A descrença do povo brasileiro em relação à política tem se manifestado de diversas maneiras nos últimos anos e um dos reflexos disso é a alta taxa de abstenção no último pleito eleitoral. Nas eleições municipais de 2024, a desmotivação e o ceticismo em relação aos candidatos e à efetividade do processo político foram explícitas e os atores políticos precisam entender o recado que foi dado pela população brasileira.
Alguns fatores que influenciaram esse fenômeno foi a desconfiança nas instituições, eis que muitos brasileiros sentem que nossas entidades estão desgastadas e esse sentimento gera frustração e desinteresse nas escolhas políticas. Há que se considerar também a desinformação e a polarização política, que podem afastar os eleitores das urnas, eis que se sentem perdidos ou inseguros sobre em quem confiar novamente.
A desigualdade, o desemprego e os problemas socioeconômicos atuais geram preocupações imediatas dos cidadãos, levando a uma menor ênfase na participação eleitoral e pouco tempo na análise das propostas feitas pelos candidatos.
A falta de propostas eficazes e eficientes para melhorar os problemas municipais também é uma realidade, pois mesmo que haja opções viáveis ou éticas entre os candidatos, quebrar essa barreira perceptiva é trabalho árduo da classe política dependente do voto.
Para entender melhor o impacto da abstenção nas eleições municipais de 2024 é crucial acompanhar as análises e pesquisas de opinião que exploraram a relação entre a confiança nas instituições e a mobilização dos eleitores. Além disso, estratégias de engajamento cívico podem ser importantes para incentivar a participação dos cidadãos no processo democrático.
De acordo com os dados finais da votação para Prefeitos em 2024, divulgado pelo Tribunal Superior Eleitoral – TSE, o segundo turno no Brasil teve uma abstenção média de 29,26%, praticamente um em cada três eleitores deixaram de votar. No primeiro turno, o não comparecimento às urnas foi de 21,68%.
A cidade de São Paulo bateu recorde do número de eleitores ausentes e teve o maior número de abstenções da história em um 2º turno. Na disputa entre Ricardo Nunes (MDB) e Guilherme Boulos (PSOL), com 100% das urnas apuradas, o número de ausentes chegou em 31,54%, ou seja, 2.940.360 eleitores. O número chama a atenção, pois a abstenção foi maior do que a votação do candidato Guilherme Boulos (PSOL) que recebeu 2.323.901 votos.
Em termos percentuais, Goiânia bateu seu próprio recorde e teve 34,2% de abstenção no segundo turo, ficando atrás apenas de Porto Alegre que registrou 34,83%. Em Goiânia, algo em torno de 352,3 mil eleitores não compareceram às urnas. Para se ter uma ideia do tamanho do número, o candidato Sandro Mabel recebeu 353.518 votos, sendo que a diferença para as abstenções é de aproximadamente 0,32%, enquanto o candidato Fred Rodrigues (PL) obteve 283.054 votos.
O recado das urnas foi contundente e saber interpretá-lo será fundamental para as tomadas de decisões dos futuros candidatos e também para os eleitos, os quais têm a missão de governar e administrar a Prefeitura pensando no bem de toda a população, e não apenas para aqueles que os apoiaram. Essa compreensão é crucial para promover a unidade e a coesão social, especialmente em contextos de polarização política.
Os novos líderes deverão levar em consideração pontos importantes e sensíveis para que governem de maneira inclusiva, sendo que é essencial que os novos ocupantes dos cargos políticos se mantenham abertos ao diálogo com diferentes nichos da sociedade, em especial com aqueles que não votaram neles. Isso pode ajudar um verdadeiro líder a identificar necessidades e a ampliar bases eleitorais.
Elaborar políticas públicas de forma que contemple as diversas realidades e necessidades da população, buscando atender a todo espectro social, além de transparência e uma comunicação clara, com prestação de contas sobre decisões e ações governamentais, são ações vitais para construir e manter a confiança do público.
Incentivar a participação cidadã em processos de decisões pode fortalecer a democracia e garantir que diferentes vozes sejam ouvidas, sendo esse um ponto sensível, eis que as urnas demonstraram que a população está desestimulada com o processo eleitoral.
No atual contexto de forte divisão política que vivemos no Brasil, esforços para promover a reconciliação e fomentar o diálogo entre diferentes grupos podem ajudar a minimizar conflitos e a construir um ambiente mais colaborativo.
Governar para todos é, portanto, não apenas uma obrigação ética, mas também uma estratégia para fortalecer a democracia e a sociedade como um todo, promovendo um ambiente mais pacífico e produtivo.