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Entrevista | “Nessa gestão, vamos dar início a construção de 26 Cmeis”


Por Redação em 11/10/2021 - 00:00

O déficit de vagas na Educação Infantil é um dos desafios do secretário de Educação de Goiânia, que assumiu a pasta em março deste ano. Ele afirmou que as oito obras de creches paradas serão retomadas e outras 18 serão iniciadas. Outro desafio do gestor é a recuperação da aprendizagem perdida durante a pandemia, que inclui ações como o contraturno para os alunos com dificuldade. O secretário não é favorável à exigência de passaporte da vacina para os 3% dos profissionais da Educação que não se imunizaram.  Oriundo da rede privada – trabalhou na Pontifícia Universidade Católica de Goiás (PUC-GO) -, Bessa afirma que a educação pública traz mais responsabilidade.

Tribuna do Planalto – Como foi a transição da educação privada para a pública?

Wellington Bessa – Na iniciativa privada eu já exercia a gestão. Obviamente, que essa gestão é um pouco menos complicada, uma vez que as decisões são mais fáceis de serem tomadas e executadas por conta dos trâmites menos burocráticos. Na administração pública, a responsabilidade é muito maior porque envolve gerir o dinheiro do contribuinte e uma pasta que tem cerca de 108 mil alunos, que impacta diretamente na casa de 500 mil pessoas, se contarmos estudantes e familiares. A responsabilidade é muito grande. Mas a transição foi tranquila. Os princípios da gestão são a eficiência, a publicidade e a preocupação com o investimento público. Dentro do setor público não tem tempo de se preparar para poder engrenar. Tem que chegar, tocar a pasta, tomar decisões e nós conseguimos dar continuidade ao trabalho na área da Educação e o nosso objetivo principal era avançar nos principais programas e criar novos, porque a Educação de Goiânia precisava e precisa de um cuidado super especial.

Qual avaliação o senhor faz do nível de aprendizagem das crianças que estão retomando as aulas presenciais neste momento?

Nós tivemos um período de afastamento de quase um ano e seis meses, de março de 2020 até 16 de agosto de 2021, sem aulas presenciais. Embora tenham sido adotadas medidas para que conseguíssemos alcançar os alunos de maneira remota, sabemos da dificuldade que o nosso estudante da escola pública tem, especialmente para ter acesso aos meios telemáticos, computador e WhatsApp. Não conseguimos, nesse período, alcançar efetivamente o aluno. Temos um estudo que mostra que menos de 30% dos nossos alunos conseguiram ter acesso a todos os conteúdos e a dificuldade de acesso traz consigo essa defasagem de aprendizagem. A primeira preocupação nossa era saber o quão prejudicial tinha sido esse período de afastamento das aulas presenciais. Procedemos uma avaliação diagnóstica de todos os alunos e essa avaliação apresentou uma defasagem de aprendizagem, mas não foi tão significativa ou tão absurda como poderia ser em razão desse um ano e meio de afastamento e considerando que trabalhamos com a Educação Básica. Temos alunos do 1º ano que estão sendo alfabetizados e ficaram todo esse tempo sem aula presencial. A análise diagnóstica apontou que esses alunos foram prejudicados, não só em Goiânia, mas no mundo, mas essa defasagem deve ser recuperada e para isso adotamos alguns programas.

Essa avaliação possibilitou perceber o nível de defasagem em comparação com outras redes de ensino?

Nós temos os dados de todas as disciplinas e utilizamos como comparativo o Ideb (Índice de Desenvol­vimento da Educação Básica). Obviamente, os índices foram um pouco abaixo do nosso desempenho na avaliação anterior, o que demonstra essa defasagem. Nós sabemos que essa é a primeira avaliação e acredito que essa defasagem será melhor detalhada no Ideb deste ano.

Qual foi a metodologia utilizada pela secretaria?

