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“Basta dizer que é empreendedor que você é mal visto”


Andréia Bahia Por Andréia Bahia em 04/02/2024 - 00:00

Leonardo Rizzo, empresário e pré-candidato a prefeito pelo Novo :“O Novo hoje é mais pragmático e realista. Não se pode entrar numa luta com o canivete e o outro com uma metralhadora. O que está acontecendo hoje no poder político do Brasil é que somos reféns desse processo.”
Empresário do setor imobiliário, Leonardo Rizzo entrou na política em 2020 para disputar uma vaga no Senado pelo partido Novo, com intuito de marcar presença, como ele mesmo admite. Convidado agora a disputar a eleição para prefeito da capital, ele aceitou, desta vez para preparar o partido para 2026. Apesar de concordar que há conflito de interesses entre o setor imobiliário e o poder público, responsável pela política habitacional da cidade, Rizzo afirma que um representante do setor imobiliário administrar a cidade não seria problema, pelo contrário,  solução.  

TRIBUNA DO PLANALTO – Por que o senhor decidiu ser candidato a prefeito, sendo que em 2022, o senhor havia dito que seu sonho sempre foi ser senador?

Leonardo Rizzo – Eu acho que os males do Brasil estão no Legislativo, no Senado. O Congresso é o lugar certo para se questionar essas arbitrariedades todas que estão acontecendo, porque na falta de um Congresso forte, o Judiciário tomou conta. Será preciso questionar isso e ter uma posição mais firme, independente, bem liberal. Por isso me lancei a candidato pelo Novo ao Senado. Agora em 2024, estávamos analisando as pesquisas e me pediram para ser candidato a prefeito. Eu particularmente não queria ser, mas decidi pelo fato de fazer com que o partido cresça, para ver se conseguimos eleger vereadores, enfim, para crescer a ideia liberal, que acho que está muito esquecida. Ou é esquerda ou é direita, ou é A ou é B e não dão espaço para pessoas que trabalham para resolver os problemas do país. Diante disso, aceitei o desafio. Goiânia é uma cidade que eu conheço há 50 anos, sou usuário do serviço do município há 50 anos, sei perfeitamente onde estão os problemas de Goiânia, e acho que sou capacitado para resolvê-los. 

O senhor se identifica com o Novo em sua versão original ou com o partido hoje, que passou por mudanças e decidiu, por exemplo, usar dinheiro do fundo partidário?

Eu me identifico com o Novo atual. Eu gosto muito do João Amoedo, mas a posição dele com o governo Bolsonaro foi totalmente contra os princípios do partido liberal. Ele liderou o movimento para o impeachment de Bolsonaro, e chegamos à conclusão que não era possível, isso não fazia parte e foi feito um movimento para o afastamento dele. O Novo hoje é mais pragmático e realista. Não se pode entrar numa luta com o canivete e o outro com uma metralhadora. O que está acontecendo hoje no poder político do Brasil é que somos reféns desse processo, desse sistema. Nós vamos participar do fundo partidário, não do eleitoral, porque não tem como devolver o dinheiro. Como nunca usamos recurso partidário, vamos usar daqui para frente, porque, se devolvermos esse dinheiro, ele vai para os outros partidos. E não teria sentido. Ao mesmo tempo, não temos recursos financeiros para campanha, a não ser de pessoas físicas, porque o resto está tudo bloqueado. Essa legislação tinha uma intenção, mas na realidade aconteceu outra coisa totalmente diferente. A concentração de dinheiro nos partidos que dominam é muito grande, e não tem porque abrirmos mão do fundo partidário.

Quais as críticas do senhor à política tradicional?

A política tradicional faz parte do sistema. Você não vai ver na Assembleia políticos novos, ou na Câmara, com ideias renovadoras. Todos fazem parte  do sistema político que aí está. O Novo quer ser um grito de independência, um grito de alerta no sentido de que não podemos continuar nesse processo, que é o caos. Não temos riqueza para sustentar privilégios como sustentamos hoje no Brasil.

Em relação ao conflito entre Amoêdo e o governo Bolsonaro, o liberalismo que o Novo defende condiz com a gestão de Jair Bolsonaro?

