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Entrevista | “Se não tiver um candidato contra Caiado, eu topo ser”


Avatar Por Redação em 28/11/2021 - 00:00

“Eu não apoiei a candidatura do Bolsonaro, eu votei nele. Acho que o governo federal tem bons ministros, a de Agricultura e o de Minas e Energia. Agora, o estilo de Bolsonaro é completamente doido”. Foto: Tribuna do Planalto

Crítico da gestão do governador Ronaldo Caiado, o presidente da Fieg se desfiliou do MDB no momento em que o presidente da legenda, Daniel Vilela, decidiu se aliar ao DEM e ser vice na chapa à reeleição do governador. Ele é considerado um dos articuladores da candidatura do prefeito de Aparecida de Goiânia, Gustavo Mendanha ao governo. Mas afirma que apoiará qualquer candidatura de oposição que se mostrar viável. Caso a oposição não tenha um nome com potencial para concorrer com Ronaldo Caiado, Sandro Mabel está disposto a colocar o próprio na disputa.

TRIBUNA DO PLANALTOO senhor se desfiliou do MDB junto com Gustavo Mendanha e é um entusiasta da candidatura do prefeito de Aparecida de Goiânia ao governo de Goiás. Por quê?

 

 SANDRO MABEL – Eu sou entusiasta da candidatura do Gustavo porque acho que ele já aprendeu a fazer gestão e é um menino que tem uma visão boa da administração pública e, sobretudo, sempre decidiu as coisas conversando com todo mundo, tem essa capacidade de escutar as pessoas para decidir. Na pandemia, ele não fechou nenhum dia; usou aquele sistema israelense. Para decidir, ele chamava todo mundo, padre, pastor, empresário, comerciante, juiz, promotor e o secretário de Saúde passava as informações sobre a situação. Não era ele que decidia, era esse comitê. E não faltou leito e se tivesse atendido somente a população de Aparecida teria tido uma média de ocupação de 65% da capacidade. Ele é um gestor bom, moderno e já fez gestão, diferentemente de [Ronaldo] Caiado, que nunca administrou nada e toma decisões unilaterais, sem conversar com a indústria e com o comércio.

Para sair candidato, Gustavo Mendanha precisa se filiar a um partido. Na opinião do senhor, em qual legenda ele deve se filiar? 

O estilo do Gustavo é diferente, ele conversa com as pessoas. Essa decisão não vai ser tomada agora, vai se construir e está se construindo. Tem que construir a chapa: quem vai ser o vice? E o senador, quem que vai ser? Caiado deu um tiro no pé quando convidou o MDB. Ele acha que fez uma grande coisa, mas não fez. Veja o tanto de problema que está enfrentando.

Sobre a aliança do MDB com o DEM, e que o levou a deixar o partido, qual o senhor acha que foi o prejuízo do MDB? 

Perdeu a oportunidade de fazer o próximo governador. Daniel [Vilela] foi egoísta quando quis ser candidato a governador na eleição passada. Nós falávamos para ele ser vice na chapa do Caiado: ‘não é sua vez, Caiado vai ganhar essa eleição, não faça isso’. Agora, que o MDB tem chance, ele quis ser o vice de todo jeito. O que está acontecendo com o partido? Está destruindo o partido. O MDB não fez nenhum deputado federal na eleição passada, fez três deputados estaduais, só tem dois e vai perder mais um. Ele conseguiu destruir o partido.

O que mudou da eleição de 2018 para a de 2022 que tornava, naquele momento, interessante Daniel ser vice de Caiado e, agora, já não seria interessante para o partido? 

Em 2018 era clara a vitória de Caiado; era a vez dele. Como foi a vez de Jair Bolsonaro, como foi a vez de um monte de deputado que ganhou naquela onda. As pesquisas mostravam isso. Não era hora dele. Daniel deveria ter sido vice, ter entregue o partido para alguém tomar conta, mas não entregou, quis tomar conta e ser candidato; tudo junto. Agora, ele não assegurou a vice. Ele foi de vice porque temos um candidato muito mais forte, que é o Gustavo, e Caiado só aceitou Daniel para ‘quebrar as pernas’ do Gustavo. Só para isso. E eu tenho dúvida que Caiado fique com Daniel, que não o troque na reta final. Era Lissauer [Vieira] que seria o vice e ele aprovou tudo que Caiado queria e, de repente, ele chamou Daniel [para a vice], que era inimigo do Lissauer.

Em relação às alianças a serem feitas visando uma eventual candidatura de Gustavo Mendanha, quais partidos podem vir a compor essa aliança? 

Hoje, Gustavo tem uns oito partidos que vêm com ele, de sete a oito partidos. A discussão sobre o candidato a vice, a senador e partidos estamos fazendo todos os dias e passa por uma série de outros acordos. Estamos conversando, da esquerda e da direita, com todo mundo. A pesquisa mostra para nós que, de agosto para cá, Caiado tinha 45% e passou para 41%, e Gustavo tinha 19% e foi para 34%. Telefone desconhecido eu não atendo mais porque é vereador do interior, ex-deputado, ex-prefeito pedindo para colocar em contato com o Gustavo para fazer frentes para o Gustavo. Hoje tem candidatos a presidente da República que tem interesse na candidatura de Gustavo.

