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Aplicativos buscam solução para reduzir assédio a mulheres


Avatar Por Redação em 13/11/2021 - 00:00

Em outubro chegou a Goiânia o Lady Driver, plataforma que só trabalha com motoristas e passageiras mulheres, aceitando homens apenas se eles estiverem acompanhados por alguém do sexo feminino. Foto: Agência Senado | Ederson Nunes/CMPA

Maísa Lima

A cada semana, somente o aplicativo de mobilidade 99 bane, em média, 730 pessoas por cometerem algum tipo de assédio. Isso dá a dimensão do problema que afeta principalmente mulheres que usam essas plataformas de mobilidade para se locomoverem pela cidade, na esperança de se verem livres das abordagens inconvenientes. 

Pesquisa realizada pelos Institutos Locomotiva e Patrícia Galvão, com apoio da Uber e ONU Mulheres, ouviu mais de 2 mil pessoas de todo o País entre 30 de julho a 10 de agosto últimos e concluiu que o público feminino é o grupo mais vulnerável quanto às violências que ocorrem nos diversos meios de transporte: 7 em cada 10 entrevistadas afirmaram já ter recebido olhares insistentes e cantadas inconvenientes enquanto se deslocavam nas cidades em que vivem.

“Embora haja uma sensação geral de insegurança urbana, a pesquisa comprova que as mulheres sentem muito mais medo do que os homens em seus deslocamentos e que esse medo tem uma razão concreta: as experiências das mulheres com situações de violência, em especial de importunação e assédio”, afirma Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão.

MENSAGEM SEXUAL 

Em agosto último, a Justiça de Goiás condenou a empresa de transporte por aplicativo Uber a pagar R$ 7 mil de indenização a uma passageira, após o motorista cobrar a mais pelo valor da corrida e ter encaminhado mensagem sexual a ela, fato que ocorreu em novembro de 2019. O caso aconteceu em Goiânia e ainda cabe recurso da decisão.

Conforme a decisão do juiz Leonys Lopes Campos da Silva, a mulher denunciou que após o motorista cobrar um valor a mais do que o determinado pelo aplicativo, mandou mensagem pedindo sexo oral à ela, o que configurou danos morais. Na sentença, o magistrado concluiu que a empresa tem a obrigação de responder pela ação do motorista, visto que não apresentou provas de que o prestador de serviço tratou a passageira com o devido respeito.

TECNOLOGIA

Para tentar reduzir esse tipo de situação, as plataformas de aplicativos de mobilidade estão apostando em tecnologia. A 99, por exemplo, diz que conseguiu um recuo de 13%, por milhão de corridas, em todo o Brasil, no período de julho de 2020 a julho de 2021. A empresa credita esse resultado ao desenvolvimento de Inteligências Artificiais (IAs) que protegem as mulheres antes, durante e depois das viagens. 

Tatiana Scatena, diretora de Segurança da 99, diz que o aplicativo reduziu os incidentes em 22% em Goiás e em 32% em Goiânia. “As IAs identificam usuárias em situações de maior risco para prevenir casos, além de facilitar a denúncia e o bloqueio de agressores”, afirma. Ela cita como exemplo as chamadas feitas em regiões de bares e casas noturnas, após determinados horários. “Direcionamos a chamada dessas passageiras em situação potencialmente de risco apenas para motoristas com melhor qualidade de atendimento ou motoristas mulheres”.

Opção é selecionar mulheres nos aplicativos de transporte

Para tentar garantir segurança às passageiras e motoristas, vários aplicativos de transporte incorporaram a opção de selecionar apenas mulheres, alguns têm essa funcionalidade disponível para passageiras, outros para motoristas. Essa medida procura dar mais segurança ao público feminino. 

O Lady Driver, que chegou em Goiânia em outubro último, tem esse diferencial para competir com aplicativos exclusivos. Lançada em 2016, a plataforma só trabalha com motoristas e passageiras mulheres, aceitando homens apenas se eles estiverem acompanhados por alguém do sexo feminino. O objetivo é reduzir o risco de uma mulher sofrer qualquer tipo de assédio ou violência e oferecer uma melhor experiência para as motoristas, pagando uma porcentagem maior em cada corrida e dando suporte personalizado para as passageiras. 

De acordo com Stephânia Sousa, uma das sócias do Lary Driver, o aplicativo enxerga a situação que o mercado está enfrentando, e quer trabalhar na contramão com benefícios. 

“Sabemos que nos apps de mobilidade os motoristas estão ganhando pouco e cancelando muitas corridas. O nosso é diferente. Pagamos cerca de 20% a mais em cada corrida para a motorista, ou seja, ela trabalha com segurança, ganha mais, tem maior reconhecimento e satisfação”, completa.

EXCLUSIVIDADE 

Transporte exclusivo para mulheres é umas das políticas públicas sugeridas pela representante da ONU Mulheres no Brasil, Nadine Gasman, para diminuir o assédio. “Os dados refletem a desigualdade entre homens e mulheres na sociedade. É uma questão de gênero, de entender que na sociedade, qualquer que seja, as mulheres não são consideradas iguais aos homens. A ideia é que a mulher está subordinada no lar e no trabalho. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que uma a cada três mulheres sofre violência doméstica. Para os homens, os corpos e as vidas das mulheres são uma propriedade, está para ser olhada, tocada, estuprada”, disse.

Segundo Nadine, é necessário implementar políticas públicas que garantam a segurança da mulher em espaços públicos, como a iluminação adequada das ruas e transporte público exclusivo para mulheres. “Quando se pensa que quase todas as mulheres têm a experiência com abusos, não se tem a ideia do assédio. Isso tem um impacto, isso limita de andar na rua com segurança e direitos como educação e trabalho”, diz

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