O recente projeto de lei que propõe o fim da escala 6×1 para trabalhadores brasileiros reacendeu o debate sobre as verdadeiras intenções e consequências das políticas laborais defendidas por parte da esquerda no país. Tradicionalmente, esse segmento político buscava se posicionar como defensor das classes trabalhadoras, mas a proposta levanta dúvidas sobre se o compromisso com esses grupos ainda é prioridade ou se a aproximação com interesses distintos desvirtuou essa bandeira histórica. Críticos apontam que, na prática, as medidas sugeridas podem acabar prejudicando aqueles que, teoricamente, deveriam proteger.
A promessa de extinguir a jornada 6×1 — seis dias trabalhados seguidos de um dia de descanso, conforme previsto no Art. 67 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) — parece sedutora à primeira vista, especialmente para trabalhadores que enfrentam rotinas exaustivas. No entanto, uma análise mais profunda sugere que o projeto não favorece a classe trabalhadora. A mudança pode sobrecarregar pequenos e médios empresários com a necessidade de reformular escalas e aumentar contratações. Como consequência, há o risco de mais demissões e a substituição de empregos formais por contratações temporárias ou informais. Segundo o IBGE, a taxa de informalidade no Brasil já é alta, atingindo 39,4% da população ocupada em 2024, o que evidencia a fragilidade do mercado de trabalho.
Além disso, ao encarecer a folha de pagamento das empresas, o projeto tende a elevar os custos operacionais. Como é habitual em um cenário de aumento de despesas, esses custos acabam sendo repassados ao consumidor, impactando o poder de compra e contribuindo para a alta no custo de vida. Uma pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que, em 2023, 78% das empresas afirmaram que um aumento de custos seria inevitavelmente transferido aos preços dos produtos finais. Dessa forma, a suposta melhoria nas condições de trabalho pode resultar, paradoxalmente, em um efeito inverso: mais dificuldades financeiras para as próprias famílias que a proposta pretende beneficiar.
Um ponto central da crítica é a percepção de que a esquerda política brasileira tem se distanciado das necessidades reais dos trabalhadores, transformando temas laborais em bandeiras de fácil apelo eleitoral. Durante as últimas décadas, a aproximação com setores urbanos mais influentes e preocupações com pautas identitárias frequentemente relegaram demandas clássicas da classe operária a um segundo plano. Essa desconexão pode explicar por que um projeto como o fim da escala 6×1, embora carregado de boas intenções, não contempla plenamente as consequências práticas para quem trabalha na base da economia.
Ademais, a atual estrutura da CLT estabelece garantias importantes para o trabalhador, como o direito ao descanso semanal remunerado (Art. 67) e a limitação da jornada de trabalho a oito horas diárias (Art. 58). Mudanças que interferem nessas regras precisam ser analisadas com responsabilidade. Muitos questionam se o verdadeiro objetivo do projeto não seria eleitoreiro. Com as eleições se aproximando, lançar medidas que soam favoráveis ao trabalhador pode angariar apoio popular e fortalecer a narrativa de compromisso com os menos favorecidos. No entanto, sem um planejamento adequado e sem a consideração das complexidades do mercado de trabalho brasileiro, o projeto corre o risco de ser lembrado como mais um gesto de propaganda do que como uma solução eficaz para as questões laborais do país.
O desafio, portanto, é construir políticas públicas que, de fato, ajudem os trabalhadores sem sacrificar o dinamismo econômico ou criar armadilhas que agravem o desemprego. Se a intenção é realmente proteger a classe trabalhadora, é necessário um debate mais técnico e menos político, que avalie não apenas os impactos imediatos, mas também as repercussões de longo prazo. Enquanto isso, o trabalhador comum segue aguardando soluções que tragam melhorias reais, e não apenas promessas vazias.