A presidente do PL goiano, deputada federal Magda Mofatto demonstrou interesse em apoiar a candidatura de Gustavo Mendanha. Mas o PL deve abrigar o presidente Jair Bolsonaro. O senhor considera viável a aliança com o PL? 

Essa avaliação estamos fazendo com pesquisas qualitativas e não decidimos nada no grito, mas conversando com um grupo que a gente tem, com pesquisa, analisando o que que acontece e vendo os movimentos. Nessa pesquisa, por exemplo, Gustavo tem 5% de rejeição.

Mas não é porque ele é um nome desconhecido no estado? 

Não é conhecido, mas tem 34% de intenção de voto.

Não pode ocorrer com Mendanha o mesmo que se deu com Vanderlan Cardoso, um prefeito de uma cidade da Região Metropolitana de Goiânia bem avaliado, mas que não tinha a capilaridade necessária para disputar uma eleição para governador? 

Tinha Marconi [Perillo] quando Vanderlan foi candidato. Ele tinha um monte de problemas, mas tinha também aceitação. Marconi é uma máquina de fazer política, é um animal político. Ele vende e compra todo mundo que pode. Já o Caiado não conversa com ninguém. Não existe amor como existia pelo Marconi. Eu acho que pode perder porque uma máquina de governo é uma coisa muito forte, mas quem dirige a máquina é ruim de serviço.

Sobre o PSDB, o senhor trabalha com a possibilidade de o partido compor a aliança da candidatura de Gustavo Mendanha? 

As conversas com a maioria dos partidos é uma só: todo mundo quer derrotar o Caiado. Tem uns que acham que não é hora de juntar porque pode atrapalhar a candidatura de um ou de outro; tem outros que acham que é hora de juntar. Pode ser que lancem uma candidatura, não a candidatura do Marconi, porque acho que ele não será candidato a governador, mas o PSDB pode lançar uma candidatura e essa ser uma estratégia boa também. É o que está se conversando. Aqui, nós estamos ficando roucos de tanto conversar.

Nós quem? Já existe um grupo atrás da candidatura de Gustavo Mendanha? 

O cara que conversa mais é o Gustavo mesmo. Ele adora conversar, tem paciência, sabe planejar, sabe deixar uma expectativa ao mesmo tempo que não promete o que não vai fazer. Ele é a figura principal da conversa. O que a gente faz – no meu caso, eu estou fora da política – é criar condições que ele não tinha. Ele não tinha, por exemplo, conversa com Waldemar [Costa Neto], do PL; não tinha conversa com Ibaneis [Rocha], e eu tinha. Mas a conversa daí para frente é dele, a estratégia é dele. Ele tem a turma dele, que sempre o acompanhou politicamente, que está conversando. Quando vêm as pesquisas, a gente dá um palpite, mas ele tem luz própria e sabe bem o que ele quer. Essa troca de ideias que vai montando esse xadrez. Ele tem paciência. 

Na oposição, Jânio Darrot, do Patriota, lançou a pré-candidatura ao governo; o PSDB anunciou que deve ter candidato; e a candidatura de Gustavo Mendanha. Na avaliação do senhor, qual a melhor estratégia: unir primeiro turno ou ter dois ou três candidatos de oposição? 

Acho que teremos um arranjo com alguns partidos já no primeiro turno e outros já saem com arranjos para o segundo turno, mas no primeiro turno ajudam em algumas estratégias.

O senhor falou que está fora da política, mas está articulando politicamente. Qual será a participação do senhor na próxima eleição? 

Zero. Não quero participar de nada. Estou cuidando da Fieg (Federação das Indústrias do Estado de Goiás).

O senhor não será candidato em 2022? 

Não. Nem a síndico do prédio. Eu só sairia candidato se o Gustavo não saísse e não tivesse alguém que tivesse tamanho para sair. Se não tiver um candidato para sair contra o Caiado, eu toparia. Se o Gustavo não for candidato, mas o Jânio Darrot tiver viabilidade, vamos embora. Mas se não tiver quem enfrente, eu toparia enfrentar. Fora isso, nem passo perto.

O senhor tem feito críticas ao governador Ronaldo Caiado em relação à cobrança do ICMS dos combustíveis. Ele e outros governadores afirmam que pouco podem fazer em relação a isso e chegaram a congelar o valor referencial de cobrança em R$ 6,55, mesmo assim o combustível aumentou o preço na bomba. O senhor continua responsabilizando os estados pela alta do combustível? 

