Está tudo muito bom, está tudo muito bem. Estamos todos indignados com a baixaria no debate em São Paulo que resultou na cadeirada do Datena em Pablo Marçal. Todavia, contudo, entretanto:
1. damos audiência a debates de baixo nível e nenhuma atenção, achamos chato, eventos com candidatos que discutem temas relevantes como meio ambiente e justiça social;
2. pedimos ideias mas queremos mesmo é mais memes;
3. cobramos alto nível, honradez e espírito público dos políticos mas xingamos a mãe de quem apoia o adversário, trocamos voto por emprego e apoiamos quem atende nosso bem pessoal acima do bem coletivo;
3. condenamos Marçal e continuamos votando em Datena; condenamos Datena e votamos com júbilo em Marçal; condenamos tudo e todos, sem nos julgar;
5. não nos incomodamos com o fato de que responsabilizamos o outro sempre, e a gente, nunca, pela política e os políticos que temos.
Tá bom. Um tanto demagógico de minha parte dizer isso, reducionista, quem sabe, e até raso. Estamos entendidos? Então. Bem entendido.
O que aconteceu no debate está acontecendo o tempo todo. A novidade é a TV. A dúvida gerada, se o caso vai beneficiar Marçal – que se vitimou e faz uso político escrachado – ou se a Datena é que vai subir nas pesquisas.
Uma coisa ou outra está posta em um só ponto: o eleitor; o cidadão. Não depende de Marçal ou de Datena que a cadeirada renda votos ou indicação enviesada. Depende de mim, depende de você.
Tudo que Marçal tem feito é humano, e segue estratégia humana. Nada do que Datena mostra é fora de série. Ambos seguem o fluxo. Não há segredo: há persuasão e caráter. Método. Se o resultado é desumano, cabe a você escolher. Você decide. Está dentro de você o que eles são.
Bolsonaro não é extraterrestre. Marçal não é fruto de IA. A política não é mundo virtual, nem outra dimensão, metaverso, real reverso. Os extremos existem. Se procriam e se proliferam, de quem é a culpa? Quem alimenta o monstra? Quem ri e se diverte enquanto o ditador brinca é o fascismo deita e rola?
Você é melhor do que quem, mesmo? Somos Datena, Marçal ou a cadeira? A cadeirada nos representa de que maneira? Em tempos de muitas respostas e pouquíssimas (auto)perguntas, o meme já vem pronto: está no seu DNA.