Em parte sim; em parte não. Bolsonaro tem suas qualidades e seus defeitos, mas eu achava que ele poderia ter avançado muito mais no liberalismo, poderíamos ter acabado com essa farra do boi nessas empresas e ele deixou de avançar na privatização, porque trabalhamos para um estado enxuto que atende as necessidades da população. O estado hoje é inchado, e a consequência é que há 40 anos o país não cresce ou se cresce é 1%. Em 40 anos crescemos 40% e o mundo cresceu 130%. Perdemos o bonde do desenvolvimento que houve de 2000 a 2010 por causa desse negócio de protecionismo, disso e daquilo. Se tivéssemos feito o dever de casa, como foi programado, teríamos uma ação mais rica, um salário mínimo de R$ 6 mil. O salário mínimo hoje é de R$ 1,5 mil, não dá para nada, nem para as necessidades básicas de uma família. É esse crescimento que queremos fazer com que a sociedade enxergue. Não é possível mais ficar nesse socialismo e nesta direita extrema de favores. Na última eleição presidencial, a direita ofereceu mais benefícios que a esquerda. Eu nunca vi isso na minha história. Mostra que o sistema político atual está falido. Não tem para onde ir mais.

O Novo surgiu em meio à negação do político tradicional ou profissional. Esse debate foi superado ou ainda pode favorecer os candidatos do Novo?

Eu diria que o Novo é muito novo ainda. Há uma certa desconfiança em relação a tudo isso que estamos propondo, um estado mais enxuto, mais eficiente, com menos burocracia para que possa dar mais resultado. Não é possível um estado que fatura sobre todos não seja parceiro e não estenda a mão para o empreendedor. Basta dizer que é empreendedor que você é mal visto. O empreendedor gera riqueza, divisas e é preciso que a sociedade entenda isso. O Novo acredita que pode fazer um sistema político diferente do que está aí; pode, sim, fazer uma política de infraestrutura diferente da que está aí; pode fazer uma política administrativa mais eficiente. Olha os resultados do governo Bolsonaro. Até quando vamos aceitar essa gastança com o nosso dinheiro que está custando falta de comida, falta de alimentação, transporte, segurança? Todos esses males são causados pelos privilégios dos políticos, que, de uma certa forma, o sistema impôs à sociedade. Nós viemos para combater isso.

Como o Novo se posiciona ideologicamente nos dias de hoje, diante dessa fragmentação partidária?

Na política brasileira, ou você é Lula ou é Bolsonaro. De uma certa forma, nós achamos que é preciso fazer mais. É preciso ter uma terceira via que pense diferente, que pense em resolver o problema das pessoas, que pense em implantar na sociedade uma cultura de empreender. 

O Novo seria uma terceira via entre direita e esquerda? 

O Novo é a única terceira via do país. O Novo é uma direita que vai agregar todos aqueles que se dizem de direita, mas com a filosofia muito clara de  diminuir o tamanho do Estado, tornar o Estado mais eficiente, dar as mãos para quem quer empreender e gerar renda, para que possamos ter uma distribuição de renda mais justa. Esse é o caminho. No Brasil, como dizia o meu amigo Roberto Campos, as empresas privadas são controladas pelo governo e as empresas estatais não são controladas por ninguém. 

Considerando que a direita está mais estatizante que a esquerda, com quais partidos o senhor pretende se aliar?

PL, União Brasil, os partidos que compõem a base do governador. Todos são de direita, mas o Novo é uma direita liberal, ou seja, bem mais à direita. Eu acho que direita mesmo é o Novo. O Novo hoje permite alianças. O Novo só tem seis anos de partido, então é necessário que se  corrija no transcorrer da caminhada.

 

O Novo participou das eleições de 2018 e 2022, sendo que em 2018,  elegeu oito deputados federais; em 2022, a bancada foi reduzida para três. Em 2020, a sigla fez apenas um prefeito. Na avaliação do senhor, porque o Novo sofreu essa redução?