A metodologia que aplicamos foi muito próxima da adotada pelo Ideb e teremos a Prova Brasil no mês de novembro, e, assim, teremos uma análise mais ampla no âmbito do estado e do Brasil. Essa defasagem deve impactar nessa avaliação e estamos trabalhando para atenuar isso. Foi um ano e meio sem aulas presenciais em uma fase em que a criança precisa ter suporte presencial. Criamos programas, maratona de conhecimento, aulas em contraturno, programas e sistemas para auxiliar o professor e o aluno, para que possamos recuperar o aprendizado. E iremos avançar no próximo ano. Nós não podemos olhar para trás. Agora é analisar esses dados e verificar a possibilidade de avançar na aprendizagem. Já estamos com um planejamento muito próximo de ser concluído para começar em janeiro, além das ações de 2021.

Quais medidas foram ou serão adotadas para cada fase da Educação Básica?

Nós demos foco ao ensino da Língua Portuguesa e Matemática, dando ênfase também à alfabetização. Fizemos parcerias com o estado e com órgãos do setor público para auxiliar na fase de alfabetização e ampliamos o horário de aula desses alunos.

O contraturno é para quais alunos? É voluntário?

Para todos e não é voluntário. Temos um programa em que o professor fica no período do contraturno para acompanhar aqueles alunos com defasagem. O Aten­dimento Escolar Ampliado (AEA) foi criado para esses alunos que estão com dificuldade para complementar esse aprendizado e para que o professor possa ajudá-lo nessa recuperação.

Mas a rede está com déficit de professores em sala de aula. Como estão conseguindo implementar a AEA?

Nosso quadro de professores está completo, mas o problema é que estamos com um volume muito grande de afastamento por motivo de doença. Dos cerca de 2,1 mil servidores que estão de licença, cerca de mil são professores. Esse afastamento gera problemas em algumas instituições. Esse número é muito alto em comparação com a série histórica e esses professores, ao saírem, aumentam a carga de trabalho e a dificuldade de colocarmos mais profissionais na rede. São 2 mil profissionais da Educação em um universo de 18 mil.

Esses afastamentos estão relacionados à Covid-19?

Por incrível que pareça, não. Dos quase 2,1 mil, tínhamos 140 servidores afastados por motivos de Covid, mas não todos infectados; com suspeitas, pessoas que tiveram contato com outras contaminadas e têm que ficar em quarentena.

Durante a retomada das aulas presenciais, a secretaria teve que voltar atrás e fechar alguma unidade?

Não, a retomada foi muito tranquila. Nós voltamos em um período muito complicado, mas acreditávamos que era necessário o retorno às aulas e sabíamos da dificuldade. No início, muitas pessoas ficaram com receio, muitas pessoas criticaram – os sindicatos, por exemplo – dizendo que o retorno estava sendo precoce. Nós estávamos diante de uma situação muito delicada: de um lado, o direito à Saúde e, de outro, o direito constitucional à Educação. E a falta de aula presencial é também questão de saúde pública, porque trata dos cuidados com a higiene, com a alimentação. Muitas crianças têm na escola sua melhor alimentação. No retorno, tivemos alguns casos de sala de aula que tivemos que isolar, casos de servidores com atestado que nos obrigou a alterar o calendário de retorno. Mas foram problemas pontuais  e muito pequenos, considerando o bem muito maior que foi o retorno às aulas no mês de agosto. O retorno foi muito exitoso e a realidade nos mostra que foi muito acertado. Tanto que as pessoas querem que se aumente o percentual de alunos dentro de sala de aula, que é de 50%.

Em relação à vacinação dos professores, quantos não se vacinaram e como a secretaria está lidando com essa resistência?

Foram disponibilizadas primeira e segunda doses para 100% dos profissionais e 97% foram imunizados. Têm alguns profissionais que não tomaram a vacina e eles não estão livres de pedidos de apresentação de PCR negativo. Nós não podemos obrigá-los a tomar a vacina, mas podemos pedir que realizem a testagem para que demonstrem que não estão infectados.

Há possibilidade de se exigir o passaporte da vacina na Educação?

Eu entendo que é difícil um cenário desse em um serviço essencial e de um direito universal, que é a Educação. Eu não tenho acompanhado essa discussão na Câmara nem no estado, mas talvez não possamos conjugar essa ideia.

