As pesquisas estão provocando, nestas eleições, uma confusão dos diabos na cabeça de todo mundo. O normal é vermos várias delas publicadas com números divergentes, uma tentando se sobrepor à outra como parte de estratégias de campanhas. Mais ou menos sempre foi possível identificar as chamadas sérias, que podiam até errar, mas nunca por manipulação grosseira e direcionada.
A vida fácil acabou. A confusão chegou às pesquisas internas, normalmente resguardadas como fonte segura pelos estrategistas. Eram o norte, a bússola, a fonte de credibilidade. Hoje, não. Hoje, uma passada rápida pelos escritórios de coordenação, mostra que cada um tem sua bola de cristal. Mapa do tesouro, que é bom, ninguém sabe quem tem de verdade. É rir pra não chorar.
Um problema para os institutos. O joio é o trigo tá tão misturado que ninguém sabe qual é o quê. Uma pesquisa bem feita custa caro. Pois o caro não é sinal mais de qualidade. É simplesmente evitado. Por ser caro. O barato – que, logicamente, sai caro – é o barato da vez. Compra-se levantamentos no atacado, é um pelo outro, todos juntos não pagam uma boa pesquisa de verdade. Mas e daí? Porque esta ou aquela supostamente acertou uma vez, tá valendo, não importa que tenha errado 100 vezes outras. 100 contra um. E daí?
Os candidatos querem resultados bons, não querem indicadores reais como guia de campanha. Tô na frente? Tá barato? Negócio fechado. E, em nome de uma suposta regulação dos números, outra pesquisa boa, bonita e baratinha é arrematada na calçada pra o firmar a que já tá na capanga. Uma, suas, três, quatro pesquisas ruins, feitas nas coxas e com pompas de infalíveis, acabam por validar-se umas às outras, no novo cangaço do compadrio pesquisacional. Todos juntos. Se der certo, aleluia; se der errado, tá combinado: culpa-se o cliente. Ele não fez a parte que lhe cabia. Captou?
Os bons estão fora de moda. As pesquisas de fé e índices, cientificamente falando, ou planejam despedir-se do mercado, ou estão tentando se reinventar como podem. Escolher bem quem vai pegar na sua mão e mostrar o caminho deveria ser uma providência primordial e fundamental na vida de um candidato. Quem se fia na ciência tem menos chance eles errar e perder. Ainda há sobreviventes. Ainda há esperança de redenção na caminhada de marqueteiros, candidatos e coordenadores de campanhas. Amém.
Nesta hora, isto é questão de vida ou morte. Os eleitores indecisos estão demorando mais a indicar o caminho que vão seguir. E aí, o que fazer? Nas trincheiras estabelecidas, a confusão é cada vez maior. Mas sofrem menos os que têm em quem confiar. Ficaram sabendo antes da maré de movimentação de votos entre os candidatos postos – quem cresceu, quem caiu, quem lucrou e a tendência -, e certamente enxergarão primeiro o destino dos indecisos. Não é certo. Eleições carregam seus mistérios, suas imponderáveis surpresas. Mas é menos incerto do que para aqueles que pisam em galho seco.
Lembro de uma vez em que joguei uma corda sobre o galho da mangueira, peguei a ponta de um lado e amarrei a outra no corpo. Puxei com força a ponta solta. Subi fácil. Era novo, magro, tinha certa força nos braços. Porém, a juventude não me avisou do elementar: quando já ia pegar no galho e vencer o desafio de chegar lá com força e fé, soltei da parte de lá corda e grudei na de cá. Um movimento simples, rápido, pra ter a mão solta pra abraçar a árvore. Não deu outra: vai de costas e sem fôlego fiquei.
Acho que não morri. Mas com certeza aprendi que troquei o certo pelo duvidoso e me… estrepei. Se fosse fazer essa subida hoje, cuidaria melhor da pesquisa antes de subestimar a urna.