A semana legislativa que antecede a prestação de contas pela Prefeitura de Goiânia deu o tom do discurso que os vereadores pretendem testar em uma Câmara Municipal com pouco espaço na gestão do prefeito Sandro Mabel (UB). E não precisou muito para definir a pauta: o próprio prefeito ditou os temas ao reforçar sua posição sobre a remoção de camelôs dos espaços públicos da capital e ao declarar que não pretende ir à Casa para prestar contas do último quadrimestre da gestão de Rogério Cruz (Solidariedade), alegando desconhecimento dos dados.
As falas de Mabel reverberaram no Legislativo. Na semana passada, logo após o Carnaval, os trabalhos foram retomados com debates em torno da sua primeira declaração, em que chegou a afirmar que não compareceria à Câmara. O recuo veio no dia seguinte, quando ele admitiu a possibilidade de ir, mas a resistência inicial evidenciou o distanciamento entre Executivo e Legislativo.
O prefeito, que assumiu o Paço com respaldo conquistado ainda na campanha eleitoral, tem optado por uma gestão mais centralizadora, deixando a Câmara sem protagonismo em algumas das principais decisões e com um espaço minguado.
O afastamento institucional está posto em um apagão de projetos de Lei por parte do Executivo e, também, nas indicações políticas. Nos bastidores, vereadores relatam dificuldades para emplacar aliados em cargos de supervisão nas unidades de saúde e em outras posições na administração.
Postura que destoa do tratamento dado pelo ex-prefeito, que compartilhou o governo com parlamentares e cedeu parte do primeiro escalão a vereadores aliados.
Já Mabel, em um dos primeiros movimentos que causou desconforto entre os vereadores, ofereceu um limite de R$ 30 mil em cargos para a base aliada e apenas R$ 15 mil para aqueles que votaram contra a Taxa do Lixo.
A decisão do prefeito de destinar, por decreto, R$ 190 milhões para a Comurg sem consultar a Câmara ampliou o mal-estar. Além disso, Mabel cortou cargos e gratificações dentro da companhia, o que gerou reações entre vereadores, incluindo o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), Luan Alves (MDB), que critica a medida em entrevista exclusiva à Tribuna do Planalto.
No meio desse cenário de distanciamento político, a Câmara buscou se colocar no debate público com a criação de uma comissão temporária para tratar da remoção dos camelôs das ruas. O tema foi pautado após a declaração de Mabel no dia 11, durante evento do Sindilojas-GO, em que garantiu que, a partir de 30 de março, os ambulantes não poderão mais atuar nos centros comerciais.
A movimentação do Legislativo foi impulsionada pela audiência pública realizada na segunda-feira (17), quando 350 trabalhadores lotaram o plenário para manifestar sua oposição ao plano da Prefeitura. O aluguel social proposto por Mabel foi rechaçado pelos camelôs, que alegam não haver qualquer negociação concreta com os proprietários das galerias.
Diante da insatisfação da categoria e da pressão sobre o Executivo, a Câmara tenta ocupar um espaço de mediação, mas esbarra em um governo que tem dado poucos sinais de que pretende dividir decisões.
Assim, o Legislativo segue modulando seu discurso à espera de Mabel. Seja para a prestação de contas ou para a discussão sobre os camelôs, ou, quem sabe, para uma maior abertura de espaços ao parlamento. A conferir nas próximas sessões.