essência.

Esta estrutura psíquica adota o que chamamos em na sombra, ou seja, auto boicote. Em especial pelo fato de existir uma estreita ligação entre a percepção do indivíduo e algo que, com certeza, irá dar errado. Um ímã inconsciente, um alerta que funciona o tempo todo para o que não presta. Existe possibilidade de tratamento, caso o indivíduo se conscientize de seu auto boicote e de sua necessidade básica de confusão.

 

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