No Congresso Nacional havia um deputado do baixo clero que defendia agendas retrogradas que ninguém mais ousava defender. Por anos foi ridicularizado e isolado por seus pares, até que um dia conheceu as maravilhas das redes sociais e seus algoritmos. Com um discurso radical, que se convencionou ser chamado de extrema direita, caiu na rede se somando à ascensão global dessa tendência política internacional. Surgia o “mito”, Jair Bolsonaro.
Em 2018 numa eleição marcada por crises, ataques, distorções da verdade, poucas propostas e uma trágica facada, o capitão da reserva e ex deputado do baixo clero conseguiu vencer a eleição mais disputada do País e chegou a presidência da república. Canalizou a direita do Brasil em torno de um projeto extremista de poder. A direita se reuniu em torno de Bolsonaro e o Bolsonarismo.
Ao ser derrotado pelo PT e o presidente Lula em 2022 Jair Bolsonaro se recusou a deixar de maneira democrática o Palácio do Planalto. O Bolsonarismo, estimulado por sei lá quem, trancou rodovias, tocou fogo no país e depredou os símbolos da república e democracia brasileira. O ex capitão da reserva não compareceu ao passamento de faixa para o presidente Lula, desrespeitando uma tradição da democracia brasileira. Para muitos uma clara tentativa de ruptura institucional e golpe de Estado. Começava ali uma fissura entre direita democrática e extrema direita.
O Poder Judiciário brasileiro condenou o ex capitão à perda dos seus direitos políticos e consequente inelegibilidade. O Bolsonarismo estava órfão, já a extrema direita não e muito menos a direita democrática. Sem perspectiva de poder pelos próximos anos o chefe do clã Bolsonaro deixou um espaço vago. Como não existe espaço vago na política, outras lideranças da direita começaram a se movimentar. Jair Bolsonaro esperneou e afrontou seu próprio campo político! Rivalizando com governadores lançou frutos legítimos do Bolsonarismo nas capitais de Estados governados pela direita. Uma clara disputa de espaços e hegemonia eleitoral na direita e isso ficou evidente na eleição de Goiânia.
Ao final das eleições municipais o resultado foi supreendentemente, quem derrotou o Bolsonarismo não foi a esquerda, como se imaginava, mas a própria direita democrática. A extrema direita se desprendeu um pouco do Bolsonarismo ao se apegarem ao ex candidato da capital paulista, o goiano Pablo Marçal. Estariam pensando num novo movimento político de extrema direita, o Marçalsismo? Sei lá!
Tanto a direita democrática com sua agenda econômica e desenvolvimentista, quanto a esquerda progressista com sua agenda de inclusão social têm juntas muito o que colaborar com o Brasil. Na democracia cabe tudo, inclusive extremistas, o que não podemos permitir, nenhum de nós democratas, são pessoas que violem direitos humanos e manipulam para provocarem o fim da democracia.
Winston Churchill costumava dizer: “a democracia é o pior dos regimes políticos, mas não há nenhum sistema melhor que ela”; preciso reconhecer que nossa jovem democracia tem muitos defeitos a serem corrigidos, mas não podemos abrir mão dela em hipótese alguma, devemos sim aperfeiçoar o nosso sistema democrático.