Em plena campanha eleitoral para prefeituras, o governador Ronaldo Caiado (União Brasil) tirou uns dias de férias. Foi para a Grécia, onde o cantor Gusttavo Lima fará um megashow. A foto com os dois bem à vontade em um barca, um de bermuda e o outro de macacão colorido, é própria do mito em torno do descanso. Um luxo. Às barbas dos deuses.
Em Goiás, o clima é outro: mas que diabos o governador foi fazer no Partenon que não poderia fazer aqui mesmo no Parthenon Center, enquanto castelos de areia eleitoral apoiados por ele desmoronam a olhos vistos? Que recado ele quer passar? A quem? Vem bomba por aí, em operações, farpa novos ou articulações de bastidores capazes de abalar a terra do pequi desde as ruínas gregas?
Caiado, com mais de 80% de avaliação positiva ao seu governo, é tido desde o início do ano, quando acelerou-se o processo eleitoral, como o maior cabo eleitoral de Goiás. Aquele capaz de definir o jogo, mudar resultados. E tem agido assim, escolhendo candidatos em municípios-chave e se apresentando como fiador incondicional de candidaturas. Muitas vão bem, obrigado. Outras, em locais estratégicos como Anápolis e Aparecida de Goiânia, nem tanto.
O espanto com a ausência de Caiado produz dúvidas e certezas na mesma proporção, com as questões que levanta. Ele está lavando as mãos em alguns casos? Ele está mostrando descontentamento com ações de aliados? Ele está buscando apoio de Gusttavo para seus aliados? Ou ele está tentando conquistar Gusttavo para um projeto maior, o seu, como possível candidato a presidente?
A hipótese menos considerada é a oficial, a de que ele tirou uns diazinhos de férias em plena eleição. Ah, tem outro ponto em questão: ele saiu de fininho para não ter que receber em Goiânia, dia 6, o presidente Lula (PT), que chega com festa para inaugurar o BRT. Mas isso quase soa a provocação: Caiado se alimenta do enfrentamento com o petismo para subir no palanque nacional de nome posto na oposição para enfrentar justamente Lula.
A ideia de que Caiado está atrás de Gusttavo Lima porque Gusttavo Lima é o cabo eleitoral dos sonhos de qualquer político com projetos locais e um projeto nacional, é a que mais embala o imaginário no meio político. Caiado está atrás de um cabo eleitoral melhor que ele pra eleger prefeitos porque ele, sozinho, não chegou a tanto quanto era a expectativa dos aliados? Gusttavo Lima vai cumprir o papel que era previsto para ele?
Gusttavo Lima, bolsonarista conhecido, morador da beira da rodovia que liga Goiânia a Bela Vista, um deus sertanejo para fãs encantados de todo o País, será o novo Midas? Ao pé da letra da mitologia e dos acontecimentos históricos, seu apoio será redenção ou será maldição? O encanto de Caiado é com Prometeu ou com o que prometeu? Vale o mito de Medusa ou o do Romãozinho? Nada que não possa ser imaginado ao pé do fogão enquanto a pamonha não sai.
Enquanto corre solta a ilusão de ótica provocada pela ausência do governador em Goiás – já que ele segue mais presente do que quanto estava aqui em carne e osso -, as campanhas se viram na realidade. Caiado é o argumento de defesa de grande parte dos candidatos. Estes estão sofrendo. Quem sorri é quem nada espera do governador, a não ser isto: caos em sua base. Da Grécia para Goiás, o que vem é dúvida. O mito não é mais o mesmo. Os deuses não são infalíveis.
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