Justamente por causa da interpretação da saída do Amoêdo, porque ele, de certa forma, era o líder, fundou o partido e, de repente, desentendeu-se com o partido dentro desses princípios que estou dizendo. Ele criou um partido liberal e nem ele mesmo conseguiu se livrar daquilo que estava escrito no partido. Ele foi vítima das suas próprias garras. Isso causou um certo desconforto, mas hoje o quadro já se recompôs, o Novo é o partido que mais recebe filiados no Brasil e estamos chegando a 50 mil filiados, exatamente como era no início. Voltamos à situação inicial.

Qual a situação do partido em Goiás e Goiânia?

Aqui Goiânia também é uma coisa nova. Em 2018 tivemos candidatos só para marcar presença, em 2022 já fizemos bonito, conseguimos quase 100 mil votos na soma de todos os votos do Novo. Eu me considero extremamente bem votado, só em Goiânia tive mais de 18 mil votos e tive votos em 242 municípios do estado, sem nunca ter sido político. E mais importante, não temos dinheiro para  gastar, não porque não temos, mas somos proibidos pela Constituição e pela lei de aplicar recursos de pessoa física, além dos 10%  da rentabilidade do ano anterior. Não tem como fazer política no Estado e se locomover sem dinheiro. Chegamos à conclusão que iríamos usar o fundo partidário já na eleição de 2024 e nos preparar para 2026, e achamos que em 2026 vamos vir muito fortes porque esse é o sentimento nacional, o sentimento de mudança é latejante nas pessoas, ninguém está contente com o governo, com os seus ganhos, ninguém está contente. Só a casta privilegiada da sociedade, os políticos, Executivo e o Legislativo, só eles estão contentes com tudo isso, o resto da nação não.

Qual é a estratégia do Novo, lançar candidato próprio no primeiro turno mesmo o grupo do governador também tendo candidato? 

A política do Novo não está muito vinculada ao eu, mas ao nós. Se o partido entender que esse é o caminho, vamos continuar. Temos pautas que nos alinham muito ao governo atual e não podemos negar que temos um goiano com reais condições de ser presidente do Brasil; isso bem trabalhado, bem costurado. Antes de mais nada, sou goiano, faço tudo por Goiás e, principalmente, por Goiânia. Vamos apresentar nosso plano de governo, aliás, é o único partido que já tem um plano de governo estudado, porque há dois anos estudo política no Centro Livre T , em São Paulo. Sabemos a necessidade do município, todas as suas qualidades, suas deficiências, o que precisa ser feito. Eu desafio um candidato a prefeito de Goiânia que tenha esses dados e ao mesmo tempo ter as informações, a radiografia de Goiânia.

Diante das candidaturas de Ronaldo Caiado e de Romeu Zema a presidente, quem o senhor deve apoiar? 

Eu acho possível os dois caminharem juntos. Trabalho para isso. Gosto muito do Zema, mas eu sou goiano e não posso deixar de apoiar um goiano. Jamais. Principalmente um goiano que, de uma certa forma, tem feito um trabalho muito bom, tem dado orgulho aos goianos saber que estamos em um Estado mais seguro e com uma preocupação maior em atender as necessidades do povo. Isso tudo me sensibiliza e, como goiano, eu adoraria ter um goiano presidente da República, mas acho que  Zema e Caiado têm tudo para caminhar de mãos dadas. Minas, Goiás e São Paulo têm que assumir para si essa política nacional que tanto deu certo nesse país outrora.

Quais são os principais pontos desse plano de governo?