Pela alta do combustível, não, mas poderia dar uma reduzida. Se eu fosse governador e, no meu orçamento, tivesse um recolhimento de R$ 1 bilhão de ICMS do combustível e o combustível subisse 60%, eu não recolheria os R$ 600 mil dos 1,6 bilhão que poderia recolher. A Petrobras recebe R$ 2,33 no litro do combustível e o distribuidor precisa ter a margem dele, que já foi de 19%, 20% e, hoje, por causa da concorrência, não passa de 8%, 9%. Quando chega no governo não tem concorrência; impõe uma lei e recolhe.

Henrique Meirelles, em entrevista ao Tribuna do Planalto, disse que quem está faturando muito com a alta do combustível, além do estado, é a União e a própria Petrobras. E que, ao congelar o ICMS, os estados deram a contribuição deles e que a União e a Petrobras devem repetir o gesto. O senhor não concorda com Henrique Meirelles? 

É a opinião de quem está defendendo o governo Caiado, porque ele pretende ser senador na chapa do Caiado. Na pesquisa para senador ele é o nome mais bem votado. 

É também o mais conhecido, já foi candidato a presidente da República. 

Se fosse por conhecimento, Marconi sairia lá na frente. E a rejeição a ele é super baixa.

O senhor sugeriu que o presidente Jair Bolsonaro substituísse o ministro Paulo Guedes pelo Meirelles. O setor produtivo já não apoia Guedes? 

Guedes não tem respaldo nacional nem internacional. Veja o governo Temer, eu que indiquei Henrique Meirelles lá – Temer não queria. Depois, vem agradecer todos os dias eu ter indicado Henrique Meirelles. Virou best friend do Henrique Meirelles. Ele é muito bom, tem o mercado internacional, interno, externo, os caras sabem que ele é do mercado, não joga de qualquer jeito. Guedes, um dia fala uma coisa, outro dia fala outra, é uma confusão que não tem tamanho. Eu continuo trabalhando para substituí-lo.

Mas como é sua relação com o presidente? 

Ele escuta, não emite uma opinião que sim ou que não, mas escuta. Ele me perguntou se Henrique Meirelles toparia.

O PIB consolidado em Goiás, em 2019, foi quase o dobro do registrado pelo Brasil. O nacional cresceu 1,2% e o de Goiás, 2,2%. A indústria foi a que mais cresceu. Vinha de um PIB negativo, em 2018, de -1,2% e foi para o positivo, de 2,9%. Qual a participação do governo e da indústria por si só nesse resultado? 

As categorias que cresceram. Se a indústria dependesse do governo Caiado para crescer,estaria morta. Ano passado, crescemos 2,9%, mas crescemos porque brigamos e conseguimos manter as indústrias abertas na pandemia. O pessoal da agricultura também fez o trabalho deles. Um erro enorme é deixar exportar tudo a granel. As indústrias de etanol de milho deveriam se instalar em Goiás, mas não acharam eco aqui e foram se instalar em Mato Grosso. Elas vão processar 4 milhões de toneladas enquanto Goiás processa 400 mil. Mato Grosso do Sul vai passar Goiás, tanto na produção como na industrialização. A Caramuru, maior processador de milho, montou um porto para exportar 5 milhões de toneladas de milho. Não vai ter milho para processar na fábrica dele.

Qual a avaliação que o senhor faz do governo Bolsonaro? 

Eu não apoiei a candidatura do Bolsonaro, eu votei no Bolsonaro. Acho que o governo federal tem bons ministros, a ministra da Agricultura [Tereza Cristina], de Minas e Energia [Bento Albuquerque], vários bons ministros. Agora o estilo dele é completamente doido. Mas se não fosse o Bolsonaro estaríamos hoje caminhando para ser uma Argentina. Bolsonaro veio em uma boa hora em função disso e deu uma equilibrada nesse jogo que estava totalmente de esquerda.

Quais são as perspectivas do setor produtivo para a eleição do ano que vem? 

Eu acho que a eleição está polarizada, mas tem uma chance de ter a terceira via. Sérgio Moro, aqui em Goiás, tem 9%. É um número importante. João Dória vai largar o segundo orçamento do país para disputar a eleição presidencial . Deve ter pesquisas que o levam a entender que a terceira via tem chance. A eleição está extremamente polarizada, porém essa polarização pode dar chance para uma terceira via.

O senhor defendeu o tratamento precoce contra a Covid-19. Qual a opinião sobre o uso desses medicamentos hoje? 

Eu defendo até hoje. Se tivessem aplicado o tratamento precoce não teríamos metade das mortes que tivemos. O pessoal dizia que o tratamento precoce não curava; não cura mesmo. Mas baixa a carga viral e dá tempo para o corpo reagir à entrada do vírus. Ele ajuda o corpo a reagir. Eu tomei quando suspeitei que estava com Covid, dei para minha mulher, para o filho, para todo mundo que estava com isso. Não tivemos nenhum tipo de problema. Na nossa indústria, dos que tomaram não teve nenhum internado. Dos que não tomaram tivemos vários. Lá na federação foi a mesma coisa. Nós implantamos lá um tratamento precoce com uma médica que atendia com a visão de tratamento precoce.

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