Em relação ao déficit de vagas nos CMEIs, como a prefeitura está lidando com uma fila de espera de 5 mil crianças?

A solução para isso é criar novas instituições. Este ano, entre abril e junho, já criamos cerca de 3 mil vagas em CMEIs em unidades próprias e iremos entregar duas unidades este mês, o CMEI Ceasa e CMEI Dom Antônio Ribei­ro, na Praça Univer­sitária. Temos hoje oito obras paradas do FNDE (Fundo Nacional do Desenvol­vimento da Educação), que vamos retomar na gestão do prefeito Rogério Cruz e que vão gerar cerca de 1,2 mil vagas. Duas serão concluídas pela prefeitura e seis terão que ser licitadas novamente. Além disso, já inscrevemos no Plano de Ação Articulada do FNDE seis novas obras padrão FNDE, já temos projetos prontos de 12 novas obras de creches a serem construídas com recursos próprios e estamos com dois projetos de escola de tempo integral Padrão Século XXI para mil alunos. Só de CMEIs são 26 a serem construídos.

O critério utilizado pela prefeitura para destinar as vagas nos CMEIs é priorizar mães trabalhadoras e famílias que recebem o Bolsa Família. Apenas 20% atende a população em geral. Considerando que se trata de um direito de todas as crianças, não é injusto esse direcionamento das vagas?

Eu não digo injustiça porque sabemos das dificuldades das mães trabalhadoras e da necessidade social das famílias que recebem o Bolsa Família. Em alguns casos, esse percentual de vagas reservado acaba por deixar vagas ociosas. Tem alguns CMEIs que não têm essa demanda. Em alguns casos, esse percentual se mostra equivocado, não por ser injusto, mas por não termos naquela região esse quantitativo. Estamos estudando o redimensionamento desses percentuais. Iremos assegurar vagas para as mães trabalhadoras, assim como para aqueles que têm Bolsa Família, e as vagas não utilizadas serão remanejadas para a lista geral.

Quando o prefeito Rogério Cruz convidou vereadores para compor o Executivo isso foi visto como uma forma de garantir apoio da maioria na Câmara. Como se deu o convite ao senhor para assumir a Secretaria de Educação?

Quando o prefeito me chamou para conversar ele analisou meu perfil de gestão, a minha postura e o meu histórico. Essas suposições de que foi troca por apoio sempre existiram na política e sempre vão existir. Se essa versão fosse verdadeira teríamos diversos vereadores na condição de secretários e não foi isso que vimos. O prefeito escolheu o seu secretariado de acordo com o seu perfil e de acordo com o que ele entendia ser viável para tocar as respectivas pastas.

O senhor não concorda que esse movimento do prefeito, que abriu cargos e indicações para vereadores, tem reflexo nessa condição que se encontra a Câmara, com apenas dois vereadores de oposição? Essa relação da Câmara com o Executivo pode ser considerada saudável do ponto de vista republicano?

A opção dos vereadores foi baseada na postura do prefeito Rogério Cruz, um vereador de dois mandatos, conhecido na Câmara por ser ponderado, extremamente inteligente e capaz. Ele goza de credibilidade por parte dos vereadores. O que fez os vereadores apoiarem a gestão é a possibilidade de construírem junto com o prefeito uma nova história para Goiânia. Porque, para o vereador, é muito mais importante ter o seu bairro bem cuidado, ter uma praça construída na sua região, ter um prefeito andando na sua região, ter o apoio do prefeito do que ter cargo. Reduzir esse apoio a cargos é um pecado, porque o prefeito, com o apoio dos vereadores e os vereadores com apoio do prefeito, tem a possibilidade de realizar uma excelente gestão.

Mas essa relação de proximidade não reduz a capacidade de o vereador avaliar criticamente a gestão do prefeito?

Eu não acredito que isso tenha o condão de macular a opinião ou de induzir opinião de algum vereador. A campanha eleitoral é muito difícil, especialmente para vereador. O vereador conhece a dificuldade para se eleger e ele tem consciência de que o mandato tem que ser utilizado com muita sabedoria. Seria limitar a capacidade e até mesmo a legitimidade desse representante do povo.

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