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Abstenção, nulo, branco e o novo “orgulho” do brasileiro de não votar em ninguém


Rodrigo Zani Por Rodrigo Zani em 12/11/2024 - 06:00

Nas eleições, a abstenção, votos nulos e brancos superaram debates ideológicos, refletindo o crescente orgulho do brasileiro em não votar.
Nas eleições, a abstenção, votos nulos e brancos superaram debates ideológicos, refletindo o crescente orgulho do brasileiro em não votar.

Nas eleições de 2024 o processo eleitoral teve um grande destaque. A esquerda? Direita? Centro? Não! Foi a abstenção e o não voto. Abstenção essa tão expressiva quanto nas eleições em meio à pandemia. O direito ao voto foi conquistado às custas de muita luta, sofrimento e até morte de heróis brasileiros do passado. Não por acaso o voto é formalmente obrigatório no Brasil, mas na prática já é absolutamente facultativo. A verdade é que o cidadão comum que não se engaja em nenhum espectro político-ideológico prefere não votar em ninguém e até se orgulha em dizer que não vota. O que tá rolando?

A polarização radical dos últimos anos contaminou o debate político-eleitoral. Perdeu-se a racionalidade! Ao se sentar na mesma mesa um radical de direita e outro da esquerda pode esperar alguma discussão áspera e até briga física. Nas redes sociais as fake news e os ataques pessoais se proliferam como se fossem erva daninha. E onde fica o eleitor que não se envolve em nenhum dos polos ideológicos? Fora dessa confusão toda, oras!

O agigantamento cada vez menos envergonhado de lobistas e negociadores em espaços do poder público afastam muito o interesse do cidadão com a política. A tragédia de observar o crime organizado entrando no ambiente da política-partidária é assustador. Todo esse cenário tóxico aumenta o desinteresse do povo em relação ao processo eleitoral. A impressão geral é de que a política não vale a pena e a democracia não existe mais. Sentimentos muito perigosos para o Brasil enquanto projeto de nação.

A política é a atividade humana mais nobre que existe e somente por meio dela é que podemos potencializar ações coletivas em benefício de uma sociedade mais justa e igualitária. Não podemos desistir da política e muito menos da democracia brasileira. Não existe caminho para o futuro desse País sem a prática da boa política feita sempre com diálogo, projetos, ética, sem ataques pessoais e com foco total no desenvolvimento da qualidade de vida das pessoas.

Está escrito em Cláusula Pétrea da nossa Constituição Cidadã que: “todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente”; isso significa que não são os agentes da polarização tóxica e criminosos que devem afastar os cidadãos da vida política brasileira, mas justamente o contrário, são os cidadãos que devem resgatar as boas práticas políticas e isolar infiltrados mau intencionados. O voto tem poder e deve ser utilizado com consciência! Instituições da República de controle social e jurídico devem agir com o rigor da Lei para coibir a ação de grupos criminosos na vida pública do Brasil.

Aquela célebre frase da filosofia política é muito bem vinda: “o castigo dos bons que não fazem política é serem governados pelos maus que fazem”; não podemos cair na armadilha de acreditar que a política não presta. É justamente isso que os maus feitores querem que você pense para manter as coisas como estão. Os bons precisam entrar para a política! A omissão das boas pessoas é tão prejudicial ao Brasil quanto a ação dos desleais.

Rodrigo Zani

É Secretário de Formação Política da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar do Brasil - UNICAFES

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