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Artigo | Transparência: a dissolução e o imaginário


Por Redação em 25/10/2018 - 00:00

Jorge Antônio Monteiro de Lima

Hoje todos somos transparentes. Nada mais é oculto e esta é uma prática rotineira da mudança presente na pós-modernidade. Após o advento da internet e do amplo emprego das imagens pelas redes sociais, tudo e todos ficaram evidentes no espelhamento da sociedade no ciberespaço. O olho divino que tudo enxerga foi pautado na ordem do dia e o mito da fama com seus milhares de orelhas hoje é comungado por todos.

A mudança radical de paradigma da visibilidade tem sido um de meus campos de estudo. Processo que afeta a vida social, econômica, política, religiosa. Existir hoje só é possível e factível diante do registro imagético. Fatos de duas décadas atrás se transformaram em lendas a proporção que não existem em fotografia e em vídeo. A memória foi concretizada em registros de obviedade.

De outro lado, o imponderável da vida cotidiana, o invisível da transparência nos assusta, em especial aos nativos que hoje têm mais de 30 anos. Como viver neste mundo em que tudo deve ser visível, registrado, compartilhado?

A temática da visibilidade e da transparência hoje é o maior inimigo público dos corruptos, dos meliantes, das pessoas que querem fazer coisas erradas. Por isto, a tentativa inútil de controlar as redes e seus usuários. Em outro ponto, retratamos as distopias das obras de ficção ‘1984’ e ‘Admirável Mundo Novo’ escritas há várias décadas.

É extremamente fácil nas mãos de pessoas com habilidade tecnológica rastrear a vida de qualquer um. Saber todos seus passos, sua movimentação financeira, para quem foi dado o cheque, que horas foi a reunião para a aliança visando a corrupção. Hoje o político que nega ter roubado é rastreado com facilidade, sua conta bancária é facilmente disponibilizada nas redes e aquela velha cara de pau que diz não ter nada a ver com isto é desmascarada. Nada mais é oculto e escondido. O fato negado, dois dias depois está nas redes sociais, e estampado nos jornais.

Jorge A. Monteiro de
Lima é analista, pesquisador
em saúde mental, psicólogo
clínico e mestre em Antropologia
pela UFG.
Foto: Divulgação

A onisciência é um status presente que democraticamente está na sociedade. Só não enxerga quem não quer. Na contrapartida deste fato, a ilusão programática, a alienação e a distorção dos fatos diante de uma compreensão manipulada grita e esperneia. Fica muito mais difícil mentir ou tentar manipular a opinião pública diante dos documentos e coisas que vem á tona com extrema facilidade. E a velocidade com que isto tudo vem a tona é estarrecedora.

O sentimento psicológico que advém de todo este processo que muda o estilo de vida é de apreensão, cautela, cuidado. Nos dias atuais é bom pensar antes de fazer. Prudência uma palavra necessária, coisa que não existe à classe política.

De resto, sorria! Você, quando menos esperar, vai estar sendo filmado e o que estiver fazendo, vai ser compartilhado…

 

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