A minha obsessão é o ensino infantil, de zero a seis anos. Temos 7 mil crianças sem ter onde ficar, isso é inaceitável. Isso significa de 7 a 14 mil postos de trabalho que não estão produzindo. Porque se não tem onde deixar seu filho, você vai ficar com seu filho. E temos uma alfabetização que deixa a desejar, crianças chegam aos 10 anos sem saber ler e escrever direito. Queremos que a criança chegue aos 10 anos em Goiânia lendo, escrevendo, dominando o seu idioma e falando um segundo idioma porque queremos preparar profissionais para a geração futura, e isso não tem sido feito nos últimos 40 anos. Temos regredido nesse sentido e Goiânia não foge à regra. É impossível Goiânia não ter 100% do saneamento básico, isso é inaceitável. Goiânia representa quase 50% da receita da estatal Saneago e é um mau exemplo para o estado e para o país. Como uma cidade como Goiânia pode ter déficit habitacional? Toda vez que Iris Rezende assumiu a prefeitura, ele fez um assentamento. Hoje queremos fazer esses assentamentos de uma forma mais direcionada e em  todos os bairros de Goiânia e em todas áreas institucionais. Queremos que a pessoa trabalhe e more o mais próximo possível para que ela não tenha que pegar transporte público e, se tiver que pegar transporte público, será o melhor transporte público do Brasil, porque os corredores de transporte coletivo vão ter que ser respeitados. A cidade de uma certa forma carece de gestão e gestão é o que ofereço. Sou empreendedor há 50 anos, vim de Goiás para cá aos 14, aos 20 me fiz empresário e estou há 50 anos como empresário.

Qual a proposta do senhor para o déficit habitacional?

Facilitar ao máximo, desburocratizar ao máximo os interesses imobiliários  no sentido de atender a demanda. Como é possível a prefeitura não ser a maior imobiliária de uma cidade, sendo que ela que dita a política habitacional da cidade? Quem dita a política habitacional da cidade não é uma entidade que tem áreas para assentar toda a demanda da cidade. Não consigo entender. Como empreendedor eu vejo essas dificuldades e como o empreendedor é tratado como especulador, mas, na realidade, é ele que ajuda a resolver os problemas de Goiânia. Qual assentamento que Iris fez que não foi em conjunto com o setor imobiliário? Nenhum.  

O senhor está dizendo que em Goiânia não é o poder público que gere a política de habitação?

Não. Com o poder público que gera a política habitacional de uma cidade, não tem áreas para atender toda a demanda de déficit habitacional. Isso é inconcebível.

Não entendi quando o senhor fala que o empreendedor é tratado como especulador sendo que o setor imobiliário tem assento nas discussões dos planos diretores e código de posturas da cidade.  

Mas é uma questão de sobrevivência. A alíquota hoje chega a 5% do valor do bem. Quem vai especular com alíquota dessa? Eu sou economista, não existe essa hipótese. Eu participei do Plano Diretor de 88 e 92, após a Constituição, e aprovamos o imposto progressivo naquela época e que todos os loteamento tinham que ter infraestrutura total. Depois vieram as políticas populistas de alguns vereadores que estão aí para fazer loteamentos sem infraestrutura; foi quando Iris pegou essa bandeira e asfaltou todos bairros que não tinham asfaltamento. Goiânia não tem problemas crônicos de assentamento e não tem favelas expressivas porque o setor imobiliário sempre chegou junto com o poder público para resolver esses problemas. 

Mas o senhor concorda que há conflito de interesses entre o setor imobiliário e a gestão da cidade?

Lógico, porque um é  legislador e o outro quer empreender. É interessante que já colocamos as iniciativas imobiliárias diferenciadas para que a nossa cidade seja uma referência. Hoje, embora de forma tímida ainda, somos uma referência para o Brasil em termos de mão de obra. Olha quantos empregos o setor em Goiânia gera, chega a mais de 100 mil. É o setor que mais emprega, portanto, não tem como estar em desacordo com o poder público. Hoje em dia, não há como fazer o loteamento e esperar para que ele valorize, como foi o caso do Faiçalville e outros.  Porque o tributo sobre o bem é altíssimo, é impagável. Não tem porque especular.

Um prefeito do setor imobiliário não é conflitante, considerando esse conflito de interesses que o senhor até admitiu?

Ao contrário, só vai ajudar porque se militamos há 50 anos nesse setor, sabemos como resolver esse problema, sabemos como resolver o problema de saneamento básico, o problema do transporte, porque somos empreendedores. Temos que vender para alguém morar e se esse alguém morar, ele é que vai julgar. E se ele não tiver esses equipamentos, ele pode até suspender os pagamentos e desistir do negócio. Essa é a lei. A  vida do empreendedor tem que estar extremamente ligada aos interesses do município, porque, se não, não tem como andar.