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Do pé ao prato perdem-se 30%


Avatar Por Redação em 20/07/2021 - 00:00

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Por Thiago Queiroz

O ministro da Eco­nomia, Paulo Gue­des, fermentou as críticas a ele ao declarar que o brasileiro, sobretudo a classe média, é adepto à cultura do desperdício, pois “enche o prato” e deixa “uma sobra enorme” de comida nas refeições. Ele falava em evento para membros da Associação Brasileira de Supermer­cados (Abras) sobre desperdício de alimentos nas cadeias de produção e distribuição até os supermercados.

À parte o tom político-ideológico da fala do ministro, as perdas de alimentos desde a lavoura até o prato são de aproximadamente 30%, em média, justamente num país em que 19 milhões de pessoas não sabem o que vão comer no dia seguinte e mais de 115 milhões estão em situação de insegurança alimentar, segundo dados do Inqué­rito Nacional sobre Inse­gurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasi­lei­ra de Pesquisa em Sobe­rania e Segurança Alimen­tar (Rede Penssan).

A situação é ainda mais grave para produtos altamente perecíveis, como os de hortifruti. “O alimento, desde que sai das mãos do produtor até chegar à ponta, que é a mesa do consumidor, passa por uma longa caminhada. Aqui, é o primeiro ponto, o de distribuição, do atacado”, explica Josué Lopes, gerente da Divisão Técnica das Centrais de Abastecimento de Goiás (Ceasa). Segundo ele, das aproximadamente 2,5 mil toneladas que chegam por dia para os distribuidores, 15 a 30 não saem rumo ao consumidor final. A Ceasa movimenta, mensalmente, 75 mil toneladas de hortifruti.

Como causas para esse descarte, o gerente explica que são desde excesso de oferta, proximidade do ponto ideal para o consumo, perda na qualidade até a aparência do alimento. “O produto é descartado, primeiramente, quando não tem interesse para o mercado. Aqui, tem-se uma linguagem que chama isso de ‘freio’, o produto ‘está freado’, não tem preço, pois impera a lei da oferta e procura.”

Josué exemplifica que determinado produto, quando tem oferta muito grande, se a venda está sendo praticada por um preço de R$ 30, às vezes, ele pode estar sendo ofertado a R$ 10 e ninguém compra, porque existe excesso. “Ele está em excelentes condições de consumo, mas ninguém compra, porque não vai vender, já tem demais lá nos supermercados”, observa ele.

A outra situação é quando o valor comercial foi perdido não pela falta de qualidade ou excesso de oferta, mas por ele estar muito próximo de passar do ponto ideal de consumo. Nessa situação, embora esteja perfeito em todos os aspectos, ele não vai suportar os manejos necessários e o transporte até que chegue às bancas de supermercados, feiras e frutarias.

Processos

Em toda essa cadeia em que se perde 30% do que é produzido, vários são os processos pelos quais passam os produtos e, também, os fatores que levam a esse desperdício. Ao serem colhidos, os alimentos são encaixotados de diferentes formas, a depender da sua classe e do grau de amadurecimento. Depois, o manuseio de carga; o transporte, que contribui para a desintegração física; novo manuseio de descarga na central de distribuição; carga feita pelo comerciante; mais um transporte até o estabelecimento comercial; outra descarga até que chega às mãos do consumidor.

Erike Ribeiro, que trabalha há três anos na Ceasa com carga e descarga, explica que em todo o entreposto o cuidado durante esses processos é muito cobrado pelos patrões, já que boa parte das perdas se dá neles. “Temos que ter todo o cuidado para não estragar nada, ainda mais as frutas. O patrão fica de olho”, diz, embora, segundo observa ele, o trabalho tenha de ser feito de forma rápida, para lutar contra outros fatores nocivos ao negócio, como o ponto final de amadurecimento.

Já nos supermercados, outra saga é enfrentada para diminuir as perdas até que seja vendido ao consumidor. Subgerente de uma unidade pertencente a uma rede de supermercados de Goiânia, Santino Vidal diz que a perda de frutas e verduras varia de 5,7% a 9%. Na unidade, são comercializadas, por mês, de 14 a 21 toneladas de hortifruti. Ele explica que a variação, além do comportamento do consumidor, se deve também ao clima, que interfere bastante. Em época muito seca, como agora, até outubro, os produtos murcham muito rápido. E no período de muita chuva eles apodrecem também mais rápido.”

Banco de Alimentos

Uma solução para amenizar o desperdício foi implantada na Ceasa, com o Banco de Alimentos. Nele são selecionados os produtos que estão em condições de consumo para serem doados a famílias carentes, entidades filantrópicas, igrejas, associações, creches e ONGs cadastradas. Das até 30 toneladas descartadas por dia, 3 estão em boa qualidade e vão para as doações.

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